SiN Episodes: Emergence

da Redação

A distribuição digital é uma das tendências em maior evidência no contexto atual do entretenimento eletrônico. A idéia de comercializar jogos em porções menores (ou "episódios"), via download, parece ser a solução mais atraente para todas as partes envolvidas no processo - ou quase todas, afinal, as "lojas físicas" não devem ver isso com tão bons olhos.

Para o consumidor, além do preço supostamente menor, há a comodidade de baixar o jogo em plena noite de domingo, por exemplo, ao invés de esperar até a loja abrir, na segunda-feira; quanto aos produtores, trabalhar com ciclos de desenvolvimento menores é muito menos estressante, sem falar na possibilidade de analisar o que os consumidores mais apreciaram em um capítulo, e explorar isso no seguinte; já para a distribuidora, os custos de produção são consideravelmente reduzidos com a ajuda da internet.

Dentro deste contexto, "SiN Episodes: Emergence" é uma das primeiras tentativas da distribuição de conteúdo por episódios, vinda da Valve Software, uma produtora pioneira no ramo - vide o consagrado sistema Steam. Trata-se do capítulo inaugural de nove previstos, revivendo a série de ação em primeira pessoa criada em 1998.

Por R$ 49 (preço de "Emergence" na ocasião do lançamento no Brasil), ou seja, metade do valor de um game convencional, o jogador leva para casa cerca de seis horas de pura ação. No final do game, são exibidas cenas do próximo episódio, ou seja: a impressão é a de estar assistindo a um seriado.

As voltas que o mundo dá

Em 1998, "SiN" chegou às prateleiras cerca de um mês antes de "Half-Life" e, embora se tratasse de um jogo interessante, principalmente pelo ritmo da ação e enredo atraente, acabou totalmente ofuscado pela obra-prima da Valve Software, ficando do pior lado na "divisão de águas". Para resumir, um bom jogo que ninguém jogou.

Ironicamente, passados oito anos desde então, é "Half-Life 2" que dá vida a "Emergence", com a tecnologia gráfica Source mostrando que ainda tem lenha para queimar. A retomada da série começa com o protagonista, o coronel durão John R. Blade, deitado em uma espécie de maca, enquanto a volúpia da bela e impiedosa cientista Elexis Sinclaire ocupa quase metade da tela.

Neste ponto, cabe explicar o enredo de "SiN": Blade é o comandante da HardCorps, força de elite que trava um conflito histórico com a SinTEK, um verdadeiro império multibilionário comandado por Elexis Sinclaire, que deseja recriar a humanidade conforme sua própria e deturpada visão.

Em "Emergence", uma misteriosa substância é injetada pela cientista no coronel Blade, resgatado a tempo por Jessica Cannon, novata da HardCorps e na própria série. A dupla, com a ajuda do veterano hacker JC, tem como missão deter os planos de Sinclaire e, naturalmente, descobrir o que está correndo nas veias do protagonista.

A ação se desenrola em Freeport City, uma cidade futurista que mistura elementos de Nova York, San Francisco e Tóquio. O game não renega as origens e proporciona uma experiência voltada basicamente à ação, com seqüências de perseguições automobilísticas, tiroteios contra mutantes, quebra-cabeças explorando a física da tecnologia Havok 2 e muita exploração dos cenários.

Adaptação é tudo

À primeira vista, a inteligência artificial não inspira muito requinte e, de fato, os inimigos de "Emergence" têm rotinas bastante previsíveis, muito embora dêem trabalho quando atacam em grupo. A novidade, neste caso, é que além da habitual escolha do nível de dificuldade, é possível determinar o "Give Assistance", que determina o quão rápido o CPU lhe ajuda nas situações difíceis.

Em outras palavras, se o CPU detectar que você morreu diversas vezes em uma mesma situação, fará com que os oponentes "peguem leve", para não frustrar o seu barato. Nobre, não? Na verdade, é um grande comércio: praticamente tudo o que você faz no game é monitorado, desde quantos inimigos abateu até quanto tempo que permaneceu com nível completo de energia. Tais dados podem ser enviados à produtora Ritual Entertainment que, por sua vez, os utilizará para desenvolver os capítulos seguintes, baseando-se no que deu certo ou não.

Se a inteligência artificial tem suas limitações, o arsenal não fica atrás: "Emergence" disponibiliza apenas três armas - pistola, escopeta e rifle de assalto. Se serve de consolo, cada uma possui um modo de disparo adicional, que ajuda a variar um pouco mais a ação. Faltou criatividade, mas, em compensação, as armas são bastante efetivas.

O jogo em si não traz nada de novo, mas quem curtiu o estilo do original certamente não se decepcionará. As seqüências de ação aproveitam bem o design das fases e os quebra-cabeças, embora longe de serem excepcionais, conseguem preencher bem os instantes entre um tiroteio e outro. Em algumas situações, Blade pode utilizar algumas habilidades sobre-humanas - como uma espécie de "bullet time" - para dar conta dos desafios.

A ausência do modo multiplayer "de fábrica" foi suplantada pelo anúncio, posterior ao lançamento de "Emergence", sinalizando que a Ritual Entertainment pretende lançá-lo gratuitamente.

Os gráficos são o que poderia se esperar de uma tecnologia gráfica que, ainda que recauchutada, tem anos de idade nas contas. Mesmo assim, faz bonito e, de quebra, não judia muito dos computadores mais modestos. Claro que depois de ver "F.E.A.R." e "Crysis" seu conceito de qualidade visual aumenta, só que "Emergence" está de bom tamanho.

"SiN Episodes: Emergence" é o retorno merecido de uma série que, em nove capítulos, pode proporcionar o entretenimento que, em 1998, acabou ofuscado por "Half-Life". Certamente, quem chegar até o final da versão estreante, ficará curioso para saber o desenrolar dessa história.