Myst IV: Revelation

da Redação

Muitos games oferecem uma realidade alternativa para que jogadores se percam em mundos fantásticos e variados, mas o lançamento de "Myst" em 1995 marcou uma revolução. Usando a capacidade dos recém-lançados discos de CD de dados, o game trazia incríveis mundos tridimensionais ligados por uma trama que lidava com a confecção dos mesmos através de literatura. Quase 10 anos depois, o game recebe um novo episódio, desta vez criado pelo mesmo estúdio de "Splinter Cell".

Novas Eras, velhos perigos

Jogadores continuam interpretando um personagem genérico, o mesmo que tropeçou no livro de Myst e se tornou amigo do autor dos mundos conhecidos como Eras. A trama resgata o final do primeiro título, explorando o paradeiro de Sirrus e Achenar, filhos desse autor, Atrus. Por pressão da esposa Catherine, ele quer se certificar de que seus filhos aprenderam a lição depois de sua revolta para poder libertá-los de suas respectivas Eras.

A criação visual dessas Eras continua sendo o ponto de destaque do game. Mundos inteiros, cada qual com sua lógica, estética e natureza são apresentados com um nível de detalhes sem precedentes. Da mesma forma que os livros usados para produzí-las, é fácil se perder nessas Eras, cutucando cada centímetro por curiosidade ou na tentativa de resolver seus quebra-cabeças.

Jogadores se movimentam entre posições-chave, podendo girar a câmera 360 graus em cada uma delas - tudo sem perder o movimento da água e dos animais ao seu redor. Uma novidade na série, agora é possível "cutucar" objetos ao alcance das mãos, ouvindo o som de seus respectivos materiais. Apesar de não adicionar praticamente nada à jogabilidade, esse recurso ajuda você a mergulhar ainda mais fundo nessa realidade alternativa. "Myst" é um jogo para se jogar no escuro, com fones de ouvido ou bons alto falantes.

Ferramentas

Um dos principais charmes da série era a total ausência de interface: jogadores contavam apenas com o cursor do mouse, deixando o resto da tela dedicada às fantásticas Eras. "Myst IV" quebra essa tradição, adicionando não apenas duas barras pretas, mas alguns ícones para operar importantes ferramentas. As primeiras são uma câmera e um exibidor de imagens, usados para colher referências visuais. O segundo é um item adquirido no decorrer da aventura que permite ao jogador reviver flashbacks e diálogos que se desenrolaram no passado de um ambiente. Finalmente, a ferramenta de atalho "zip", que permite o transporte direto de uma área a outra sem as demoradas transições intermediárias.

Puristas podem reclamar das adições, mas elas foram colocadas com muito cuidado: tanto a câmera quanto o visualizador trazem a mesma estética do game. E sua inclusão ajuda a diminuir a necessidade de um bloco de notas na vida real - algo vital nos games anteriores. O amuleto ajuda a expandir o caráter de resgate de memórias desse episódio, servindo para mostrar cenas vitais da narrativa que não aconteceram na presença do jogador. O resultado final é uma trama ainda mais envolvente.

Aprender de novo

Os quebra-cabeças continuam seguindo a tradicional escola da série: as Eras estão repletas de máquinas misteriosas e místicas, mas sempre lógicas. Muitas vezes é preciso coletar pistas em livros e objetos, muitas vezes estudando o design de suas peças para compreender suas funções e relações. A maioria dessas operações é extremamente desafiadora, mas nunca ilógica - é quase como ser criança novamente, e tentar entender o mundo do zero. Ao contrário da maioria dos games, sua estrutura não dirige o jogador aos objetivos de forma a facilitar o processo. Mesmo assim, a adição de um sistema de dicas e soluções ajuda a diminuir a frustração, e felizmente não fica aparente com o resto das ferramentas.

Tudo isso se soma em uma incrível experiência diferente da maioria dos games. Lenta e contemplativa, a viagem do jogador mistura iguais doses de apreciação do ambiente e raciocínio. Como um vinho, "Myst IV" deve ser degustado, e não entornado em um gole. Aqueles com interesse e paciência de descobrir - e não simplesmente tentar correr para ver o final - serão recompensados com um dos mais envolventes games de todos os tempos.

Bug sério

A versão testada pela redação apresentou problema sério num Athlon AMD 2100+ com 512MB de RAM e uma Radeon 9600 rodando Windows XP: o cursor não aparecia no menu inicial.