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True Crime

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

27/08/2012 19h08

O desenvolvimento de "Sleeping Dogs" foi dos mais conturbados, desde os tempos em que era "True Crime: Hong Kong" e foi descartado pela Activision. Mesmo quando a Square Enix abraçou o título, a impressão geral é de que seria mais um clone de "GTA" e não necessariamente dos melhores.

Talvez por isso, o resultado final surpreenda tanto. O game combina elementos de vários outros títulos: além de "GTA", é visível a inspiração nos recentes "Batman", em "Max Payne" e até mesmo em "Yakuza", só para citar os mais óbvios.

Ainda assim, a ambientação em Hong Kong, a trama policial envolvente e o elaborado sistema de luta e evolução dão à "Sleeping Dogs" identidade própria e garantem o lugar do jogo entre as surpresas de 2012.

Introdução

"Sleeping Dogs" é um jogo de ação em mundo aberto. Aqui, você controla Wei Shen, um policial infiltrado no submundo das Tríades, a máfia chinesa. Para subir na hierarquia da bandidagem, Wei cumpre toda sorte de missões nas ruas de Hong Kong, ao mesmo tempo em que precisa resolver casos para a polícia.

O jogo transforma o conflito e a tensão de um policial infiltrado em uma grande aventura, que combina tiroteios, corridas, perseguições, espionagem e muita pancadaria com uma boa história e personagens que, mesmo estereotipados, conseguem cativar o jogador.

Pontos Positivos

Ambientação e enredo

A United Front Games caprichou na ambientação de "Sleeping Dogs". Hong Kong é uma metrópole enorme, cheia de coisas para ver e fazer. Mais ainda, possui uma atmosfera única, que a diferencia da Libert City de "GTA IV" ou qualquer outra cidade de jogos do gênero. Desde as barraquinhas de comida, os vendedores de produtos piratas e restaurantes exóticos até os arranha-céus brilhantes e as placas de neon, "Sleeping Dogs" consegue convencer o jogador de que está estrelando um filme B de artes marciais - e isso não é uma crítica, mas um elogio.

O enredo gira em torno de Wei Shen e sua vida dupla, como agente da lei infiltrado na máfia de Hong Kong. Embora perambular pela cidade seja muito divertido, seja participando de corridas, fazendo favores para os amigos ou buscando por itens colecionáveis, é nas missões da história que "Sleeping Dogs" brilha.

Os personagens são estereotipados, desde o melhor amigo até o chefão da Tríade, mas funcionam muito bem. É fácil se questionar para qual lado a lealdade de Wei penderá no final e isso - aliado ao bom design das missões - impele o jogador a seguir em frente, encarando toda sorte de aventura até o desfecho da trama.

Combate e evolução

Em Hong Kong, armas de fogo não são tão comuns quanto nos EUA. Na maior parte do tempo, Wei e os outros gangsters resolvem suas rixas no braço, com golpes de kung-fu e MMA. As lutas são violentas e o sistema de combate é cheio de combos e movimentos especiais, aprendidos conforme Wei progride no jogo.

Além dos chutes giratórios, socos e agarrões, Wei pode usar objetos do cenário para golpear seus inimigos com estilo. É divertido arrastar os oponentes até um objeto diferente só para ver o que acontece: as consequências são variadas, desde jogar o sujeito dentro de um latão de lixo até fechar a porta do carro na cara do sujeito até outras muito mais cruéis e sangrentas.

Na hora dos tiroteios, o sistema mistura o uso de cobertura com saltos em câmera lenta - como nos filmes do diretor John Woo e no recente "Max Payne 3". Há também trechos de tiro durante as perseguições de carro, que são menos tensos mas rendem ótimas sequências de carros voando em câmera lenta e explosões. Ainda sobre os veículos, Wei pode roubar carros saltando para o capô deles - movimento que veio lá de "Wheelman", o divertido game do Vin Diesel que quase ninguém jogou.

Por fim, há os trechos de perseguição a pé, em que Wei precisa correr atrás de um adversário ou fugir da polícia. São corridas cheias de saltos e onde é preciso se pendurar em grades, pular cercas e explorar os telhados de Hong Kong, que geralmente terminam com uma boa e velha briga.

Ao longo do jogo, Wei ganha níveis em 3 atributos: Tríade, Polícia e "Face" (de 'Facemelting', 'derreter a cara', em português). O primeiro mede seu sucesso nas missões para a máfia, o segundo nos casos de polícia e o terceiro, seu 'estilo', sua capacidade de espancar inimigos com golpes muito loucos sem ser atingido, os tiros certeiros e manobras radicais com os diversos veículos do jogo.

Ao ganhar experiência, você libera novas habilidades e movimentos, efeitos de câmera lenta e bônus na hora de roubar um carro ou se meter numa briga, por exemplo. O melhor é que, até o fim do jogo e com alguma dedicação, você consegue habilitar todas as perícias e bônus para Wei, sentindo-se realmente um cara mais poderoso e durão conforme avança.

Muito para ver, muito para fazer

A Hong Kong de "Sleeping Dogs" tem muita coisa para se ver e fazer: são vários tipos de colecionáveis. Alguns deles concedem dinheiro e roupas extras, outros permitem que Wei aprenda uma nova técnica na escola de artes marciais. Outros, aumentam a barra de vida do personagem. A busca pelos colecionáveis fica mais fácil conforme Wei evolui - aos poucos, todos ficam marcados no mapa, ainda que alguns sejam meio complicados de encontrar, mesmo assim.

Além dos colecionáveis, Wei pode comprar roupas. Algumas delas são divertidas, outras deixam o personagem mais estiloso. Alguns conjuntos, porém, dão bônus para as diferentes barras de evolução, o que estimula você à adquirir todas.

Algumas missões paralelas envolvem minigames de espionagem, como hackear câmeras de segurança, grampear telefones, tirar fotos de suspeitos e plantar gravadores, entre outros. Esses minigames são, em sua maioria, inspirados nos de outros títulos, como "Batman: Arkham Asylum" e "GTA: Chinatown Wars". São simples e requerem um pouco de atenção, mas cumprem sua função e divertem.

Quando não está cumprindo suas missões, Wei tem diversas atividades para passar o tempo: desde encontros com namoradas, cantorias no karaokê, corridas, torneios de luta e apostas em brigas de galo - um tanto cruéis, mas se encaixam na ambientação.

Pontos Negativos

Rede social inconstante

"Sleeping Dogs" é um game para um jogador, mas com um componente social bastante promissor: uma rede social que registra as estátisticas do usuário e compara, durante a partida, com os resultados de seus amigos. São coisas como quanto tempo você consegue dirigir rápido sem bater, ou quantos inimigos você acerta com voadoras ou nocauteia em sequência.

É um estímulo bacana para tentar melhorar sua performance, mas infelizmente, a rede passa mais tempo do que deveria fora do ar. É muito chato entrar no jogo e ver o aviso que o "social hub" está indisponível, várias vezes por dia e a Square Enix precisa resolver logo essas quedas constantes.

Rádios nada memoráveis

"Sleeping Dogs" possui várias rádios, de música tradicional chinesa até música clássica, passando por heavy metal, R&B e hip-hop. A diversidade, porém, não se reflete na qualidade. Mesmo com Tears for Fears, Soulfly e Dream Theater, nenhuma das rádios de "Sleeping Dogs" é realmente memorável, daquelas que fazem você entrar no jogo só para pegar um carro e dar uma volta ao som da sua estação favorita. E não ter uma rádio com as músicas pop-bregas das casas de karaokê é um desperdício dos direitos adquiridos pela produtora.

Faltou polimento

Por mais divertido e envolvente que seja, "Sleeping Dogs" possui lá suas falhas técnicas. Em algumas brigas, a câmera pode atrapalhar, se posicionando no pior local possível. Em outras, um erro de colisão bizarro pode levar Wei e seu oponente para o alto, só para depois soltar um dos dois e deixar o outro lá, suspenso em um local inatingível. Alguns veículos parecem muito mais leves do que deveriam e em alta velocidade, alguns dos bólidos não parecem estar realmente tocando o chão.

São pequenas falhas que exigiriam mais atenção e mais tempo de polimento antes do lançamento do jogo, mas que não diminuem a diversão proporcionada, só impedem "Sleeping Dogs" de ser um game ainda melhor.

Nota: 9 (Excelente)