Análises | Resident Evil 4 GameCube "... uma mistura de um jogo de tiro em primeira pessoa com a fórmula clássica da série..."
21/01/2005 da Redação | Assim como os zumbis se assemelham com a carcaça humana de que um dia foram, a camada externa de "Resident Evil 4" lembra os demais jogos da série, mas se comporta de maneira totalmente diferente.
Este novo episódio desenrola a trajetória de Leon S. Kennedy, personagem de "Resident Evil 2". Leon não é mais um tira novato de Raccoon City, mas um agente secreto do governo com a missão de resgatar a filha do presidente. Para isso, ele é enviado a um pequeno vilarejo europeu, onde acaba tropeçando em uma perigosa conspiração.
Os mais puristas ficarão surpresos em saber que "Resident Evil 4" começa anos depois do fim da Umbrella, a corporação responsável pela criação do vírus que transforma todos em zumbis. Com o fim da empresa, a ameaça biológica vira coisa do passado, bem como os monstrengos molengas. No lugar, estão inimigos mais espertos e uma antiga praga de proporções bíblicas.
O enredo desencadeia uma avalanche de mudanças. Para enfrentar a nova horda o jogador não terá mais de ficar contando quantos cartuchos de bala restam em seu inventário: a munição é à vontade. Isso sem sequer citar a mecânica do jogo e as situações. Mesmo assim, "Resident Evil 4" mantém raízes e é uma legítima continuação.
As mudanças são todas bem-vindas. O sistema original copiado de "Alone in the Dark" trazia problemas sérios que foram amplificados com mudanças como o limite de itens carregados pelo protagonista. O controle estilo "tanque de guerra" - ao mover o direcional para o lado, o personagem gira em torno do próprio eixo, ao invés de andar na direção acionada - permanece e pode decepcionar, mas não se deixe enganar: "Resident Evil 4" é um jogo totalmente novo.
El forastero!
"Resident Evil 4" mistura tiro em primeira pessoa com a fórmula clássica de sobrevivência da série. A câmera agora segue logo atrás do protagonista, oferecendo não apenas a capacidade de mirar com precisão, mas também adiciona a tensão de ver o mundo pelos olhos do personagem. Quem estranhou o formato Widescreen do jogo logo entenderá a razão: ela serve pra aumentar o campo de visão. O jogador não verá mais zumbis se aproximando lentamente das costas de Leon. É preciso estar sempre alerta ao seu redor, já que é fácil ser surpreendido. Nessas horas, a visão panorâmica do cenário salva vidas.
A atmosfera de "Resident Evil 4" é o coração da experiência. O game não se contenta em simplesmente reciclar o velho truque de surpreender você com um cachorro-zumbi quebrando a janela quando você menos espera. Agora os sustos são gerados ao ser perseguido constantemente por dúzias de pessoas possuídas (mais rápidas e eficientes em pôr fim à vida do herói) em meio a uma tempestade noturna iluminada pelas tochas dos monstros. Muitas das situações são inspiradas em filmes clássicos de terror, e a aposta da Capcom rende uma infinidade de momentos excelentes.
Em "Resident Evil 4", o clima de tensão é muito mais palpável, já que não é preciso racionalizar se será preciso ou não gastar munição com uma determinada ameaça. O game oferece balas suficientes para matar todos os inimigos, mas sua resistência e velocidade maiores exigem habilidades diferentes: saber escolher entre atirar no braço do oponente para derrubar sua arma ou atingir o rosto para causar mais dano é uma escolha que deve ser feita em uma fração de segundo muitas, e muitas, vezes.
A aventura de Leon escapa dos padrões antigos por vários motivos: o progresso do jogador é quase totalmente linear, explicando claramente para onde o personagem deve ser levado. O velho costume de ficar dando voltas por uma mansão se foi - felizmente, isso é compensado por uma variedade que lembra muito "Metal Gear Solid". Além de oferecer ambientes e situações diferentes em sucessão constante, o desafio é complementado por uma série de chefes criativos e numerosos. Isso sem contar as situações inusitadas que a presença de Ashley - a filha do presidente - permite e as personalizações infinitas que o novo sistema de itens oferece.
Essas mudanças bruscas têm seu preço: o progresso pelo game é muito mais rápido e ágil. Apesar de passar uma impressão de ser bastante curto, o game dura cerca de 12 horas - o que não deixa de ser relativamente longo nos padrões da série, se você ignorar o tempo que era gasto ao morrer e refazer passos nas edições anteriores. Os extras, que prolongam a vida útil do jogo e são marca registrada da série, ajudam a amenizar essa sensação de "já acabou", mas é provável que os fãs peçam por mais do que os dois discos do jogo oferecem.
Pero que las hai...
O game traz alguns defeitos menores, alguns dos quais foram importados de outros títulos da série: a trama e os diálogos continuam bastante forçados, e a incapacidade de se mover atirando e andar de lado fazem falta. Além disso, as falas da população dessa misteriosa vila em espanhol prometem algumas risadas. Mas nenhum desses problemas consegue arranhar a qualidade geral do game.
"Resident Evil 4" conseguiu a proeza de não perder o espírito da série ao mesmo tempo em que corrige seus principais problemas e oferece uma experiência totalmente nova e cativante. Tanto quem não gostou como quem amou os capítulos anteriores deve experimentar essa recriação genial da Capcom - especialmente os fãs dos jogos de terror.
Por hora, "Resident Evil 4" é exclusivo para GameCube. Mas essa nova aventura terá uma versão para PlayStation 2 com alguns extras cujo lançamento está previsto para o final de 2005.
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