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Call of Duty: Advanced Warfare

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

11/11/2014 16h02

Quando o mundo cansou dos tiroteios da Segunda Guerra, "Modern Warfare" revitalizou o gênero. E agora que shooters modernos já viraram moeda de troca, a série tenta mais uma vez renovar sua fórmula.

Primeiro título próprio da Sledgehammer Games, "Advanced Warfare" não é uma revolução no mesmo nível da implantada por "Call of Duty 4" em 2007. Mas o jogo mostra que a franquia da Activision ainda tem muito a oferecer - algo que foi colocado em dúvida com o fraquíssimo "Ghosts".

O ícone da renovação de "Advanced Warfare" é o traje Exo, que transforma os jogadores em super-soldados capazes de realizar saltos impossíveis e se movimentar com uma agilidade sem precedentes na série. Com isso, ele faz do multiplayer de "Call of Duty" algo diferente pela primeira vez em anos.

Já a campanha, apesar de apostar em temas um pouco diferentes dos tradicionais, só tenta escapar do lugar-comum em alguns momentos. O resultado é exatamente o esperado: mais uma experiência sobre trilhos pouco memorável, seguindo a entediante tradição de "Call of Duty".

Introdução

No ano 2054, companhias privadas são as novas superpotências militares. Uma delas, a Atlas, é controlada por Jonathan Irons - personagem de Kevin Spacey que não coincidentemente lembra muito o Frank Underwood, de "House of Cards".

Após um incidente em Seul, o protagonista, Mitchell, troca a Marinha dos EUA pelo quartel-general da Atlas e rapidamente se envolve em uma série de eventos que alterarão o mapa dos poderes na metade do século XXI.

Passou o tempo em que soldados carregavam apenas suas armas para a batalha. Munidos de trajes Exo e contando com o suporte de drones, os combatentes do futuro são capazes de muito mais - e "Advanced Warfare" ostenta todo este poderio bélico fictício com clara paixão pelo assunto.

Pontos Positivos

Mobilidade no multiplayer

Depois de tantos anos no completo marasmo, o multiplayer de "Call of Duty" finalmente ganhou novos ares com a chegada dos trajes Exo.

Para uma série que tem como foco combates ágeis, em que a inconveniência de uma morte se resume a dois segundos de atraso, mobilidade é um fator extremamente importante. Por isso, é até estranho que os supersoldados de "Advanced Warfare" não tenham aparecido antes na franquia.

Capazes de alcançar grandes alturas, correr grandes distâncias rapidamente e até mesmo movimentar-se lateralmente, os jogadores finalmente precisam de novas estratégias para se dar bem no modo online, pois as de 2007 ficaram ultrapassadas.

Tanto as táticas ofensivas quanto as evasivas mudaram. Após derrotar um inimigo, é sempre bom saltar rapidamente para um ponto de vantagem na tentativa de surpreender o próximo. De maneira parecida, escapar de um conflito indesejado tornou-se uma estratégia viável por causa da nova esquiva lateral.

Mas "Advanced Warfare" não é "Titanfall". O 'feeling' do jogo ainda é o de um "Call of Duty". Ele faz o que os fãs queriam: melhora a fórmula da série sem que ela perca sua identidade.

Ritmo certeiro

Talvez o maior problema do multiplayer de "Ghosts", lançado em 2013, seja a sua completa falta de ritmo. Com personagens lentos em mapas enormes e mal construídos, os intervalos entre encontros eram longos demais e, quando estes ocorriam, eram desbalanceados para o lado de quem estava parado. "Ghosts" era a antítese do que um "Call of Duty" deveria ser.

"Advanced Warfare" conserta tudo isso. Seus mapas são menores e verticalizados, com caminhos que bifurcam e rotas alternativas por todos os lados. Quem fica parado, morre, e quem quer controlar o mapa precisa de real coordenação com seus aliados através do chat por voz. É a volta do "Call of Duty" frenético.

Isso, claro, em modos como o 'Team Deathmatch'. Curiosamente, em outros, como o 'Search & Destroy', que emula a fórmula de "Counter-Strike", em que cada jogador tem apenas uma vida por rodada, o ritmo muda, mas continua divertido.

Se no 'Free-for-All' vale tudo entre saltos gananciosos e disparadas frenéticas, no 'S&D' vence quem consegue controlar o desejo de sair voando pelo cenário, prosseguindo com bastante cautela. Enquanto isso, um 'Capture the Flag' torna-se muito mais interessante quando o jogador que está com a bandeira pode simplesmente saltar ao além e desaparecer em um piscar de olhos.

Vale mencionar ainda o inédito modo 'Uplink', em que dois times precisam, em suma, 'fazer gols' com um drone em formato de bola. Muito inteligente, ele rende disputas muito divertidas em que os jogadores devem utilizar todo o potencial de seus trajes Exo.

Gráficos e... Kevin Spacey

"Advanced Warfare" é mais bonito que seus predecessores, e as belas CGs que avançam a história entre missões ajudam muito neste quesito.

Para trabalhar na série "Call of Duty", um estúdio precisa saber fazer as mais dramáticas explosões cinematográficas, muitas vezes nos mais inóspitos cenários - e a Sledgehammer Games passou no teste.

Mas é inegável que o elemento visual do game que causa o maior impacto é... o rosto de Kevin Spacey. Não fosse pela atuação do vencedor do Oscar, seria muito difícil prestar atenção nos longos diálogos de exposição. E se não fosse pela persona claramente copiada de "House of Cards", seria praticamente impossível se importar com a figura.

Algumas missões

Em momentos curtos, porém marcantes, "Advanced Warfare" consegue escapar das limitações da fórmula básica da campanha de um "Call of Duty" e dá pistas de quão divertido o modo para um jogador seria se tentasse realmente fazer algo de diferente.

O ponto mais alto da campanha é sua oitava missão, batizada de 'Sentinel'. Nela, o objetivo do protagonista é infiltrar uma casa, tomando cuidado para não ser alvejado por guardas armados ou drones, nem visto por civis.

As instruções que o jogador recebe de seu sempre presente suporte remoto são: "encontre um caminho até lá. Lhe ajudarei como puder". Por alguns minutos, o game deixa de arrastar o fã pela mão. E esse breve momento de liberdade é muito bom.

Mesmo com as óbvias limitações da engine do jogo - que foi feita para gerar corredores fechados e explosões pré-programadas -, ele consegue surpreender nesta missão. Cada rota de infiltração escolhida pelo jogador oferece diferentes desafios, como um civil que deixa o banheiro repentinamente, a possibilidade de ativar alarmes de carros ou drones que conseguem te ver caso você emerja em uma piscina.

É uma grande pena que o resto do jogo não tente ser inteligente como a missão 'Sentinel', que prova que é possível fazer o jogador se sentir bem sem exagerar nos explosivos.

Pontos Negativos

O resto das missões

Apesar de tocar em temas interessantes, apresentar um aparato bélico fascinante e ter cenários bem pensados, a campanha do jogo não se esforça para ir além do mínimo esperado.

Missões como a fraquíssima 'Collapse', em que você atravessa a Ponte Golden Gate enquanto elimina inimigos, mostram o quão cansada está a fórmula linear para campanhas de shooters. O soldado inimigo sai por um momento de sua cobertura, e você atira nele. Você dá dois passos. Atira em mais um soldado. E por aí vai.

Não há desafio. Não é preciso estratégia para se dar bem - não é preciso nem pensar. Você é guiado do ponto A ao ponto B por NPCs ou quick-time events, sem nunca participar ativamente da ação.

O fato de uma missão como a ótima 'Sentinel' coexistir com o resto do modo para um jogador de "Advanced Warfare" mostra uma discrepância assustadora entre o que "Call of Duty" poderia ser se a Activision tivesse coragem de tomar riscos e o que ele realmente é.

Claro: como não há espaço para ação do jogador na campanha, também não há como o traje Exo brilhar. Cada missão limita o uso de certas habilidades do traje e ele só acaba aparecendo nos exatos momentos em que o jogo manda você utilizá-lo.

Coop entediante

O modo cooperativo 'Exo Survival', em conceito, lembra muito o 'Spec Ops' da linha "Modern Warfare". Diferentes desafios aparecem em rápida sucessão para grupos de jogadores, colocando-os frente a ondas de diferentes tipos de inimigos.

Com uma curva de dificuldade muito lenta, porém, o modo entedia mais do que entretém. A cada partida, demora muito para que o game comece a pensar em desafiar os jogadores.

Nota: 8 (Ótimo)