Too Human
Eis que após quase uma década, "Too Human" encontra um lar no Xbox 360, com a parceria entre a Silicon Knights e a Microsoft Game Studios. Não que isso tenha significado o fim dos problemas para a equipe de criação do jogo, que comprou briga com a Epic Games, a qual perdura até hoje. Desavenças à parte, o jogo finalmente chegou às lojas. Mas depois de tantos vendavais, será que ele ainda é o prometido RPG revolucionário que todos nós aguardamos por tanto tempo?
Mitologia cibernética
O universo de "Too Human" é inspirado pela mitologia escandinava, em que os deuses de Midgard buscam na robótica e na cibernética a imortalidade, enquanto travam uma luta com robôs tão tecnologicamente avançados que aspiram a humanidade. Neste conflito paradoxal à la "Blade Runner", você é Baldur, um guerreiro idolatrado pelos humanos e filho do grande Odin.
Ao longo da jornada, diversas divindades do panteão escandinavo aparecem na trama, como Thor, Heimdall, Freyja e Mimir, todos adaptados para o universo futurista do jogo e apresentando personalidades distintas e convincentes. Loki, como nos contos mitológicos, aparece como um Aesir (deus) traidor e, conseqüentemente, acaba se tornando o grande vilão.
Justiça de Heimdall |
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Paralelamente ao mundo real, em que a natureza foi extinta e o que se vê são apenas estruturas metálicas, há o mundo ciberespacial, que ironicamente é representado por paisagens vastas e naturais, sem a interferência da tecnologia. Embora sua visita ao ciberespaço seja muitas vezes opcional, lá você pode encontrar itens secretos a custo de muito bate-perna e realizar alguns quebra-cabeças que, de tão simples, chegam a ser enfadonhos.
Apesar das boas idéias conceituais, o mundo de "Too Human" ainda é muito frio e sem vida. Quando se está na cidade não há o que fazer além de comprar novos itens e dar continuidade no enredo, visitando locais específicos. De nada adianta ter grandes e belos ambientes para explorar se a única coisa que se pode fazer é correr de um lado para o outro.
Lutas desengonçadas
Se o foco do jogo são as batalhas, pelo menos neste aspecto ele se dá bem, ainda que com ressalvas. Logo no início é preciso escolher entre cinco classes diferentes de personagens, cada qual com alguma especialidade: bioengineer (capaz de curar a si mesmo e a aliados); commando (especializado em combates à longa distância); champion (classe balanceada, que usa tanto armas brancas quanto de longa distância); defender (capaz de resistir a grandes danos) e berserker (especializado em combates à curta distância).
Seqüência |
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No entanto, por mais que você queira aprender todos os golpes e aplicá-los nos momentos certos, os comandos parecem ser pouco precisos. Ironicamente, você perceberá que durante os ataques é mais eficaz mover o direcional aleatoriamente, que seu personagem acabará desferindo uma série de golpes por conta própria.
Um dos problemas aqui é que, ao contrário de jogos como "Devil May Cry", que o personagem ataca elegantemente, ligando os movimentos dos golpes seqüenciais, em "Too Human" não houve um cuidado com a animação. Seu personagem simplesmente voa em linha reta para o alvo mais próximo durante os combos, de uma forma muito automática, às vezes até se movimentando de costas, o que é bastante estranho.
Há um medidor que se enche de acordo com a quantidade de golpes consecutivos e, quando preenchido, você ganha pontos que podem ser usados para executar habilidades especiais, como o grito de guerra, que aumenta temporariamente os parâmetros do personagem, ou explosões, que mandam todos os inimigos ao redor de Baldur para os ares.
Já os gatilhos esquerdo e direito servem para as armas de grande (lançadores de granadas) e pequeno (pistolas) impacto, respectivamente. Embora na maioria das vezes eficiente, o esquema de controle pode ser um pouco confuso no começo. Pressionando um dos gatilhos, você trava a mira no inimigo mais próximo. Para mudar o alvo é preciso manter um gatilho pressionado e apontar para o inimigo desejado com o direcional direito (o mesmo do ataque). Contudo, se você move o direcional sem pressionar o gatilho, você ataca com sua arma branca, perdendo o alvo de vista. Além do mais, quando existem muitos inimigos ao seu redor (o que é muito comum) e você quer atacar um alvo específico, é praticamente impossível travar a mira no oponente desejado.
Tudo isso faz com que as batalhas sejam um pouco desengonçadas, ainda que bastante divertidas. Outro problema é a recuperação de energia, que só pode ser feita adquirindo itens de saúde derrubados aleatoriamente pelos inimigos mortos ou destruindo caixas pelos cenários, caso você não seja da classe bioengineer. Sendo assim, você fica num impasse quando está quase morrendo: arrisca sua vida e enfrenta inimigos para, quem sabe, conseguir um item de saúde, ou foge, a procura de caixas que talvez possam conter energia? A verdade é que, nesses momentos, a morte é quase certa.
Vale notar que quando você morre, a única punição é ser obrigado a ver uma animação chata de aproximadamente 30 segundos, que mostra uma valquíria descendo de um portal e carregando o herói moribundo, pois fora isso, seu equipamento perde alguns pontos de durabilidade. Após a animação, geralmente o personagem volta para o mesmo local onde foi morto.
Embora as batalhas de "Too Human" sejam bastante divertidas, não dura muito até que se tornem repetitivas, uma vez que a variedade de inimigos do jogo é pífia. Você enfrentará praticamente os mesmos inimigos em todas as longas quatro fases principais do jogo. Ainda que alguns exijam diferentes táticas para serem aniquilados, a ação raramente toma rumos inesperados.
O novo "Diablo"?
A customização do personagem é um dos trunfos do jogo. Tal como "Diablo II", existem centenas de itens, entre armaduras, elmos, botas, além das armas, cada qual com seus parâmetros, que melhoram os atributos de Baldur e confere-lhe diferentes visuais. Não bastasse a enorme variedade de equipamentos, ao longo da jornada você ganha runas, que podem ser acopladas às armaduras e armas para aumentar diferentes parâmetros do personagem. Há, inclusive, um tipo especial de runa que exige a realização de uma determinada tarefa para potencializar ainda mais seu efeito, como derrotar certa quantidade de inimigos ou realizar um golpe específico dezenas de vezes. Pode-se também criar equipamentos novos e especiais, em troca de uma quantia significativa de dinheiro.
Você não precisa estar em uma cidade para vender ou criar itens, pois tudo pode ser feito diretamente na tela de gerenciamento do personagem, de forma rápida e simples. Por outro lado, devido à enorme quantidade de itens, a tela de customização é um pouco lenta e confusa.
Mitologia nórdica |
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Outro ponto fraco é a curta duração de "Too Human". Para um jogo que durou quase 10 anos para ser desenvolvido, é de se estranhar que a campanha principal dure pouco mais que dez horas, um número considerado baixíssimo para um jogo do gênero. Por sorte, você pode começar uma nova aventura com seu personagem já evoluído, em um nível de dificuldade mais elevado. Além disso, todos os pontos de habilidades ganhos com a evolução do personagem podem ser adquiridos de volta e distribuídos de outra forma em sua árvore de habilidades, como em "World of Warcraft".
Outro fator que aumenta consideravelmente a durabilidade do game é a modalidade multiplayer, a qual permite que dois jogadores percorram as masmorras futuristas juntos, de uma forma prática e funcional.
A inconsistência de "Too Human" atinge também a parte gráfica e sonora. Ora ele é bonito e visualmente impressionante, ora se parece com jogos lançados no começo da geração, apresentando texturas pobres e efeitos pouco convincentes (principalmente nos campos entediantes do ciberespaço). A vastidão dos cenários e a arquitetura futurista e fantástica têm seus valores, porém tudo parece ser muito cinza e repetitivo, com texturas metálicas presentes em praticamente o jogo todo. Já a modelagem dos personagens impressiona bastante, ainda que eles sejam um pouco inexpressivos.
A trilha sonora, embora não traga melodias muito marcantes, é bonita, mas simplesmente parece não combinar com o estilo de "Too Human". É no mínimo bizarro ouvir violinos melancólicos em um ritmo lento, quase funesto, enquanto você enfrenta desenfreadamente robôs em fortalezas escuras e futuristas, para algumas horas depois a trilha mudar para um rock pesado. Vai entender?
Nota: 7 (Bom)
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