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El Shaddai: Ascension of the Metatron

AKIRA SUZUKI

Da Redação

08/09/2011 12h51

"El Shaddai: Ascension of the Metatron" é um jogo irregular, com uma experiência visual fantástica e distinta - a trilha sonora também é digna de nota -, mas não convence em vários aspectos, como as seções de plataforma e a história, que desafia qualquer lógica e termina num anticlímax tremendo. Enfim, os corajosos que buscam uma experiência diferente, provavelmente serão recompensados, mas no que depender exclusivamente da mecânica de jogo, ainda que o sistema de combate seja inteligente, o título não consegue preencher as expectativas.

Introdução

Fala-se muito em novidade e inovação no universo dos games, mas a aposta segura, tanto para fabricantes como jogadores, são quase sempre as continuações de franquias consagradas. Com muito dinheiro em jogo, essa é uma época difícil para novas propriedades intelectuais, principalmente quando se fala em títulos de grande produção. Nesse contexto, tendo como criador Takeyasu Sawaki, design de personagens de "Okami" e "Devil May Cry", "El Shaddai: Ascension of the Metatron" foi saudado como um dos salvadores da lavoura da mesmice.

Apesar dos esforços, o game cumpre apenas em parte a expectativa de um grande título original. A obra liderada por Sawaki, de fato, tem uma direção de arte que enche os olhos e uma trilha sonora igualmente incomum e interessante, mas os outros atributos de jogo não trazem a mesma qualidade. "El Shaddai" é um jogo de ação e plataforma em terceira pessoa, com um sistema de combate aparentemente simples, mas que esconde amplas possibilidades. O enredo também é atípico, livremente baseado em escrituras sagradas apócrifas, e muito estranho - quase sem pé nem cabeça.

Pontos Positivos

Bela direção de arte

Sem dúvidas, a parte artística dos gráficos de "El Shaddai" é sua principal qualidade. Em cada capítulo, o jogador é surpreendido por visuais surreais e de estilos diferentes. Há sempre um filtro distinto para cada cenário e um é radicalmente diferente do outro: de uma montanha de neve, em que predomina o azul e o branco, às plataformas suspensas com ares futuristas, que parecem feitos de metal escuro e no fundo se vê fogos de artifício e néons de todas as cores.

O visual deixa de impressionar apenas nos ambientes mais "realistas", como o capítulo em que o protagonista Enoch corre de moto (a cena lembra aquela de "Final Fantasy VII"). Nessas partes, a modelagem e as texturas não acompanham a qualidade das outras fases.

Outro ponto interessante é que algumas partes da história são contadas enquanto o game rola, principalmente nas horas em que passa a ser visto de lado, perdendo as características 3D do controle. Assim, o fundo vira uma tela em que se desencadeiam os fatos. Guiado pelo roteiro, há várias fases que servem apenas para estabelecer um clima. Tem a mesma função de uma cena não interativa, mas o fato de poder controlar o personagem dá um pouco mais de peso ao acontecimento.

Sistema de combate inteligente

Em se tratando da mecânica de jogo, o sistema de combate é uma das partes mais inspiradas de "El Shaddai". Diferente de outros jogos do gênero, existe apenas um botão para atacar. Então, como fazer as diversas sequências de golpes? Aqui, o segredo está no ritmo que o botão é pressionado. Se apertado rapidamente, faz-se uma combinação normal, por assim dizer. Mas, ao atrasar um pouco o tempo, o personagem faz um movimento que tenta sobrepujar a defesa do oponente. Além disso, se o apertar de botão for mais longo, o ataque é mais forte. Outra variação inclui usar o modificador, o botão de ombro direito.

As armas também são essenciais para entender os combates. São três no total, mas cada uma delas modifica não apenas os ataques, mas também os movimentos de defesa ou desvio e até mesmo os saltos. E, claro, cada um dos inimigos é especialmente vulnerável a um dos artefatos, informação particularmente essencial quando se luta contra chefes de fase.

Enfim, esse não é um game de amassar botões. Isso apenas funciona na dificuldade mais baixa, mas no nível normal, apesar de ser possível seguir adiante com essa tática, a vida é muito mais difícil. A beleza do sistema de batalha mostra seu potencial apenas nas duas dificuldades mais altas, liberadas apenas depois de terminar o game uma vez. Nesse grau, é imprescindível usar os ataques certos, dominar a defesa e o golpe que repelem as investidas dos inimigos e roubar-lhes as armas. Mesmo um simples inimigo de fase pode oferecer um combate duro e longo, e os chefes de fase são ainda mais complexos.

Embora se entenda a ausência de medidores para preservar o visual, é um pouco difícil saber o estado do personagem, e em quais condições ele pode ressuscitar. As indicações mais triviais só podem ser mostradas na tela depois de se terminar o game.

Trilha sonora vigorosa

A sofisticação artística também alcançou o departamento sonoro. A trilha sonora carrega um traço meio folclórico e esbanja beleza. O ritmo, instrumentos empregados e a forma de composição fogem do senso comum e envolve perfeitamente esse jogo igualmente diferente e sua história que faz ficção com as escrituras sagradas.

Pontos Negativos

Falta de acabamento no roteiro

Embora parta de uma fonte incomum para os games - as escrituras apócrifas da religião judaico-cristã - o roteiro não se desenvolve a contento. Há ideias bacanas, como a figura de Lúcifer retratado como um jovem moderno - e fala com o todo-poderoso através de um celular! - mas nem ele nem outros personagens, como Ishtar, não tem suas histórias muito desenvolvidas. O script perde a lógica em certos pontos e o final é um verdadeiro anticlímax. É uma pena, pois a premissa soa muito interessante.

Pixels "serrilhados"

O jogo pode ser para PlayStation 3 e Xbox 360, mas traz problemas de videogames da geração passada: o visual apresenta "serrilhados" severos. Não sou daqueles que costuma reclamar desse tipo de detalhe, pois prefiro imagens mais cristalinas dos jogos para PlayStation 3, mas o que se vê em "El Shaddai" é quase inaceitável. O fato de o jogo não ser totalmente em alta resolução - ou ao menos aparenta ser dessa forma - torna o problema ainda mais gritante. Ao menos, as animações são bem suaves.

Partes de plataforma são dispensáveis

Se o combate é a parte boa de "El Shaddai", as cenas de plataforma representam seu defeito. Nas partes 3D, é frequente ver seu personagem cair por ser muito difícil ver sua posição em relação ao cenário. Já quando a visão fica de lado, com os controles passando a ser 2D, as partes de plataforma parecem apenas para mostrar o trabalho artístico do game ou contar o roteiro de maneira mais estilosa, sem muito significado para a mecânica de jogo. É verdade que nem todas são assim, havendo até mesmo lugares que exigem um bom nível de habilidade.

Nota: 7 (Bom)