Assassin's Creed Syndicate

Com "Syndicate", a Ubisoft colocou "Assassin's Creed" no caminho certo, entregando um dos melhores games da série em muitos anos. O jogo traz personagens envolventes, uma boa história, missões bastante diversificadas e uma ambientação incrível para explorar. Mais importante, "Syndicate" traz mudanças cruciais para mecânicas fundamentais de "Assassin's Creed", como movimentação e furtividade.

Para os jogadores brasileiros, o game conta com uma boa dublagem em português, mas também dá a opção (cada vez mais rara) de trocar o áudio para o inglês e deixar menus e legendas em nosso idioma. Essa é a melhor forma de curtir o jogo, sem sacrificar o entendimento nem perder os diferentes e peculiares sotaques dos personagens, que agregam muito à ambientação.

Introdução

"Assassin's Creed Syndicate" se passa em uma recriação de Londres, na Inglaterra Vitoriana. Ambientado em 1868, em plena Revolução Industrial, o jogo conta a história dos gêmeos Jacob e Evie Frye, dois Assassinos recém-chegados à capital do Império Britânico, e de sua luta contra os Templários liderados por Crawford Starrick. "Quem controlar Londres, controlará o mundo".

Para enfrentar os templários - e seus capangas, a gangue conhecida como Blighters - os assassinos fundam sua própria gangue e se metem em muitas aventuras, ajudando figuras histórias como Charles Dickens, Darwin e Graham Bell, ora salvando crianças das terríveis condições de trabalho nas fábricas da época, além de procurar relíquias do passado e disputar territórios com gangues rivais.

Pontos Positivos

Desde Ezio Auditore que a série "Assassin's Creed" não tinha protagonistas tão bons. Jacob e Evie são carismáticos e adoráveis, cada um do seu jeito. Você provavelmente acabará elegendo um favorito, mas é a dinâmica da dupla que destaca a personalidade de cada um dos irmãos.

Durante todo o jogo você verá os irmãos discutindo sobre o verdadeiro significado de ser um Assassino e discordando sobre as estratégias para vencer os Templários. Jacob é um cara durão e sempre pronto para entrar em ação sem pensar nas consequências. Evie é mais intelectual e prefere explorar os mistérios do Éden enquanto o irmão lidera a gangue Rooks pelas ruelas de Londres.

Não pense que Evie é personagem secundária, entretanto. Ambos têm o mesmo destaque no game e se ela não é tão chegada em pancadaria descerebrada, é porque prefere ataques cirúrgicos e precisos contra os templários e seus asseclas. Evie Fryes é a melhor personagem feminina que "Assassin's Creed" já teve.

Ao longo do game, há missões específicas para cada um deles e outras que você pode escolher quem controlar. Quando está explorando livremente a cidade, pode trocar entre eles a qualquer momento.

A recriação da Londres Vitoriana é fantástica. A metrópole, que naquela época governava quase todo o mundo (dizia-se que "O Sol nunca se punha no Império Britânico", tamanha a área dominada pela Inglaterra), pode ser explorada em toda sua extensão, desde os becos imundos e violentos de Withechapel e o congestionado rio Tâmisa até a belíssima área palaciana onde vive a família real. Subir pela primeira vez no Big Ben ou "sincronizar" o cenário do alto da catedral de Westminster são experiências que colocam um sorriso no rosto de qualquer fã de "Asssassin's".

A cidade é enorme e cheia de colecionáveis escondidos, baús espalhados (que não exigem nenhum tipo de aplicativo online para serem abertos) e missões secundárias. Essas missões são classificadas por nível, mas surgem no caminho do jogador de forma orgânica e muito agradável. Com a movimentação facilitada pelo arpão, é sempre tentador desviar do caminho de uma missão principal para 'ir ali do lado' assassinar um alvo templário, por exemplo.

Essas missões paralelas são tarefas que podem ser resolvidas rapidamente e permitem várias abordagens, inclusive algumas bem criativas sugeridas como objetivos opcionais (mate um alvo com uma carruagem, provoque um incêndio ou dispare dardos alucinógenos num braseiro para deixar os guardas doidões, por exemplo).

O mesmo vale para as missões ao lado de figuras históricas. Enquanto Graham Bell, o inventor do telefone, é o Professor Pardal da vez, sempre desenvolvendo novas armas para os assassinos, outros habitantes ilustres da cidade participam de missões mais interessantes: o escritor charles Dickens acompanha o jogador em visitas à casarões assombrados (fãs de "Penny Dreadfull" vão se deliciar) e o naturalista Charles Darwin guia Jacob no desbaratamento de uma rede de tráfico de drogas, em uma série de aventuras com gostinho de "GTA" e "Breaking Bad".

Mesmo as missões principais são cheias de reviravoltas e trazem uma bem vinda diversidade ao game: você pode começar se infiltrando em um porto para roubar uma relíquia contrabandeada, assassinar um alvo específico e sair sem ser visto, para de repente, se ver em uma fuga desesperada pelas ruas de Londres, trocando tiros e socos com bandidos que saltam para dentro da sua carruagem.

A ambientação também amarra os eventos do game com aventuras anteriores: em um dado momento, você visita a mansão dos Kenway, cheia de itens do pirata Edward. Para encontrar um certo esconderijo, é preciso decifrar uma sequência musical dedilhando um piano - cada dedo é guiado por um botão do controle e fica nas mãos do jogador acertar a música de ouvido. É um puzzle simples mas que refresca uma série conhecida por reprisar tantas vezes os mesmos truques.

"Syndicate" traz algumas mudanças significativas para "Assassin's Creed": o arpão é a maior novidade do game, permitindo uma movimentação muito mais ágil pelos telhados das casas e fábricas, escapadas dignas de super-heróis e mais ainda, convida o jogador a explorar a cidade e seus segredos. É tão fácil se movimentar combinando o uso do arpão como tirolesa e o parkour tradicional de "Assassin's Creed" que você quase não vai usar o sistema de viagem rápida através dos pontos de sincronização.

Outra opção é pegar uma carruagem emprestada de um civil desavisado ou com um membro da sua gangue e acelerar pelas ruas de Londres como se estivesse jogando "Grand Theft Auto" (ou "Watch Dogs", para ficar no universo Ubisoft). O controle dos veículos não é nada excepcional, mas em geral não desaponta - e pode ser aprimorado conforme o jogador evolui os assassinos.

Outra mecânica que melhorou - e muito - foi a furtividade. Nada mais de se esconder no meio da multidão ou se esgueirar o tempo todo para tentar não ser notado. Nesse aspecto o game aprimora o sistema de "AC: Unity" e traz um círculo ao redor do personagem do jogador, que indica se ele está sendo visto ou ouvido pelos inimigos, assim como setas mostrando o status de atenção dos inimigos. É um método mais parecido com outros jogos de furtividade e que funciona muito bem.

Certas atividades se valem dessa nova mecânica de forma bem criativa, como o sequestro. Você aborda um inimigo desprevenido e o prende junto do seu personagem, que guia o alvo pelo cenário, seja para entrar em uma instalação sem ser percebido ou para levar a vítima para uma carruagem e despachá-la para seus aliados na polícia. Durante o sequestro, você fica invisível para os inimigos enquanto eles não entrarem no círculo ao redor dos personagens - que aumenta conforme o alvo se agita e diminui quando você torce o braço dele para que ele se "acalme".

O sistema de combate traz várias pequenas novidades e, quando os controles funcionam, é muito divertido. É possível aplicar combos de golpes, esquivas e contra-ataques, seguidos por finalizações sangrentas e muito divertidas, usar vários tipos de armas (como facas de arremesso, pistolas, dardos alucinógenos e bombas) e até chamar alguns capangas para entrar na briga.

Conforme você progride no jogo, vai adquirindo novas armas, trajes e itens para Jacob e Eve. Também ganha pontos de experiência para gastar em diversas habilidades e dinheiro para comprar itens, melhorias e aprimorar a gangue liderada pelos assassinos.

Os pontos de experiência de cada assassino são ganhos e distribuídos individualmente, já o dinheiro é compartilhado, assim como as habilidades da gangue - que incluem não só capangas mais fortes e melhor equipados, mas também sabotagens nas gangues inimigas, maior quantidade de caixas com explosivos ou outros itens bastante úteis espalhados pelo cenário.

Assim como ampliar o território da gangue rende mais dinheiro (que deve ser recolhido no trem que serve como esconderijo móvel para os assassinos), aprimorar as capacidades dos aliados facilita muito a vida do jogador.

Pontos Negativos

Um problema crônico em "Assassin's Creed", os controles do game durante o combate não tem a precisão de um "Batman: Arkham Knight" ou "Shadows of Mordor" da vida. É comum você ser golpeado mesmo apertando o botão de bloqueio dentro do tempo, ainda mais dada a natureza de briga de rua que os combates tomam nesse jogo - onde, diferente de outros "Assassin's", os bandidos não esperam um cair para entrarem em conflito com o jogador.

"Syndicate" traz uma das melhores tramas da série em muito tempo e personagens realmente fortes e carismáticos, assim como missões que permitem várias abordagens e dão ao jogador muitas oportunidades para testar suas habilidades e equipamentos. Porém, na missão final, o jogo deixa tudo isso de lado e tropeça em sequências tolas de "Quick Time Events". Você persegue o alvo até pegá-lo e precisa apertar os botões que aparecem na tela. Isso se repete por algumas vezes e aí é só assistir ao final da trama.

Não é tão ruim quanto o final de "Assassin's Creed III", mas diante de toda a diversão e design bem desenvolvido de "Syndicate", é uma última batalha que deixa muito a desejar.

Nota: 9 (Excelente)