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Civilization: Beyond Earth

Luiz Hygino

do Gamehall

30/01/2015 15h03

Embora o argumento da experiência da série "Civilization" seja justamente reviver a história humana por caminhos diferentes, os 23 anos da icônica franquia de estratégia por turnos esgotaram qualquer sentimento de surpresa que os jogadores pudessem experimentar comandando alguns dos maiores impérios e civilizações da Terra.

A escolha dessa ou daquela tecnologia a ser pesquisada, a existência de unidades e construções únicas de cada povo, as maravilhas e recursos naturais, tudo era limitado pela nossa história, e pela nossa Terra. Não há defeito nisso, que fique claro. Essa sempre foi a proposta do jogo. A única consequência ruim era o possível esgotamento, ao longo dos anos.

Se o passado já está escrito - de uma forma ou de outra - a solução da produtora Firaxis foi olhar para o futuro, tão misterioso, cheio de possibilidades, sonhos e medos. Daí nasce "Civilization: Beyond Earth" e sua principal força: a novidade.

A combinação entre a teia de tecnologia, que dita os rumos evolutivos de sua nova civilização (ou facção), o misterioso novo planeta, com geografia e características novas, as afinidades, trazem completo frescor para um jogo que ainda consegue parecer incrivelmente familiar, cheio de elementos clássicos consagrados. "Civilization: Beyond Earth" é customizável, na medida certa permitida pela mecânica da série.

Mesmo as inúmeras sessões de jogatina demoram a esgotar a sensação de novidade. Entender completamente todas as possibilidades do jogo, tudo o que as diferentes decisões combinadas podem resultar, é algo que custará horas, dias, meses de jogo. Tarefa que qualquer fã da série - ou não - poderá desempenhar com enorme prazer.

Introdução

Depois de uma série de decisões e eventos catastróficos, conhecidos como "O Grande Erro", os líderes da Terra percebem que a vida no planeta está condenada, e que cedo ou tarde nossa raça será extinta. Por volta do ano 2600, oito facções - versão modernas das civilizações - enviam naves colonizadoras a um novo planeta, tripuladas pela esperança de todo o mundo.

Na Nova Terra, cada facção poderá se relacionar com o novo planeta e com seus habitantes de três formas diferentes, que recebem o nome de afinidades: ou tentam reconstruir um lar da forma mais próxima à Terra, ou abraçam o planeta e sua natureza, ou se voltam à evolução proporcionada pela tecnologia.

As afinidades, que misturam filosofia e religião, ditam grande parte da evolução do jogo, definem os tipos de unidades militares e de construções únicas que cada facção terá, e até limitam os tipos de vitória que podem ser alcançados pelos jogadores (uma militar, uma científica e uma para cada afinidade).

No mais, os turnos sucessivos de "Beyond Earth" parecerão muito familiares aos jogadores experientes, com batalhas, diplomacia e gestão, quase que idênticos a "Civilization V".

Pontos Positivos

Teia de Tecnologia

A Teia de Tecnologia é o grande elemento transformador de "Beyond Earth". As tecnologias futuras são apresentadas não de modo linear, como nos outros "Civs", mas através de uma enorme teia, na qual determinadas tecnologias bases, ou a união delas, resultam na possibilidade de pesquisa de outras tecnologias mais avançadas, tudo acontecendo na ordem que o jogador preferir.

O resultado disso é a possibilidade de jogar jogos inteiros realizando pesquisas completamente diferentes, ou de ter, numa mesma partida, facções com tecnologias totalmente distintas, algo inédito na franquia.

É interessante, também, o modo como as descobertas acabam extrapolando a fronteira do jogo. Para aqueles mais interessados, as tecnologias hipotéticas tem detalhadas descrições na enciclopédia de "Beyond Earth", ajudando a encorpar bastante o universo do game.

Afinidades

Inédito na franquia e de grande impacto, o sistema de Afinidades - espécie de mistura entre filosofia e religião - é a base de "Beyond Earth", ao lado da nova Teia de Tecnologia.

Três são os caminhos que podem ser adotados pelos povos de "Beyond Earth" - Purity, Harmony e Supremacy - e que se desenvolvem de acordo com determinadas tecnologias pesquisadas e decisões em quests.

A conquista dos pontos desbloqueia (e automaticamente melhora) suas unidades militares, libera novas construções e maravilhas, sintetizando a postura de seu povo nos dias futuros.

É um sistema simples e inteligente, que dá unidade a diversos aspectos do jogo, com completo sentido.

Desenvolvimento do enredo

Um conjunto de características de "Civilization: Beyond Earth" ajuda na criação das histórias de cada partida.

O sistema de missões constantes incentiva os jogadores a explorar o planeta, interagir com elementos do mapa, a customizar unidades e construções, tudo enquanto educa e ensina, mas sem o tradicional tédio de tutoriais simplórios.

Aliando isso às Afinidades, que a cada novo ponto conquistado apresentam trechos de discursos idealistas respectivos à cada posição adotada, fica definida a sensação de que cada partida tem uma história um pouco mais única, quando em comparação com o restante da franquia "Civilization".

Pontos Negativos

Alienígenas

A fauna nativa da Nova Terra ainda não parece ter atingido seu potencial pleno, em conjunto com as mecânicas de "Beyond Earth".

No começo, elas parecem cumprir seu papel, criando dificuldade para a instalação e exploração do novo planeta. Mas muito rapidamente sua força é superada pelas tropas do jogador, e a constante movimentação das sempre númerosas unidades alienígenas se torna fonte de irritação, atrasando o ritmo do jogo.

Mesmo quem escolhe a Afinidade direcionada a abraçar o novo planeta e sua fauna não tem necessidade de preservar os alienígenas, não ganha nada com isso. As unidades treinadas nas cidades, montadas em aliens ou com enxames deles, em nada se relacionam com os bárbaros monstros.

Ausência dos Itens de luxo

Fundamentais ao longo de toda a série, os itens de luxo (ouro, incenso, diamantes etc) traziam um balanço muito interessante aos jogos de "Civilization", não apenas no auxílio da manutenção da felicidade de seu povo, mas como instrumento de negociação entre as civilizações.

Era interessante entender até que ponto aliados e inimigos estavam dispostos a abrir mão de dinheiro, recursos naturais estratégicos e às vezes até de seus planos de dominação, por um punhado de riquezas e itens supérfluos. Era algo que, inclusive, enriquecia a narrativa pessoal em cada partida.

Em "Beyond Earth", eles simplesmente não existem. Os recursos estratégicos de produção estão lá. Os itens de luxo, não.

Nota: 8 (Ótimo)