Soul Bubbles

HENRIQUE SAMPAIO
Colaboração para o UOL

Por mais que a indústria de jogos exija criatividade de seus profissionais, não é sempre que vemos títulos com conceitos novos e frescos, até porque é sempre um risco investir em idéias inéditas. Contudo, isso não impediu o pequeno estúdio francês Mekensleep, composto por ex-integrantes da falida Cryo de criar o simpático "Soul Bubbles", um jogo que embora traga conceitos já estabelecidos, inova com uma mecânica criativa e divertida, que abusa das características únicas e hardware do Nintendo DS. O título também se destaca pela participação do game designer Frédérick Raynal em seu desenvolvimento, cujo currículo traz clássicos como "Alone in the Dark" e "Twinsen's Odyssey"

Bolhas protetoras

Em "Soul Bubbles" você controla um pequeno aprendiz de shaman de uma tribo e deve resgatar espíritos perdidos de animais, guiando-os dentro de bolhas. Os comandos são simples e intuitivos: com a stylus você controla não apenas o personagem pela tela mas a própria câmera, podendo visualizar pontos distintos do mapa a qualquer instante. Como em um jogo de estratégia em tempo real, porém, há uma espécie de nuvem negra que o impede de saber o que vem pela frente, e só é eliminada após a exploração do ambiente.

Ao desenhar um círculo você cria uma bolha, que pode ser guiada pelo sopro do shaman, bastando mover a caneta para a direção desejada. O objetivo do jogo é levar os espíritos dentro de bolhas até a saída da fase, protegendo-os dos perigos naturais, como animais famintos, espinhos, rochas, fogo etc.

Passagens estreitas podem impedir o avanço da bolha, e para isso você pode esvaziá-la ou dividí-la em quantas partes achar necessário, traçando-a com a caneta. Separadas, elas podem se afastar umas das outras e por isso é preciso mantê-las juntas sempre que possível, para que nenhuma caia em armadilhas. Se uma bolha estourar, você tem alguns segundos para circular os espíritos soltos e protegê-los novamente, antes que eles desapareçam por completo e você tenha que reiniciar a fase.

O movimento de corte utilizado para dividir as bolhas pode ser usado não apenas para agrupá-las novamente como também cortar plantas e outros obstáculos encontrados durante o caminho. A caneta também serve para muitas outras funções, como quebrar pedras, atacar inimigos e abrir passagens, tudo com muita precisão e facilidade.

Embora não seja um jogo difícil, a mecânica vai se tornando mais complexa conforme você avança, e novos quebra-cabeças e desafios vão surgindo. Ambientes aquáticos, por exemplo, dificultam a movimentação das bolhas, que tendem a emergir para a tona. As bolhas também servem para coletar certos elementos, como água, que pode apagar incêndios, liberando a passagem para os espíritos. Enfim, cada mundo do jogo traz desafios únicos, tornando a experiência sempre interessante.

Pode-se dizer que a mecânica é inspirada em "LocoRoco", devido a maleabilidade das bolhas e o fato de que você não as controla diretamente, mas o uso da caneta para manipulá-las e todo o cenário ao redor foi uma grande sacada dos designers. O resultado é um jogo tão divertido quanto relaxante, com ação suave e quebra-cabeças inteligentes. Há também objetos coletáveis, alguns dos quais abrem novas fases extras, incitando o jogador a explorar cada canto dos cenários.

Inspiração tribal

Além de sua mecânica inteligente e criativa, "Soul Bubbles" é também um jogo de apuro técnico e física precisa. As bolhas se comportam de maneira muito realista, se deformando conforme a intensidade do sopro do personagem e da colisão com o cenário e se esticando em passagens estreiras. Quando há duas ou mais delas, a tendência é que se agrupem, como bolhas reais. Se atingidas por objetos em alta velocidade, quando não estouram, elas se dividem em duas ou mais partes.

Visualmente, é também um colírio para o olhos, graças à delicadeza dos cenários, que apresentam um aspecto de pintura e são extremamente ricos em detalhes, cores e efeitos especiais. O sopro do personagem, por exemplo, faz pétalas de flores voarem e cipós e outras plantas balançarem de forma realista. Os motivos tribais, como tótens e artefatos também dão um charme a mais ao jogo.

O trabalho sonoro segue a harmonia do visual e da temática tribal, com batidas de tambores, flautas e cânticos indígenas. As músicas tocam em momentos específicos, para enautecer situações de perigo, mistério ou suavidade, tornando a experiência com o jogo ainda mais imersiva e instigante. Não se tratam de melodias longas e variadas, do tipo que cativam o jogador, mas se adequam perfeitamente à sutileza do jogo.