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Guitar Hero Live

Rodrigo Lara

Do Gamehall

19/02/2016 14h35

É bastante provável que o jogador que acompanhou os jogos da franquia "Guitar Hero" acabe ficando com uma sensação mista após experimentar por algumas horas o novo jogo da série, "Guitar Hero Live".  Também não será nenhuma surpresa caso alguns questionamentos como "estou velho demais para isso" ou ainda "acho que perdeu a graça" também passem pela mente. Caso isso tenha acontecido com você ao experimentar o game, não estranhe. É perfeitamente normal e o sintoma tem uma (provável) explicação.

No caso do mundo da música, fãs mais assíduos de determinada banda também costumam ser "chatos" com os rumos que os músicos tomam ao longo de sua carreira, tendendo a comemorar quando um novo álbum lançado recebe alguma alcunha como "retorno às origens". Considerando a franquia "Guitar Hero" como uma banda, seria possível dizer que "Guitar Hero Live" seria esse tal álbum.

Esqueça os múltiplos instrumentos lançados juntamente com "Guitar Hero World Tour": a história aqui se resume ao guitarrista virtual e sua guitarra de plástico. Também é possível cantar utilizando um smartphone, mas essa função é praticamente cosmética. 

Esse retorno aos "velhos tempos", porém, ocorre apenas em tese. E um dos maiores trunfos do título, que é sua guitarra reformulada - e falaremos dela logo mais -, também é um dos principais culpados. No final das contas, "Guitar Hero Live" passa a mesma sensação que teríamos se os Ramones decidissem lançar um álbum de rock progressivo: por melhor que fosse, ainda assim, seria estranho.

Mais real é melhor?

Começamos falando sobre a nova guitarra. Ao invés de adotar os já conhecidos cinco botões coloridos, o acessório agora se aproxima de um instrumento de verdade. A parte inicial do braço é dividida em duas fileiras horizontais contendo três botões em cima e três na parte de baixo. Em um primeiro momento, a nova disposição dos comandos soa como um facilitador: o jogador precisa mover menos a mão ao longo do braço do instrumento. 

Outra vantagem é que, nesse formato, os comandos são acionados de maneira mais realista, uma vez que o desenho dos acordes acaba sendo similar ao encontrado em uma guitarra de verdade. Tanto os botões quanto a barra que faz o papel de cordas, a haste de metal que emula a ponte móvel de um instrumento e os demais comandos estão posicionados de maneira ergonômica, evitando que sejam necessários malabarismos para, por exemplo, acionar o Hero Power, que garante poderes especiais como retirar todas as notas exibidas da tela, entre outros.

A disposição mais realista, contudo, tornou a curva de aprendizado do game um tanto mais íngreme. Se antes era possível ligar o jogo em uma festa e os aspirantes a estrela do rock eram capazes de dominar as funções do controle em poucos minutos, com a nova guitarrinha isso já não acontece. Até mesmo veteranos do game sentirão dificuldade em suas primeiras músicas.

Outro ponto que torna as coisas mais difíceis é a representação das notas na tela. Se o formato por cores se mostrou bastante adequado para o título, o atual é menos intuitivo. Desenhos que lembram uma palheta correm pela tela em três linhas. Quando apontam para cima, os símbolos são na cor preta e indicam os botões superiores da guitarra. Já quando demandam uma nota da parte inferior, eles apontam nessa direção e são brancos. Há ainda os quadrados pretos e brancos, que indicam que notas verticalmente adjacentes deverão ser pressionadas em conjunto e uma linha, que exige que o jogador apenas use a barra horizontal sem nenhuma nota pressionada. Parece complicado. E é.

Além das guitarras, há também a possibilidade de cantar as músicas, permitindo que mais pessoas participem da brincadeira. Isso pode ser feito de duas formas: utilizando um aplicativo do próprio jogo para smartphones ou com um microfone USB conectado ao console. O lado ruim: o aplicativo só está disponível para iOS e não funciona na versão do game para Xbox 360.

Ecletismo à toda

Ao contrário de outros games da série, "Guitar Hero Live" possui uma lista de músicas bastante eclética. Não estranhe, portanto, se alguém montar uma sequência com System of a Down, Katy Perry e Rihanna. É, provavelmente, um esforço da produtora Freestyle Games em atrair jogadores além das fronteiras do rock. Novamente, os fãs mais antigos da série deverão achar uma opção esquisita e mais próxima de games como "Just Dance".

A progressão do jogo também está diferente. São dois modos principais, sendo que o "Guitar Hero Live" faz com que o jogador faça parte de uma das bandas fictícias do jogo e toque em festivais. O foco, nesse caso, são os shows ao vivo. Já o "GHTV" é um serviço que permite que o jogador toque qualquer uma das músicas do game - mediante gastar os créditos obtidos no jogo - e também entre em determinados canais e toque uma lista definida pelo game. É também o modo no qual as microtransações do jogo estão presentes e o guitarrista virtual poderá adquirir, por exemplo, novos shows mediante pagamento. 

Se o "GHTV" é um dos modos que deverão ser mais utilizados devido à liberdade para escolher o que tocar e também por ser onde há uma tabela de pontuação que pode ser comparada com outros jogadores, ele também apresenta limitações. A principal delas diz respeito ao fato de que todas as músicas desse modo seguem videoclipes ao fundo que são transmitidos via streaming. Ou seja: oscilações no sinal de Internet afetam diretamente a experiência do jogador.

Ambos os modos têm uma curiosidade: é impossível que o jogador "perca" no decorrer de uma música. Por pior que seja o desempenho, o máximo que acontecerá é obter uma baixa pontuação no modo "GHTV" ou então, no "Guitar Hero Live", fazer com que seu personagem seja cobrado pelos outros integrantes da banda e vaiado pelo público. Se a decisão dos desenvolvedores evitar frustrações, ela pode não agradar quem está em busca de competição.

Investimento alto e arriscado

Comprar um jogo como "Guitar Hero Live" ou ainda seu principal concorrente, "Rock Band 4", acaba sendo uma tarefa um tanto complicada e que demanda algumas escolhas do jogador. Levando em consideração o aspecto social desse tipo de game, a opção mais sensata parece ser "Rock Band 4", que é capaz de agregar mais pessoas à jogatina e, ainda de quebra, funciona com os instrumentos dos jogos anteriores.

Já aqueles que, ainda assim, optarem por "Guitar Hero Live" encontrarão um game refeito e com uma nova abordagem e um acessório mais próximo do que seria uma guitarra de verdade. A proposta, contudo, parece um pouco limitada se considerarmos que, no Brasil, o game (com versões para PlayStation 3, PlayStation 4, Xbox 360, Xbox One e Wii U) é vendido por preços entre R$ 450 e R$ 600. 

Nota: 7 (Bom)