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FIFA 16

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

29/09/2015 13h08

Com "FIFA 16", a EA Sports segue aprimorando as mecânicas de sua franquia futebolística, acrescentando novas modalidades de jogo (futebol feminino, draft) e buscando conseguir os três pontos contra o eterno rival, "Pro Evolution Soccer".

Tecnicamente, "FIFA 16" é um game excelente e que oferece um pacote robusto de modalidades e conteúdo para divertir os fãs do esporte. Falta ao game algo realmente original e fora da caixa: tudo parece uma evolução do ótimo trabalho que é realizado anualmente pela produtora. Mesmo o futebol feminino, adição muito bem vinda, parece incompleto.

Talvez se a EA olhasse mais para as elaboradas campanhas solo criadas pela 2K Games para seus jogos de basquete em busca de inspiração, "FIFA" seria um jogo com um pouco mais de personalidade e não apenas um excelente simulador de futebol.

Introdução

"FIFA 16" é o ápice da evolução mecânica da série de futebol da Electronic Arts. O jogo traz controles cada vez mais manuais, deixando a habilidade individual do jogador, e não tanto as estatísticas de cada atleta virtual, fazer a diferença em cada partida. Mesmo assim, é um game que busca ser acessível para todos, com opções de controle simplificado e modo treinador, onde sugestões de comandos aparecem ao redor do atleta controlado pelo jogador.

O game traz pela primeira vez seleções nacionais femininas e é muito bom ver que jogar no time das meninas não é só uma variação estética - elas se comportam de maneira notavelmente distinta de seus colegas meninos. É preciso se acostumar com a velocidade, peso e força destas atletas que, esperamos, vieram para ficar.

O jogo capricha também na oferta de conteúdo: são vários campeonatos, modo de gerenciamento, carreira solo (o divertido, mas burocrático Be a Pro) e o sempre popular FIFA Ultimate Team (ou FUT, para os íntimos), que combina cards colecionáveis com partidas de futebol e um pouco de estratégia. Há uma nova modalidade dentro do FUT, o Draft, que vai divertir os jogadores com torneios rápidos e desafiadores.

No Brasil, o game traz novamente a narração de Tiago Leifert e comentários do ex-jogador Caio Ribeiro.

Pontos Positivos

Seleções femininas

"FIFA 16" traz doze times nacionais femininos, incluindo Brasil e Estados Unidos (atual campeão mundial). Entre as ausências, é notável a falta da seleção japonesa.

Jogar no time das meninas é bem diferente das partidas entre os meninos. O ritmo é mais lento e as atletas são mais leves, coisa que se percebe durante as colisões e disputas de bola. Não pense que pelo ritmo mais lento as partidas femininas são uma versão "mais boba" do jogo: a desaceleração permite jogadas mais precisas no ataque, defesa e requer uma atenção maior ao posicionamento do time, principalmente diante de um contra-ataque.

Só faltou mesmo mais opções de jogo para as garotas: você pode disputar uma copa sem marca nenhuma que termina após seis partidas, ou jogar amistosos. Não há um campeonato de fantasia com mais rodadas ou uma versão do FUT estrelada pelas atletas.

Pacotão de conteúdo

Nenhum game de futebol traz uma oferta tão variada de conteúdo quanto "FIFA 16": há torneios de futebol, partidas amistosas, torneios online, um modo carreira onde você cria seu próprio atleta e vive o sonho de ser um jogador profissional de futebol. Há o popular FUT, com seu viciante sistema de cartinhas colecionáveis - tem quem passe mais tempo comprando e vendendo cartas do que disputando partidas com o time dos sonhos - e sua nova variação, Draft. E agora, "FIFA 16" traz também seleções femininas, um pedido recorrente dos fãs do esporte.

Modo Draft

O FUT, que para muitos é a principal modalidade de "FIFA", retorna este ano com uma novidade bem vinda: o modo Draft, que torna os principais atletas do game disponíveis para todos os jogadores, mas por tempo limitado.

Funciona assim: após pagar uma pequena taxa (em créditos do game), você recebe um conjunto de cartas só com jogadores do primeiro escalão. É preciso escolher uma formação e combinar o time recém-formado para que ocupem as melhores posições e, assim como no FUT normal, é preciso melhorar o relacionamento do time, colocando atletas com mais afinidade jogando lado a lado. É aí que mora o maior desafio dessa modalidade, pois nem sempre os melhores jogadores se dão bem com os companheiros de time.

Após organizar a equipe, o jogador disputa um mini-torneio (que pode ser jogado sozinho contra a máquina ou online) numa série de eliminatórias de quatro partidas. A vitória garante recompensas na forma de cartas, itens e moedas.

Complexo, acessível

"FIFA 16" é o mais sofisticado jogo da série até hoje, com sistemas de controle quase que totalmente manuais. Dribles, passes, defesa, tudo é determinado pela habilidade do jogador e há movimentos específicos para cada situação. O novo sistema de drible sem toque permite jogadas mais fluidas. Jogadores acostumados com "FIFA 15" terão um período de adaptação pela frente, pois até o passe de bola agora exige que você aponte para o atleta correto - nada de jogadas automáticas por aqui.

Essa complexidade de simulador pode afastar os jogadores mais casuais e, por isso, "FIFA 16" oferece opções de acesso para todos. Quem quer aprender a jogar e dominar os novos comandos pode ativar a qualquer momento o modo Treinador, que exibe sugestões de controles ao redor do atleta selecionado pelo jogador: no ataque, você verá opções como Passe e Passe Enfiado, com os respectivos botões para o comando. Neste modo, uma seta indica exatamente a direção para qual o jogador está apontando, o que facilita a vida de quem ainda não tem um domínio do posicionamento em campo - é um sistema bem parecido ao que foi implementado pela EA nos "Madden" e "NHL" deste ano.

Pontos Negativos

Ausências brasileiras

Com tanta coisa em campo, é uma pena que o jogo não inclui todos os times do campeonato brasileiro: Corinthians e Flamengo assinaram exclusividade com "PES 2016", Goiás e Sport não chegaram a um acordo com a EA e também só aparecem no rival japonês. Para piorar, "FIFA 16" não possui a licença do próprio Brasileirão e por isso os 16 times brazucas presentes no game estão na categoria Resto do Mundo.

Dito isso, é difícil estimar o impacto do game não possuir um Flamengo ou Corinthians - ambas as equipes possuem torcidas enormes, é claro, e esses torcedores gostariam de jogar com seus times do coração no videogame. Ainda assim, não são poucos os jogadores que preferem jogar com seleções e, mais ainda, com os grandes times europeus.

Se é na frente do videogame que os mais novos se familiarizam com seus times e atletas favoritos, ficar fora do game pode acabar por afastar os potenciais torcedores mais jovens de um time.

Narração brasileira

Eu não tenho problemas com a narração de Tiago Leifert e Caio Ribeiro, seus comentários engraçados e a assumida interação com os jogadores, quebrando a quarta parede, aquela coisa toda. Isso é bem divertido e é uma boa variação para a narração realista dos britânicos Martin Tyler e Alan Smith. A dupla brasileira tem boas sacadas (e alguns momentos de vergonha alheia) gravadas para certos craques do game, como Messi e Piqué. Fizeram inclusive um bom trabalho com as seleções femininas.

Mas é difícil não notar o quanto a narração é genérica. Muitas vezes você vai ouvir comentários como: "O melhor jogador da partida foi... ELE! É claro que foi ELE, ELE jogou muito bem hoje" - sendo "ele" o atleta controlado pelo jogador no Be a Pro. Difícil acreditar nessa narração, né? O campeonato feminino é outro exemplo. Como não há uma marca associada ao torneio, Tiago diz apenas "Bem vindos a mais uma partida de COPA". Soa esquisito e genérico pra caramba.

Se a parceria entre EA e a dupla global continuar, seria bom trabalharem melhor essas frases para dar mais realismo e imersão ao game - coisa que os narradores ingleses fazem muito bem e não é de hoje.

Carreira burocrática

O modo Be a Pro é a carreira solo de "FIFA",  uma combinação bacana de futebol, gerenciamento e RPG. Aqui, você cria um atleta do zero e vive o sonho de jogar futebol profissionalmente, geralmente já no time dos seus sonhos. A modalidade acompanha a carreira do jogador, desde os meses no banco de reservas e os treinos até os anos como titular e o convite para jogar na seleção nacional.

Infelizmente, é uma modalidade burocrática, onde os campeonatos são mostrados como menus e calendários, com pequenas notícias nas laterais da tela mostrando o que rola com os outros times. No começo, você demora para entrar em campo e pode passar um bom tempo apenas mandando o calendário avançar até que algo realmente aconteça. Não é o mais empolgante dos cenários, é preciso admitir.

A EA poderia se inspirar no que a 2K Games vem fazendo com "NBA 2K" e desenvolver uma carreira solo envolvente, com enredo e personagens. Dar esse sopro de alma para o game é o que falta para "FIFA" - tecnicamente, não há mais o que melhorar nos sistemas de jogo, é hora de pensar fora da caixa para chegar ao próximo nível.

Nota: 9 (Excelente)