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Lightning Returns: Final Fantasy XIII

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

26/03/2014 14h04

O derradeiro final da saga “Final Fantasy XIII” tenta corrigir as falhas dos jogos anteriores e entregar uma conclusão que agrade aos fãs. Reinventando - pela terceira vez - o sistema de combate e as mecânicas básicas do game, “Lightning Returns” oferece uma aventura cheia de oportunidades de diversão, desde que você tenha a mente aberta e faça algumas concessões para as falhas do projeto - entre elas, o enredo mais fraco da trilogia.

Distanciando-se totalmente da fórmula tradicional de “Final Fantasy” na formação de grupo (só há um personagem controlável: Lightning) e no combate (mais próximo aos chamados RPGs de ação), “Lightning Returns” é o jogo que mais se aproxima da estrutura clássica de missões, cidades e aventuras paralelas típicas dos jogos de RPG.

Por se tratar do final de uma trilogia, “Lightning Returns” deveria oferecer uma despedida emocionante para Lightning e o jogador. Porém, a sensação que fica é mais de alívio pela conclusão do que a satisfação e a saudade que poderia vir com o fim.

Introdução

Quinhentos anos depois dos eventos de “Final Fantasy XIII-2", o mundo de Grand Pulse está uma verdadeira bagunça: as pessoas não morrem mais de causas naturais, religiões disputam a verdade sobre profecias envolvendo deuses antigos, Caos, Ordem, o fim do mundo e uma salvadora de cabelos cor de rosa.

As profecias estão corretas - ainda que seus intérpretes não concordem sobre o significado - e o mundo está prestes a acabar. Nesses dias finais, Lightning volta como “a salvadora”, enfrentando as forças do Caos e recolhendo as almas da humanidade para a divindade com quem fez uma barganha, pagando um preço que apenas suspeita ser caro demais.

O jogo traz um novo sistema de combate e evolução, presta uma bela homenagem aos “jobs" dos “Final Fantasy” do passado e oferece um final para a saga que começou em um já distante 2010.

Pontos Positivos

Sistemas de combate e classes

O ponto alto de “Lightning Returns” é o sistema de combate, bem próximo de um RPG de ação, mas com a mesma variedade estratégica dos episódios anteriores. Ainda que não se compare ao divertido e direto sistema de “Tales of Xillia”, por exemplo, é uma reinvenção mais ousada do que o modelo adotado em “XIII-2”.

Lightning pode se mover ao redor dos inimigos durante o combate e você alterna entre classes pré-definidas, golpeando e disparando magias para atordoar o oponente. Uma vez atordoado, o alvo se torna mais suscetível a dano, exatamente como nos games anteriores da série.

As batalhas costumam ser rápidas, mas aquelas mais trabalhosas - chefes de fase e grandes monstros opcionais - requerem muito mais estratégia e atenção do jogador. De fato, não existe uma curva de dificuldade muito clara em “Lightning Returns”: o combate varia entre muito fácil e muito difícil, sem uma progressão entre um ponto e outro da escala.

Não há um grupo de personagens, como é o costume de “Final Fantasy” e de outros RPGs tradicionais. Aqui, você controla apenas Lightning e alterna entre vários “jobs”, as classes do jogo, ao toque de um botão do controle. Cada classe possui seu próprio traje característico, arma e escudo, às vezes um ou outro poder pré-definido e outros tantos selecionados pelo jogador. Escolher as classes de Lightning é o mesmo que planejar a formação do grupo, mas na hora da luta, a dinâmica de controlar uma só personagem deixa a experiência mais ágil e furiosa.

Direção de arte

“Lightning Returns” segue o padrão da Square Enix com cenas de animação excepcionais - como demonstram bem os 10 minutos da sequência de abertura. O jogo também capricha no design de Lightning e seus diversos trajes e equipamentos, assim como nos outros personagens principais.

As diferentes roupas da protagonista podem ser personalizadas com alguns detalhes cosméticos – como óculos escuros ou tatuagens – mas chamam mais a atenção pelas homenagem nostálgica aos ‘jobs’ do passado da série. Fãs ‘das antigas’ certamente reconhecerão várias das referências.

Assim como os episódios anteriores de “Final Fantasy XIII”, “Lightning Returns” figura entre os jogos mais bonitos da geração PlayStation 3 e Xbox 360 - mas peca um pouco na aparência de personagens secundários e em alguns cenários.

Replay

A campanha principal de “Lightning Returns” é uma corrida contra o relógio. O fim do mundo vai acontecer em 13 dias e a passagem do tempo é implacável - o relógio pausa para cenas de corte e para as batalhas (além de uma irritante pausa diária para prestação de contas), mas fora isso, está sempre avançando, o que acrescenta uma dose extra de tensão ao jogo.

Mas se o relógio chegar ao fim antes de você terminar a campanha, nem tudo estará perdido. “Lightning Returns” permite jogar diversas vezes através de uma opção de “New Game +”. Se o mundo acabar antes de você terminar a campanha, pode começar de novo com os atributos e itens que conseguiu na tentativa anterior.

Claro, começar um jogo novo após terminar a campanha principal de “Lightning Returns” rende vantagens maiores, como melhorias para as armas.

Pontos Negativos

Enredo e missões paralelas

“Final Fantasy XIII” e “XIII-2” são ótimos exemplos de sistemas de jogo bem elaborados que sobrepujam enredos apenas razoáveis. “Lightning Returns”, porém, força a barra nesse aspecto. É preciso ser muito fã para se envolver com a trama e, por mais que cada encontro importante seja acompanhado de uma introdução sobre os personagens - que invariavelmente vêm dos jogos anteriores - você só vai apreciar os detalhes se tiver passado pelos outros games primeiro.

A trama de “Lightning Returns” serve mais para confrontar a protagonista com personagens dos jogos anteriores, justificando de forma bastante superficial a presença de figuras como Snow, Vanille e Sazh, por exemplo, ainda relevantes no mundo mil anos depois de “Final Fantasy XIII”.

Mesmo colocando Lightning de volta em cena, o jogo não aproveita para aprofundar a personagem ou demonstrar as mudanças pelas quais ela passou desde o primeiro game. “Lightning Returns” encerra a narrativa iniciada em 2010 repetindo os mesmos erros do passado e afastando qualquer chance da série se tornar memorável para os fãs de “Final Fantasy”.

Quando não está correndo atrás da campanha principal, Lightning está executando missões paralelas para personagens secundários que conhece nas ruas das várias cidades do game ou deixadas em “orações para a salvadora” em um mural.

Cumprir as missões rende almas extras e outras recompensas, mas salvo raras exceções - como as batalhas contra monstros opcionais - as muitas missões do game não parecem tarefas dignas para uma mulher considerada “a salvadora da espécie humana”: recuperar uma bola no telhado, avisar um guarda que ele está atrasado para trocar de posto com um colega, coletar itens e outros objetivos menores são constantes no último “Final Fantasy XIII”.

Por marcar o fim de uma trilogia, “Lightning Returns” deveria oferecer uma despedida emocionante, mas no fim das contas, a sensação maior é de alívio por essa saga estar finalmente concluída.

Limite de tempo

Por mais que adicione tensão ao game, o limite de tempo muitas vezes é irritante ou impeditivo para quem gosta de explorar minuciosamente as aventuras que um RPG desse porte oferece. Tudo que envolve “grinding” em “Lightning Returns” é muito bacana, mas na prática, é deixado de lado para que o jogador não termine punido pela passagem do tempo.

Matar uma grande quantidade de monstros de um determinado tipo, por exemplo, atrai um eventual “último da espécie”, que, uma vez morto, resulta no fim daquelas criaturas e rende alguns itens de alta qualidade. Porém, aproveitar esse sistema envolve passar horas dentro do jogo caçando e matando aquelas mesmas criaturas - e isso termina por prejudicar o avanço do jogador.

Outras situações similares envolvem a busca por itens para a síntese e evolução de habilidades ou mesmo explorar os mapas livremente - atividades paralelas bem divertidas, mas que são deixadas de lado pela pressão do relógio.

Sistema de evolução

As missões secundárias de “Lightning Returns” são ruins, meio bobas e tomam tempo, ainda mais nos casos em que exigem encontrar itens, criaturas ou pessoas que só estão disponíveis em certos períodos do dia. Por que perder tempo com elas? Porque, infelizmente, é através dessas missões que você evolui no jogo.

Você não ganha pontos de experiência em “Lightning Returns”, nem tem o belo e funcional Crystarium dos jogos anteriores para desbloquear suas habilidades. Aqui, os atributos da heroína são melhorados conforme você cumpre as missões secundárias.

Parece uma boa idéia: você é recompensado pelas ações de Lightning no game e não por passar horas matando os mesmos monstros - ainda que as batalhas rendam dinheiro e EP, pontos bastante úteis em situações de combate mais difíceis. Porém, como as missões paralelas não são das melhores e você não tem poder de decisão sobre as melhorias que Lightning recebe ou qual atributo vai ganhar mais pontos, é um processo automático que aliena a participação do jogador.

Nota: 7 (Bom)