A fusão de dois ou mais gêneros de jogo em um único título não é nenhuma novidade. Muitos dos melhores jogos que conhecemos atualmente mesclam elementos de gêneros diferentes. O RPG, por exemplo, foi integrado de forma inteligente e funcional em muitos jogos de estratégia, aventura e até mesmo de ação em primeira pessoa, como na série "Deus Ex". Tanto é que tal mistura já se tornou um paradigma.
Ninguém jamais havia imaginado, porém, que um quebra-cabeça pudesse tomar emprestado elementos de RPG, como criação e evolução de personagem, e ainda trazer uma história, personagens e ambientação convincentes. Eis que este quebra-cabeça surge: seu nome é "Puzzle Quest: Challenge of the Warlords".
Quebra-cabeça medievalImagine um RPG comum, no qual você constrói um personagem, distribui pontos de evolução entre seus atributos, viaja por reinos medievais, conhece reis, magos e ladrões e ainda possui uma gama de missões a serem realizadas, sendo algumas delas opcionais e com diferentes formas de resolução. Imagine agora que todas as batalhas deste jogo fossem substituídas por um divertido, inteligente e viciante quebra-cabeça inspirado no famoso webgame "Bejeweled". Isto é "Puzzle Quest".
Sua porção quebra-cabeça substitui as tradicionais pecinhas coloridas dos jogos do gênero por ícones únicos: quatro diferentes orbes de magia, peças de ouro, estrelas púrpuras e crânios. O mesmo tabuleiro é disputado por você e um oponente. A cada turno, é preciso agrupar três peças iguais para fazê-las desaparecer. No entanto, a movimentação é limitada às quatro direções adjacentes de cada peça. Ao juntar quatro ou mais peças idênticas, o jogo lhe concede mais um turno.
A grande sacada de "Puzzle Quest" é que cada ícone representa um elemento das batalhas de RPG. Quando eliminados, os orbes de magia preenchem suas quatro barras de mana, peças de ouro aumentam sua quantidade de dinheiro, estrelas lhe dão pontos de experiência e crânios representam o ataque. O dano varia de acordo com o poder da arma do atacante e a resistência da armadura do oponente. Quando o medidor de energia de um personagem é completamente esvaziado, a batalha chega ao fim.
Cada magia consome um ou mais tipos de mana e uma determinada quantidade das mesmas. Os efeitos, ofensivos e defensivos, são variados: coletar todos os pontos de experiência do tabuleiro de uma única vez, multiplicar o poder de ataque do jogador e do inimigo, dar um turno extra ao usuário etc.
Todos esses elementos tornam a mecânica de quebra-cabeça de "Puzzle Quest" única. O jogador divide o mesmo tabuleiro com seu oponente, exigindo que ele pense nas conseqüências do movimento de cada peça, para não facilitar o jogo para o adversário - como em um jogo de dama ou xadrez. Além disso, a adição de magias faz com que as partidas sejam sempre variadas e até mesmo imprevisíveis, visto que cada oponente possui própria combinação de magias.
Mais RPG que muitos RPGsNão bastasse a mecânica sólida da porção quebra-cabeça, que sozinha já renderia um bom jogo do gênero, "Puzzle Quest" vai mais longe e traz uma parte RPG impressionante. Antes de tudo, você cria seu personagem, escolhendo avatar, raça e sexo, que definirão seus atributos. Tais qualidades influenciam diretamente em sua performance durante as batalhas e podem ser evoluídas separadamente, com os pontos de experiência.
Através de um mapa principal, você se locomove pelo imenso mundo do jogo, visitando Reinos, cidades, masmorras, cavernas, montanhas e outras locações típicas de um RPG com a temática medieval. Cada região oferece algo para fazer ao jogador. Reinos, por exemplo, oferecem tavernas, nas quais é possível coletar informações sobre missões e dicas; lojas, onde você pode comprar equipamentos, como armas e acessórios; missões etc.
Ironicamente, há um sistema de missões mais complexo que muitos RPGs já lançados para portáteis. Estas são divididas em categorias: as principais são extensas, divididas em várias etapas e dão continuidade à história do jogo. As secundárias são mais simples - às vezes nem envolvem combates. Algumas delas, ainda, exigem que o jogador tome certas decisões, oferecendo duas possibilidades diferentes de conclusão.
Basicamente, toda a história se desenrola através de diálogos entre personagens. O enredo e missões são clichês típicos de produtos que exploram o universo medieval/fantástico. Embora sucintos, os diálogos não são suficientemente dramáticos para integrar o jogador à história. Ele pode (e em alguns casos, deveria) simplesmente pular tais seqüências. Mas nada que atrapalhe o resto do jogo.
E não pára por aí. Você pode usar também suas peças de ouro para construir extensões da sua cidade natal, que abrem um novo mundo de possibilidades ao jogo. Construindo uma masmorra, você pode capturar criaturas durante suas missões; um estábulo, utilizá-las como montaria e aproveitar suas magias; uma torre, a possibilidade de aprender as magias de seus inimigos e muito mais.
Faltou capricho"Puzzle Quest" não é nenhuma evolução gráfica. Visualmente, deverá agradar aos fãs de anime, com seus personagens ao estilo de desenho japonês. As batalhas também não apresentam grandes atrativos aos olhos e, na verdade, possuem alguns efeitos visuais bastante questionáveis.
É evidente que os desenvolvedores não se preocuparam muito com o quesito design: além de uma escolha de fontes regular para as informações que aparecerem durante as batalhas, algumas se sobrepõe, causando uma certa confusão na tela. A interface também apresenta alguns problemas. Além dos menus simplórios, às vezes o jogo não detecta o toque com precisão.
CONSIDERAÇÕES
"Puzzle Quest: Challenge of the Warlords" tem a diversão rápida e inteligente dos quebra-cabeças e ainda abusa da customização dos RPGs. Possui uma mecânica tão sólida e equilibrada que tem potencial suficiente para dar início a um novo gênero, o "Puzzle RPG" - tal como "Secret of Mana" e "Diablo" impulsionaram e popularizaram o "Action RPG". Mesmo com seus pequenos problemas, já pode ser considerado uma das melhores surpresas do ano para o portátil da Nintendo.