| Análises  |
| Black & White PC "Sem dúvida uma das mais bem acabadas e ousadas obras já feitas na história dos videogames."
16/04/2001
da Redação |
Depois de três anos de espera, Peter Molyneux finalmente terminou os toques finais em sua obra-prima e ofereceu seu "primeiro jogo entregue sem arrependimentos" (nas palavras do próprio). Ele pagou os seis milhões de dólares gastos no projeto de seu próprio bolso. E no final das contas, com expectativas tão altas por parte da imprensa e do público, ele consegue agradar aos proverbiais gregos e troianos?
A resposta é sim.
Tudo em Black & White é épico. Desde os aspectos mais simples de seu enredo até a parte técnica de programção desse jogo é simplesmente sem precedentes. A equipe não apenas incorporou detalhes que fizeram de The Sims um sucesso, mas também traz todos os aspectos de estratégia que consagraram Molyneux em sua jogografia (Populous, Theme Park, Magic Carpet e Dungeon Keeper).
A premissa de Black & White é bastante simples, dado o tamanho do esforço final: um pobre garoto de um vilarejo em uma ilha foge de seus pais e vai nadar, sem suspeitar que tubarões espreitam a costa. Os pais do menino rezam fervorosamente por um milagre... e eis que dos céus surge um novo deus - você - que resgata o filho. Como agradecimento, a vila começa a adorá-lo. Na posição de deus, cabe a você cuidar de seus adoradores.
Mas isso é só o começo. A premissa é baseada em uma crença nórdica, que diz que o poder de um deus é resultado de quanto ele é adorado. E por isso, você precisa garantir que seus discípulos respeitem sua forma divina. Isso pode ser feito de duas maneiras: ajudando-os como um deus benevolente... ou aterrorizando-os, para garantir que eles continuem rezando em seu favor.
E essas opções acabam por modificar o decorrer do jogo. Sendo um deus bondoso, flores se espalharão pelo seu reino, seu templo se tornará uma gigantesca torre de marfim brilhante, e pássaros cantarão pelas extensões de seus domínios. Mas se você se provar um deus impiedoso, a grama apodrecerá, rios secarão e seu templo ficará escuro e cheio de espinhos. E é por isso que o jogo recebe o nome Black & White (Preto e Branco).
As pequenas pessoas que habitam a ilha tem problemas, e pedem o seu auxílio. Sua primeira missão será obter uma pedra mágica. Ela está no poder de uma mulher da vila, que pede que em troca você resgate o irmão doente dela que fugiu para a floresta. Claro, você pode usar sua mão divina, trazê-lo até a mulher e ganhar a pedra. Mas por que fazer isso quando se pode matar a mulher, destruir a casa para obter a pedra e AINDA POR CIMA levar o corpo dela para o irmão doente, que morrerá com o choque? Apenas essa missão tem 11 opções diferentes. O jogo tem mais de duzentas dessas histórias.
Para finalizar a mistura, entra um último elemento: o seu titã, um animal que você treinará e servirá de elo entre você e o mundo. A escolha de animais no início do jogo é pequena: vaca, chimpanzé ou tigre. Mas opções secretas como rinocerontes, ovelhas, tartarugas e cavalos estão escondidas no decorrer da trama.
O animal é possívelmente um dos mais interessantes elementos de Black & White. Você não pode dar ordens diretas para ele. Sua função é treiná-lo, punindo-o e recompensando-o por fazer coisas "certas" ou "erradas", e aos poucos ensinando como executar mágicas e manipular objetos.
Um dos aspectos interessantes é que você pode treinar o animal de qualquer maneira imaginável. Recompense-o quando ele comer um dos habitantes da vila e você criará a perfeita Besta do Apocalipse, pronta para manter seus crentes em perpétua adoração. Mas se você quiser ser considerado uma divindade benevolente é melhor começar a treinar sua criatura a não fazer necessidades dentro dos perímetros do vilarejo. A resposta da criatura é uma das mais incríveis já vistas. Elas realmente aprendem e se comportam de maneiras diferentes, e a quantidade de excentricidades desenvolvidas já está atingindo repercussão na Internet: um tigre nos EUA começou a colecionar pedras na sua toca, enquanto uma vaca na Alemanha só bebe água durante a noite. O grau de apego com as criaturas é tal que muitos se sentem culpado em puní-las.
Agora misture tudo isso em um jogo de estratégia, onde você deve micro-gerenciar as vilas, lutar contra divindades de outros povos pela crença de seus habitantes e épicas batalhas entre tartarugas e vacas de 400 metros de altura e você começa a perceber como o projeto é ambicioso.
O controle do jogo é totalmente centrado no mouse (com alguns atalhos no teclado - vale a pena mapear o movimento da câmera para as teclas ASDW) e não existe interface gráfica. Magias são feitas desenhando símbolos com o cursor. O resultado não é apenas elegante, mas também permite que 100% da tela se destine ao jogo, e não à interface.
Muitos que acompanharam o desenvolvimento de Black & White reclamaram que o micro-gerenciamento tomava muito tempo, distraindo-os da educação de suas criaturas e de atender os pedidos do povo. Mas é aí que está o segredo do desafio: encontrar um equilíbrio entre essas duas funções. No decorrer da trama, você descobre a existência de Nemesis, um outro deus que pretende destruir todos os oponentes para reinar supremo sobre o Universo. E por isso você precisa expandir seus domínios para poder enfrentá-lo.
E se tudo isso não bastasse, Black & White está literalmente cheio de pequenas surpresas. Sejam as criaturas e milagres escondidos, até opções como importar sua lista de e-mail para que todos os vilarejos sejam habitados por conhecidos seus (os nomes da sua lista), ou puxar a previsão do tempo via Internet para que a condição meteorológica do jogo seja a mesma de sua área. E se isso não bastar para você, é possível levar suas criaturas para combates online via rede. É mole?
Black & White pode ter alguns problemas, mas é sem dúvida uma das mais bem acabadas e ousadas obras já feitas na história dos videogames. Sua complexidade por assustar alguns, mas o apelo de cada detalhe pode encantar e até mesmo levar os menos experientes a se engajar em longas sessões de exploração. Além do mais, quem nunca quis um bichinho virtual de meio quilometro de altura?
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