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Metro Last Light

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

28/05/2013 18h45

"Metro Last Light" é um jogo de tiro denso e perturbador, bem parecido com as novelas russas nas quais é baseado. O jogo traz uma trama complexa, bons momentos de tiroteio e outros tantos que exigem furtividade, um cenário que dá gosto de explorar e uma excelente narrativa.

Um dos últimos jogos em produção durante a derrocada da THQ, "Last Light" apresenta problemas que parecem refletir o período de desenvolvimento complicado. Há falhas técnicas que estragam a experiência, algumas simples e até aceitáveis, outras grotescas e que simplesmente não deveriam estar ali.

Mas, de forma geral, é um jogo de tiro bem diferente de tantos outros que inundam o mercado e mais do que recomendado para quem quer algo além do "mais do mesmo". E sim, dá para entender sem jogar o "Metro" original. Mas se você jogou, vai aproveitar melhor. Para ter a experiência ideal, recomendo muito a leitura de "Metro 2033", o livro que inspira e explica toda a ambientação.

Introdução

"Metro Last Light" continua a história de Artyom, protagonista de "2033", praticamente de onde ela parou: o rapaz agora é um membro ativo de um dos vários grupos que disputam o poder nas profundezas do metrô de Moscou, após um clássico apocalipse nuclear. Artyom possui um dom - e ao mesmo tempo uma maldição: ele é capaz de se comunicar telepaticamente com os Dark Ones, seres monstruosos que habitam o mundo da superfície.

Escolhido para reunir a espécie humana e os Dark Ones - ou dar cabo dos mutantes e levar a humanidade de volta ao seu lugar de direito - Artyom parte em uma aventura pelo metrô moscovita, encarando as diferentes facções que habitam os túneis, como o Reich, os comunistas e a Hansa, entre outros.

A jornada é pontuada por tiroteios, escapadas furtivas, exploração e tensas sequências de alucinações e pesadelos, que aproximam o jogo da obra literária original.

Pontos Positivos

Ambientação sombria

Mundos pós-apocalípticos são comuns nos videogames, mas em geral, são retratados pela ótica norte-americana. "Metro Last Light" traz um ponto de vista totalmente diferente para o cenário: além de se passar em Moscou, é baseado nos livros de um escritor russo, Dmitry Glukhovsky.

Esse detalhe faz toda a diferença: saem de cena os clichês dos filmes de Hollywood e entram personagens curiosos e diversas facções que tentam reviver sociedades européias anteriores, como os comerciantes da Hansa (referência à Liga Hanseática, guilda comercial que dominou o Mar do Norte no passado), os fascistas membros do Heich e várias outras.

Explorar as estações de "Metro" e ouvir as conversas de seus habitantes, assistir as apresentações decadentes do Teatro Bolshoi e ler as anotações de Artyom sobre esse mundo são atividades tão interessantes quanto a jogatina em si. A ambientação sombria e exótica fazem "Last Light" ganhar vida diante do jogador e convidam você a ir cada vez mais fundo em seus túneis escuros.

A vida selvagem é outro detalhe fascinante, com mutantes que lembram lobisomens e outros ainda mais bizarros: alguns parecem saídos direto dos filmes de "Aliens", correndo por túneis e pelo teto para surpreender Artyom, sempre evitando a luz de sua lanterna.

Para completar, Artyom é assombrado por alucinações em diversas passagens do jogo, algumas ligadas à trama principal e outras apenas para pontuar a experiência de vagar pelos túneis fantasmagóricos do metrô moscovita.

Arsenal exótico

O combate era a pior parte de "Metro 2033" e isso foi corrigido em "Last Light". Agora os inimigos são mais espertos, principalmente quando você joga no Ranger Mode, a dificuldade mais alta do game. Muitas vezes é preciso se valer da furtividade e da escuridão para aumentar suas chances. Em outras, porém, sair na bala é inevitável.

E o jogo oferece um arsenal bem variado e exótico, com armas modificadas com peças encontradas no ferro-velho dos túneis. Além das manjadas miras, silenciadores e outras parafernálias, você pode equipar escopetas com quatro canos, por exemplo. Granadas incendiárias e facas de arremesso complementam a lista, permitindo uma boa diversidade ao estilo de cada jogador.

É importante lembrar que em "Last Light" sua munição é limitada, tanto pela escassez de recursos quanto pelo fato de que as balas valem, literalmente, dinheiro. Munição é a moeda corrente no metrô de Moscou. Usar seus melhores projéteis contra inimigos comuns é desperdiçar recursos, que poderiam ser usados para abater um mutante poderoso ou comprar melhorias para suas armas.

Ação furtiva

A forma mais legal de jogar "Last Light" é se valendo da furtividade. Você pode se esgueirar pelas sombras, sempre de olho no mostrador do relógio de Artyom, que avisa se você está visível para seus inimigos. O personagem conta com uma lanterna, um isqueiro e outros equipamentos que auxiliam na exploração dos cantos mais escuros - e que em muitos casos, são essenciais para a sobrevivência.

Você pode desligar lâmpadas, passar despercebido pelas tropas inimigas ou partir para cima deles, nocauteando os soldados rivais ou passando a faca em seus pescoços. Explorar a área é sempre uma boa idéia, não só para recolher itens e munição, mas também para apagar toda a iluminação e desligar alarmes.

As mecânicas de furtividade funcionam bem, sem os requintes de um "Dishonored" ou, claro, um "Metal Gear Solid", mas cumprem sua função sem frustrar o jogador.

Pontos Negativos

Falhas técnicas

"Last Light" passou por momentos complicados durante seu desenvolvimento. O jogo foi um dos últimos títulos da THQ antes de ser vendido em leilão para a Koch Media. O jogo sofreu com esses revezes e isso é visível nas falhas técnicas presentes no produto final.

Desde falhas de colisão que causam incômodos em espaços mais apertados, quando dois personagens ficam se chocando como se estivessem atraídos um pelo outro até uma longa sequência de inimigos congelados em um corredor, que prometia ser uma das batalhas mais emocionantes do game.

O pior foi não conseguir nem matar esses oponentes: bastava golpear um para as mãos de Artyom acertarem o vazio e o personagem ficar congelado também - a única saída foi reiniciar o jogo no checkpoint anterior e caminhar por entre todos aqueles personagens sem vida, presos em sua Matrix defeituosa.

O jogo não é um fiasco técnico completo, longe disso. Mas esses momentos quebram a experiência e são impossíveis de ignorar. Espero que uma atualização futura dê conta de corrigir essas falhas.

Cenas constrangedoras

"Metro Last Light" não é um jogo para crianças. A temática madura é acompanhada  por referências a morte, violência e sexo. Até aí, tudo bem, são elementos que fazem parte da vida adulta, ainda mais em um futuro pós-guerra nuclear. Porém, o jogo traz duas cenas de sexo - uma que faz parte da trama principal, a outra totalmente opcional - e elas são bastante constrangedoras.

Sem falso puritanismo, as cenas nãos são constrangedoras pelo sexo em si, mas pela caracterização dos personagens. É um jogo todo mostrado em primeira pessoa, então ver aquele boneco sem vida se mexendo de forma esquisita em uma 'lap dance' no colo de Artyom é embaraçoso. Há várias formas de executar uma cena dessas, seja com elegância ou sensualidade - mas as escolhas da produtora 4A Games estão bem longe das melhores alternativas neste caso.

Nota: 8 (Ótimo)