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Grim Fandango: Remastered

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

02/03/2015 19h18

"Grim Fandango Remastered" é mais uma reparação histórica do que um lançamento.

Abandonado pelo desinteresse e pela burocracia das grandes produtoras, o game que é considerado um dos melhores adventures dos anos 1990 passou muito tempo indisponível. A menos que alguém pagasse uma fortuna em sites de leilão por uma cópia em disco original, era impossível jogá-lo por meios legais.

Lado a lado com a importância deste relançamento, as pequenas mudanças feitas na experiência são meros detalhes.

Retrabalhado para funcionar como um adventure (quase) moderno, "Grim Fandango" continua sendo a mesma experiência de sempre - e, assim, recomendável tanto para nostálgicos quanto para aqueles que só conheciam o jogo por nome.

Introdução

Um agente de viagens na porta de entrada para o outro mundo, Manuel Calavera não tem uma morte fácil. Preso a um trabalho desagradável e a uma sequência de clientes sem qualquer dinheiro no bolso, ele se vê obrigado a tomar medidas drásticas para escapar da rotina.

Mais absurda que a proposta de "Grim Fandango", que mistura noir à temática do Día de Muertos comum no folclore mexicano, é a sucessão de eventos que ocorrem nos quatro anos em que o jogador acompanha Manny em suas desventuras.

O game se desenvolve entre diálogos e quebra-cabeças, no estilo clássico do gênero. Manny deve explorar os cenários com calma, descobrindo segredos a um ritmo bem diferente dos acelerados adventures da Telltale.

Pontos Positivos

Essência mantida

"Grim Fandango Remastered" é exatamente como um fã do original se lembra do game em sua memória afetiva.

Desde personagens secundários até diálogos engraçados, tudo está em seu devido lugar. As texturas e sombras de alta definição e a trilha sonora orquestrada, que só existiam em nossas lembranças modificadas ao longo dos anos pela nostalgia, também estão lá.

O cuidado da Double Fine com o tratamento de "Remastered" é evidente. O time de desenvolvimento fez mudanças ao sistema de controle e aos gráficos, mas tomou precauções para não fazer nenhuma mudança que causasse estranheza.

O resultado é ideal. "Grim Fandango" é um dos mais carismáticos games de sua era por contar com um mundo envolvente e personagens instigantes, e tudo isso pode ser aproveitado em "Remastered" como se estivéssemos em 1998. Só que um pouquinho melhor.

Design sutil

Parte de um gênero que obriga os jogadores a prestarem atenção aos menores detalhes, "Grim Fandango" não decepciona em termos de complexidade. Seu pitoresco mundo esconde muitos segredos e recompensa aqueles que têm paciência de procurá-los, mas raramente exagera ao ponto de frustrar.

O maior trunfo do jogo está na sutileza de seu design. Não há indicações externas avisando aos jogadores quais objetos são importantes ou não - na maior parte dos casos, o cenário é construído para que essa informação seja óbvia.

Quando quer escolher um item diferente, Manny mexe em seus bolsos, e o jogador vê isso sem ter que lidar com menus ou descrições.

Tudo isso facilita a imersão. Usandos artifícios como esses, o jogo faz com que seu bizarro mundo pareça natural.

Dublagem brasileira

Para quem entende inglês, a melhor opção é jogar "Grim Fandango" com a faixa de áudio original. A quantidade de piadas e sutilezas possíveis apenas no idioma dos criadores do game é enorme.

Mas o fato de "Grim Fandango" incluir, em todas as suas versões, a dublagem brasileira da versão original de PC é elogiável.

Por mais que alguns diálogos acabem perdidos na tradução, a localização é muito bem trabalhada, completa com sotaques engraçados e um toque regional.

Em tempos de "The Walking Dead" e outros adventures sem qualquer tipo de tradução, é ótimo ter um jogo do gênero que pode ser aproveitado por brasileiros que não dominam o inglês.

Pontos Negativos

Momentos obtusos

Se os bons quebra-cabeças de "Grim Fandango" tornaram-se mais impressionantes com a passagem do tempo, desafiando os jogadores sem esfregar as respostas em suas caras como é comum hoje, o inverso aconteceu com os enigmas ruins.

Eles existem. Não são muitos, mas existem. E incomodam bastante.

Seja por incongruências do sistema de câmera que esconde itens ou passagens, ou pela simples ausência de quaisquer pistas que levem o jogador à resolução de algum problema, certos trechos do game praticamente obrigam o fã a abrir um detonado.

Eram quebra-cabeças que já atrapalhavam a experiência em 1998, e por não terem sido retrabalhados para a versão "Remastered", remetem a lembranças ruins hoje.

Nota: 8 (Ótimo)