Desenhos japoneses freqüentemente servem de base para inúmeros jogos, como são os casos de "Naruto", "Dragon Ball Z" e, em menor escala, "Inuyasha". Todavia, quase sempre, jogos assim costumam ter qualidade duvidosa, salvo raras exceções.
É quase o que acontece com "Inuyasha: Secret of the Divine Jewel", incomum caso de um título baseado em desenho japonês que foi lançado diretamente no mercado americano. O game não chega a ser ruim, mas é daqueles que, não fosse o carisma dos personagens, não teria nenhuma característica marcante. Enfim, é um RPG tradicional e todo lugar-comum.
A história foi escrita especialmente para o game. De cara, se nota um esforço para deixar o enredo mais simpático para os americanos, com a introdução de uma personagem loira - aliás, protagonista -, nascida nos Estados Unidos, que acaba voltando ao Japão (isso explica o fato dela falar a língua) após o pai ser transferido para o Oriente. A premissa de Janis parece conveniente demais, mas ela se integra bem ao elenco do desenho, cuja temática é calcada em mitologias puramente japonesas (xintoístas, para ser mais exato).
Ademais, você vai ver quase todas as situações clássicas (e hilárias) do desenho, como Kagome mandando Inuyasha sentar (ele tem um amuleto que o obriga a fazer isso) ou Miroku "cantando" qualquer garota atraente que aparecer pela frente, sob o olhar congelante e frequentemente seguido de homéricas surras de Sango.
Tradição milenar"Secret of the Divine Jewel" é tipicamente um RPG japonês, com todos os trejeitos e vícios do gênero. A progressão se dá através de um mapa-múndi, que possui lugares específicos para visitar, como o templo Higurashi e a floresta de Inuyasha.
Esses lugares podem ser amistosos - e, nesse caso, você vai conversar com as pessoas para obter informações, comprar itens e ativar eventos para progredir - ou hostis. São nessas áreas onde ocorrem a maioria dos combates, de encontros aleatórios. Como a maioria das lutas é burocrática, você provavelmente sentirá que o número de batalhas é excessivo.
Os confrontos são por turnos e um de seus aspectos interessantes é o sistema de EP: qualquer movimento gasta essa pontuação e quanto mais poderoso é o ataque, maior o uso dessa barra amarela, que se recupera com o tempo. Isso adiciona um pouco de estratégia ao game, principalmente nas batalhas mais longas, em que é preciso analisar a relação entre custo e benefício de sua ação.
Combate simples, mas eficienteAs opções que o game oferece são poucas, mas cobrem uma boa gama de estratégias. Os ataques normais, que podem ser corpo-a-corpo e/ou de longa distância, dependendo do personagem, causam danos modestos, mas gastam pouco EP. Contudo, podem ativar ataques duplos, principalmente com um colega que tenha mais afinidade, como é o caso de Inuyasha e Kagome.
O ataque Charge é mais forte, mas muito mais propenso a errar. E, por fim, há os golpes especiais, que têm características diversas e são geralmente muito mais eficientes que os ataques normais. Por outro lado, você não pode usá-los indiscriminadamente, visto o gasto da barra amarela.
É aqui que estão os golpes famosos do original, como a Ferida do Vento de Inuyasha, o Osso Voador de Sango e o Fogo de Raposa de Shippou. Além de serem fortes, muitos desses golpes acertam uma grande quantidade de inimigos por vez. Alguns simplesmente dizimam todos com um ataque (como o Buraco do Vento de Miroku), deixando os combates normais bem fáceis. No entanto, contra os chefes, é preciso um pouco mais de estratégia para sair vivo.
Caneta mais forte que o direcionalOs controles funcionam bem nos combates, aceitando tanto o direcional e botões quanto a caneta. Nos testes, a stylus se saiu mais prática, principalmente quando as opções são escolhidas com um toque, em vez de dois (isso é configurável no menu Options). Para andar no mapa, a melhor opção talvez seja, também, a caneta, pelo simples fato de as diagonais não funcionarem no direcional.
O visual de "Secret of the Divine Jewel" é em 2D e competente. Tanto os cenários como os "bonequinhos" - principalmente nas batalhas - estão bem desenhados. Os avatares usam o estilo da autora original, Rumiko Takahashi, mas poderiam ser um pouco maiores, pois os traços quase se perdem. Já muitos dos monstros parecem genéricos demais.
O som também é bem feito, principalmente no uso dos instrumentos. O estilo faz jus à temática do game, que remete à era feudal japonesa. Não são músicas marcantes, mas bem elaboradas, até mesmo a de batalha, que só fica extenuante pela quantidade excessiva de lutas que o game tem.
CONSIDERAÇÕES
"Inuyasha: Secret of the Divine Jewel" seria um grande jogo na era dos 16 bits, mas hoje não tem tantos atrativos por causa do sistema um tanto ultrapassado. Mesmo assim, novatos em RPG podem ter uma boa iniciação, já que a mecânica é simples e o título não é de todo ruim: tem uma história competente e as batalhas divertem pelo visual dos golpes poderosos. Os veteranos não deverão encontrar desafios, mas os pontos positivos ainda permanecem e quem quer se descontrair com um RPG "light", "Inuyasha" pode ser uma boa pedida.