"Final Fantasy" se tornou, com o passar dos anos, uma das maiores franquias do videogame, mas não sem levantar algumas polêmicas. Enquanto fãs inabalados buscam por todo tipo de novo material relacionado, há aqueles saudosistas que se focam na era 2D, do NES e Super NES, em uma clara indicação que os ares de superprodução ,com grandes efeitos e cenas cinematográficas, dos capítulos recentes acabaram por diluir a narrativa e mecânica da série.
Para tentar agradar aos dois grupos, a Square-Enix resolveu brincar com o clássico "Final Fantasy III", do NES, e dar nova roupagem para lançá-lo no Nintendo DS. O resultado foi tão bem sucedido que abriu as portas para um processo similar com "Final Fantasy IV", do Super NES, um jogo bem mais complexo e amado por jogadores veteranos e entusiastas do gênero. É volta de um dos maiores RPGs do videogame, com grande estilo, sem dúvida.
Uma história para mudar a históriaUm dos grandes trunfos de "Final Fantasy IV", na época de seu lançamento original, em 1991, foi sua narrativa, envolvendo o trabalho de alguns mestres como diretor Hironobu Sakaguchi, o artista Yoshitaka Amano e o produtor e roteirista Takashi Tokita. À frente de seu tempo, devido à grande complexidade e riqueza de seu enredo, o jogo mostrava a saga do cavaleiro negro Cecil, que depois de prestar seus serviços ao monarca do reino de Baron por muitos anos, se rebelou, cansado de tantos atos de violência e tirania. Mas claro que o herói não passa incólume, vivenciando uma série de eventos trágicos, criando um envolvimento dramático singular até então, à medida em que encontra e se relaciona com novos aliados pelo caminho.
A versão norte-americana original para Super NES, batizada de "Final Fantasy II", sofreu bastante com a tradução, perdendo bastante a intensidade da trama, mas tal problema acabou sendo corrigido numa versão lançada para PlayStation, em 2001. Mesmo assim ainda faltava alguma coisa, algo que os japoneses já sabiam; Tokita nunca escondeu que limitações técnicas e problemas de produção acabaram por limar quase três quartos do roteiro original. E agora, para a alegria dos fãs e estudiosos da série, alguns trechos até então inéditos deste script original, aparecem nesta versão para o DS, na forma de flashbacks que explicam melhor a relação de certos personagens, por exemplo.
Balanceando a açãoAlém dos novos trechos de história, algumas outras adições e ajustes foram feitos neste remake. Embora o esquema continue o mesmo, de falar com todo mundo, explorar mapas e enfrentar inimigos em batalhas aleatórias, o processo parece ser menos doloroso e enfadonho, obrigando o jogador a enfrentar menos inimigos do que antes. Como é um procedimento que se torna mecânico e repetitivo com a evolução de seus personagens, também foi implementado um sistema de auto-battle, como um piloto automático que controla seus personagens por você. Não é grande coisa e nem muito esperto, gastando itens precisos em batalhas muitas vezes idiotas, mas pode quebrar o galho em algumas áreas mais tranqüilas da aventura.
É bom dizer mais tranqüila em vez de mais fácil, porque "Final Fantasy IV" é um jogo exigente. É necessária uma boa cabeça para traçar estratégias que aproveitem todas as habilidades de seus personagens, pois as batalhas não dão trégua, principalmente nos chefes. Veteranos saberão o que fazer, uma vez que não há mudanças significativas nos poderes antigos dos heróis, mas há variantes importantes para dar um novo gosto. Além da implementação de um sistema de customização de menus há o Augment System, que permite a transferência de determinadas habilidades de um personagem para outro e a descoberta de alguns novos ao explorar dungeons e outros elementos da história.
Entre outras novidades há um novo mapa ativo, que mostra todos os elementos em tempo real, fazendo bom uso das duas telas do console. Outro destaque é a seleção de minigames controlados pela caneta stylus, envolvendo até mesmo desafios matemáticos, para evoluir Whyt, uma nova criatura controlada pelo computador, evocada pela personagem Rydia - que dá um belo upgrade no seu grupo se bem cuidado.
Visual modernoMesmo com os ajustes e extras, o que realmente conta em "Final Fantasy IV"para o Nintendo DS é o caprichoso trabalho gráfico e sonoro, que reconstruiu o jogo do zero. Agora tudo é em 3D, tanto os cenários quanto os personagens, com um design marcante que evoca o original de Amano e respeita o clássico do Super Nes. Provavelmente são alguns dos visuais mais belos da plataforma portátil, levando em consideração as limitações da mesma. Há até mesmo uma bela apresentação em CG.
O áudio também é acima da média para a plataforma, contando com remixes do inesquecível material de Nobuo Uematsu, incluindo a "Theme of Love", que se tornou até mesmo referência para músicos japoneses e aqui ganha letra por Tokita. Há alguns diálogos dublados, em momentos-chave da trama, mas pena que são apresentados em baixa qualidade, provavelmente devido à compressão.
CONSIDERAÇÕES
"Final Fantasy IV" retorna de maneira espetacular no DS, em um remake que consegue resgatar sua importância, ofuscada pelos capítulos seguintes, ainda mais complexos e envolventes. Ainda que a história não tenha sido fechada, apresentada com um roteiro completo, agora a experiência é muito mais satisfatória diante do balanceamento, extras e da nova roupagem. Não é um jogo para todos, principalmente os novatos, devido à alta dificuldade e aspectos antiquados, como o sistema de salvamento pouco amigável, mas os veteranos do gênero e fãs da série se sentirão em casa.