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SimCity

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

14/03/2013 17h14

Entre tantos problemas e qualidades, "SimCity" é um jogo fácil de pegar e se divertir no começo, mas suas limitações o deixam bem longe de ser algo inovador ou impressionante.

O encantador visual de brinquedo camufla um jogo de gerenciamento com simulação pobre e limitada e uma escassez gritante de recursos - muitos dos quais, aliás, já apareceram em versões anteriores da franquia. Para piorar, "SimCity" não se dá ao trabalho de ensinar a você o caminho das pedras ou, no mínimo, oferecer uma base de dados eficiente sobre como lidar com a cidade.

Eventualmente, você é obrigado a orientar sua cidade para um crescimento vertical e implantar um punhado de estratégias de transporte público e outras que põe totalmente por terra a promessa de "crie sua cidade como quiser". De fato, você até pode criar a cidade como quiser - mas a garantia de progresso só vem ao jogar da forma que a EA quer.

Por fim, mas não menos importante, há toda a polêmica questão do "sempre online", que não se justifica e só complica. A produtora Maxis clama que a conexão aos servidores da EA serve para calcular os diversos processos acontecendo na cidade, mas vídeos na internet de versões modificadas do game já comprovam que ele funciona também offline.

Enquanto isso, perder o progresso em uma cidade ou simplesmente não conseguir jogar no seu horário de preferência por problemas nos servidores fica como uma triste exclusividade deste "SimCity" - uma feature moderna que todos os antecessores felizmente dispensam.

Introdução

Desde quando apareceu no final dos anos 80 a série "SimCity" têm cativado gerações de jogadores com sua simpática simulação de gerenciamento de cidade.

A série brilhou forte na década de 90, dando vez a expansões elaboradas e um sem número de spin-offs (como "SimAnt" e "SimCopter", para citar alguns), mas foi deixada de escanteio a partir de 2000, quando o irmão mais novo "The Sims" monopolizou as atenções com seu simulador de vida.

Enfim, depois de algumas incursões pouco populares nas redes sociais e mundos online, a franquia volta neste reboot. "SimCity" busca retomar a simplicidade dos primeiros títulos, introduzindo também um universo sempre online, em que os sucessos e fracassos de uma cidade influenciam diretamente o desenvolvimento de outros municípios da mesma região.

Pontos Positivos

Visual encantador

Pode-se criticar o quanto quiser a simulação de "SimCity", mas não há como negar que trata-se de um dos jogos de gerenciamento mais bonitos já feitos, provavelmente graças à capacidade do motor gráfico GlassBox.

Mesmo em configurações modestas o game da Maxis cativa pelas pequenas construções que pipocam e crescem na frente dos seus olhos. Pequenos Sims passeiam pelas calçadas e dirigem seus carros para os trabalhos, luzinhas se acendem pela noite, o mar brilha, o vento sopra e a vida segue nas regiões de "SimCity".

O amplo leque de filtros gráficos (incluindo alguns para daltônicos) ajuda a dar alguma variedade ao visual e não cansar demais do jeitão das cidadezinhas.

Fácil de começar

Entrar na vida de prefeito virtual em "SimCity" é muito fácil: o jogo está todo em português e basta espetar suas casinhas e estradas de qualquer maneira no mapa para a vida começar.

Desenhar ruas e avenidas é divertido e prazeroso, ainda mais ao ver os primeiros carrinhos e pessoas passando por elas e construindo casas, lojas e fábricas.

Para completar, o início de vida de uma cidade é fortemente amparado por conselhos e pedidos de habitantes que ajudam a moldar as fundações do município - algo que, infelizmente, não acontece com tanta frequência mais pra frente.

Pontos Negativos

Conexão online

Dentre os vários problemas deste "SimCity" o mais gritante é a necessidade de conexão online constante. Caso não esteja conectado à internet o jogo sequer se inicia.

Pode-se argumentar que o futuro do jogo não sofrerá tanto com servidores lotados como a semana de lançamento, mas o risco de manutenção e problemas sempre existirá. Não conseguir jogar seu game no horário disponível pra isso ou até mesmo perder o progresso feito em cidades por erro do serviço da EA são as ameaças constantes a "SimCity" - aconteceu antes, por que não poderia rolar de novo?

Simulação fajuta

Desde o anúncio do game, no comecinho de março de 2012, a EA e a produtora Maxis fizeram questão de dizer que "SimCity" ofereceria uma simulação arrojada de gerenciamento de cidade.

Supostamente, o game encorajaria o desenvolvimento sustentável e ecologicamente correto além de permitir acompanhar a rotina diária de seus habitantes conforme eles saem de casa, vão ao trabalho e saem para se divertir.

Ficou tudo na promessa.

Na prática o que se vê é uma simulação regida por cálculos matemáticos e arranjos precisos de zonas residenciais, comerciais, industriais e afins - aliás, como já se via nos "SimCity" anteriores.

Claro, agora há facilidades como o esgoto, eletricidade e água passarem pelas ruas e avenidas, eliminando certa burocracia, porém é mais um ajuste cosmético do que um refinamento da fórmula ou uma simulação complexa da vida de uma cidade.

Falta de tutoriais

Criar uma cidade em "SimCity" é só alegria: no começo vários conselheiros dão dicas e os habitantes fazem pedidos e sugestões para evoluir a cidade. Há espaço de sobra para criar e praticamente tudo que você constrói (ou 'plopa', como diz o jogo em alguns momentos) dá frutos.

O problema é quando sua cidade chega ao limite do terreno. E reforço o fato de ser um problema, não exatamente um desafio: o jogo não te dá apoio algum neste momento.

Sims reclamam e fazem pedidos totalmente fora de sintonia com o caminho que a cidade está tomando. Não há algum tipo de banco de dados no game para ajudar a entender melhor certos elementos e construções, que por sua vez oferecem apenas, no próprio menu normal de jogo, diversas linhas em letras pequenas descrevendo suas funções.

Pode piorar? Sim, claro: ao abrir o manual do jogo, o game em si é colocado em segundo plano e abre-se uma janela de navegador que leva ao site com o manual. Será que era tão difícil fazer isso dentro do próprio jogo?

Enfim, entendo que para muitos parte do desafio e da graça está justamente em descobrir o que funciona ou não na base da tentativa e erro, mas até aí o jogo falha em oferecer um ambiente propício para errar à vontade.

Você até pode criar uma região própria, jogar sozinho e acumular experiência, mas se você embarcar direto nas partidas com outros amigos não terá a chance de arrumar tão fácil as burradas e ser obrigado a carregar nas costas a responsabilidade de ter prejudicado as cidades de outras pessoas.

Repertório limitado

O tamanho diminuto do território para construir sua cidade (bairro? condomínio?) já seria o bastante para justificar essa crítica, mas o buraco é mais embaixo.

De forma inexplicável, este "SimCity" abre mão de ferramentas úteis e consagradas, como a terraformação, impedindo de aumentar ou rebaixar terrenos. Metrô é um meio de transporte inexistente, também, só para citar um exemplo mais pontual.

A cooperação entre amigos, que deveria ser algo bacana e instigante, ganha contornos menos empolgantes por ser praticamente algo obrigatório. Sua cidade não tem espaço o bastante para comportar todas as casas, comércios e indústrias, os serviços necessários pelos habitantes e ainda os recursos para manter tudo isso funcionando.

Assim, duas coisas se tornam inevitáveis: você terá de comprar recursos de outras cidades e ainda implantar uma política de crescimento vertical, buscando criar ambientes propícios para o desenvolvimento de prédios na cidade. É isso ou se conformar com uma pequena população que não cresce.

Nota: 6 (Razoável)