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F1 2014

Luiz Hygino

do Gamehall

10/11/2014 15h53

O grande problema dos jogos de Fórmula 1 nos videogames, por mais paradoxal e irônico que possa parecer, sempre foi a lentidão. Enquanto a temporada real da principal categoria do automobilismo mundial costuma começar em março, os jogos da categoria tendem a ser lançados no final do ano, nos meses de setembro e outubro. Tudo graças à imprevisibilidade da Fórmula 1, que por conta de suas frequentes mudanças de regra (para o bem do esporte e, principalmente, do entretenimento), fica sujeita a surpresas a cada ano, com alternâncias de superioridade nas pistas por conta dessa ou daquela equipe.

Apesar da internet já ser uma realidade há muitos e muitos anos, só agora, com "F1 2015", a produtora Codemasters irá, finalmente, usar as atualizações online para conseguir lançar um jogo ao mesmo tempo (ou pouco depois) que a temporada começa, enquanto vai equilibrando a força de equipes e pilotos, deixando-os cada vez mais parecidos com seus pares virtuais. Você não leu errado. Isso começa com o "F1 2015", e esta é a análise do "F1 2014".

"F1 2015" (leia bem, dois mil e quinze) será também o primeiro capítulo da franquia a chegar aos videogames da nova geração, o que acaba colocando "F1 2014" em uma espécie de limbo da série de velocidade, por esse e por diversos motivos, incluindo, aí, o esforço da Codemasters.

O jogo, basicamente, é uma versão enxuta de "F1 2013”, usando a mesma interface e quase os mesmos modos de jogo de seu antecessor, alguns simplificados e piorados, como o Modo Carreira. O divertido Modo Clássico, argumento de venda da versão do ano passado, foi embora, deixando "F1” ainda mais raso. A única novidade fica por conta das tradicionais mudanças de regra da categoria, como a entrada dos motores V6 Turbo (e de seu decepcionante som), que impactam tão pouco a mudança de experiência de “F1 2014” enquanto um jogo de videogame que não justificam seu lançamento.

Introdução

O mais simples capítulo da franquia desde a excelente retomada da série de automobilismo pela Codemasters, “F1 2014” recria a primeira temporada da categoria depois de uma série de mudanças em suas regras, visando dar mais equilíbrio à F1, especialmente dando fim à hegemonia absoluta da equipe Red Bull, hoje substituída enquanto protagonista pela Mercedes.

Além de todas as mudanças aerodinâmicas dos novos carros, adaptados ao novo regulamento, e dos novos motores V6 Turbo, “F1 2014” também fica mais próximo da Fórmula 1 atual, e mais emocionante, graças ao ERS, sistema de recuperação de energia que substituiu o KERS, que adiciona cerca de 160 cv de potência por 33 segundos aos carros, contra os antigos 80 cv por 6 segundos anteriores. Se no mundo real o sistema garantiu uma temporada com mais ultrapassagens e “pegas”, no videogame isso fica ainda mais intenso.

As novas pistas da temporada também chegam ao jogo. Além do retorno de Hockenheim, na Alemanha, e do Red Bull Ring, na Áustria (o antigo A1 Ring), “F1 2014” apresenta, de forma inédita na série, o circuito de Sochi, na Rússia, trazendo, também, o Grande Prêmio do Bahrein enquanto uma corrida noturna, pela primeira vez.

No mais, “F1 2014” é quase idêntico ao capítulo anterior da franquia, com opções de regulagem na jogabilidade que prometem atender desde fãs antigos da Fórmula 1 até novatos do gênero de corrida, em versões de PC, Xbox 360 e PS3.

Pontos Positivos

Pneus

Desde que o reabastecimento nos boxes foi abolido, em 2010, os pneus ganharam papel de protagonismo no Mundial de F1. Depois de anos derrapando em relação ao assunto, finalmente a Codemasters conseguiu reproduzir a importância dos pneus nas corridas.

Mais do que a diferença de performance entre os diferentes tipos de pneu (super macio, macio, médio e duro, além do intermediário e do pneu de chuva), os diferentes estilos de pilotagem, mais conservadores e macios ou mais arrojados e agressivos, parecem fazer muito mais diferença na manutenção do desempenho do carro a longo prazo.

A qualidade da simulação de pneus dá mais profundidade ao jogo e, mesmo que solitariamente, aponta para uma experiência mais completa e verdadeira que poderá ser marca do vindouro “F1 2015”.

Gráficos competentes

Não houve grande mudança na qualidade dos gráficos, se compararmos “F1 2014” a seu antecessor, “F1 2013”. Mas o que já era uma força no passado continua sendo um atrativo no presente.

Os detalhes de carros e pistas são incríveis e levam ao limite o poder da já velhinha geração de consoles de PS3 e Xbox 360. A atenção do jogador fica muito direcionada à direção, durante às provas, então caso você tenha oportunidade de jogar “F1 2014”, se dê de presente algum tempo revendo suas próprias corridas no replay. É uma experiência de tirar o fôlego.

Como nem tudo são rosas, vale apontar o fraco visual dos pilotos, especialmente a pequena porção de seus rostos que fica à mostra, usando o capacete. Embora as feições sejam reconhecíveis, os detalhes são assustadoramente ruins. Os olhos, por exemplo, ficam sempre estáticos, sem transmitir emoção alguma e sem nunca piscar.

Pontos Negativos

Passos para trás

O Modo Clássico foi embora. O Modo Carreira foi simplificado e perdeu parte de seu desafio. A interface do jogo é idêntica à da versão do último ano. Até mesmo o Teste para Jovens Pilotos, excelente tutorial que servia também como introdução narrativa para o game, foi embora, dando lugar para o pífio Sistema de Avaliação de Pilotos, que, na prática, se resume a apenas uma volta no circuito de Spa-Francorchamps, na Bélgica, indicando de forma nem sempre precisa a dificuldade indicada para o jogador.

Fica claro que os esforços da equipe da Codemasters estão voltados somente para o desenvolvimento de “F1 2015”, na nova geração, mas será que tantos elementos positivos do ano passado não poderiam ser mantidos, iguais, como tantas outras características do game?

Sistema de assistência

Jogar “F1 2014” enquanto um novato é frustrante. Embora não exista nenhum tipo de dificuldade em controlar o carro com as assistências ligadas (ele quase se guia sozinho), o Fórmula 1 se torna excessivamente chato e lento, impossibilitado de alcançar vitórias e bons resultados.

Já os fãs antigos de Fórmula 1 e de jogos de corrida ficarão ainda mais decepcionados com a constante sensação de que a assistência de direção e tração, em algum nível ainda que mínimo, parece estar ligada, mesmo quando, aparentemente, não está. Cenários desafiadores, corridas na chuva e situações extremas de desgaste de pneus deveriam, quero eu acreditar, parecer mais difíceis.

Talvez isso seja um reflexo da facilidade que é dirigir um carro de Fórmula 1 nos dias atuais, pois como diz o tri-campeão mundial Nelson Piquet, “qualquer imbecil pilota na F1 de hoje”. Infelizmente eu não pude guiar um Fórmula 1 de verdade para fazer a comparação (equipes, fiquem à vontade para me convidar para um teste).

Abismo entre joystick e volante

Embora todo jogo de corrida seja mais divertido e verossímil quando jogado com um volante, “F1 2014” tem um abismo entre os dois tipos de controle.

A sensibilidade de pedais funciona de forma atrapalhada no joystick (especialmente no acelerador), e o controle da direção do carro é pouco precisa. Já com o volante e pedais, a experiência de “F1 2014” dá um salto enorme, entregando de fato o nível de simulação esperado pelos fãs da categoria.

A limitação, ainda que não proposital, da boa experiência a donos de periféricos é mais uma bola fora do jogo.

Nota: 6 (Razoável)