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World of Warcraft: Mists of Pandaria

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

04/10/2012 17h44

Enquanto "Wrath of the Lich King" e "Cataclysm" foram verdadeiros eventos dentro do mundo de "Warcraft", "Mists of Pandaria" é apenas uma expansão. Ainda assim, é uma grande e caprichada expansão, daquelas que despertam inveja em outros RPGs online. Com um tom bem mais leve do que os episódios anteriores, "Pandaria" diverte e cumpre seu papel ao acrescentar conteúdo ao jogo, mas também destaca os sinais de envelhecimento nos sistemas de "World of Warcraft".

Para quem já joga, "Mists of Pandaria" é uma evolução natural e vale o investimento, mas não tem o conteúdo necessário para atrair uma legião de novos jogadores, em uma era em que o modelo de jogo gratuito supera - e muito - as assinaturas mensais de "WoW".

Introdução

"Mists of Pandaria" é a quarta expansão de "World of Warcraft", o MMO pago mais popular do planeta. A expansão traz um novo continente, inspirado na China e nos filmes de artes marciais, aumenta o nível máximo dos personagens para 90, adiciona um sistema de batalha entre bichinhos de estimação e, é claro, os Pandaren - embora você possa jogar com a raça sem adquirir a expansão.

Pontos Positivos

Nova classe: Monge

O monge é uma das principais adições de "Mists of Pandaria" ao jogo da Blizzard. A classe representa de forma divertida e empolgante os artistas marciais típicos de filmes de kung fu. Além dos Pandaren, quase todas as raças podem ser monges. Só os Goblin e Worgen ficam de fora da festa.

Conforme progride, você escolhe se o seu monge será especialista em causar dano, aguentar porrada ou curar os aliados. Assim, é possível criar monges diferentes, mais adequados ao seu estilo pessoal. A classe possui poderes divertidos, como um chute giratório digno de "Street Fighter" e o toque da morte, que mata instantaneamente criaturas com menos HP do que o personagem - exceto chefes, é claro.

Pandaria

Pandaria é um continente recém-descoberto pela Aliança e pela Horda e, junto com a Ilha Vagante, é melhor sucedido como novo território para explorar do que as regiões de alto nível de "Cataclysm".

Pandaria é um cenário vibrante e colorido, uma mudança bem vinda após as paisagens devastadas pelo Cataclisma na expansão anterior. O continente é formado por sete áreas diferentes e várias dungeons. Apesar do motor gráfico de "WoW" não ser nem de longe atual, a Blizzard sabe utilizar suas ferramentas para criar ambientes muito bonitos. "Mists of Pandaria" mantém o capricho tradicional dos jogos da produtora.

É preciso explorar as regiões de Pandaria pelo solo, pois para usar suas montarias voadoras aqui o jogador precisa atingir o novo nível máximo. Essa é uma boa decisão, que traz de volta o senso de exploração e descoberta de outras eras de "WoW".

Sem uma grande ameaça cósmica diante dos jogadores, "Mists of Pandaria" se apóia justamente nesse retorno ao passado, quando o que importava era a guerra entre Horda e Aliança e a descoberta de um mundo novo, cheio de perigos, surpresas e tesouros em cada esquina.

Melhorias nos sistemas

A Blizzard mais uma vez modificou o sistema de habilidades de "World of Warcraft", simplificando o game com perícias mais generalistas, que englobam diversas habilidades anteriores.

Agora, o jogador escolhe entre três especializações e ganha um ponto de habilidade nos níveis 15, 30, 45, 60, 75 e 90. Na prática, isso significa menos preocupações com "a forma correta de jogar", embora não demore para que as famigeradas "builds", receitas de construção de personagem, retornem atualizadas para o novo sistema.

Outra novidade é o sistema de cenários. Um cenário é uma série de missões que podem ser completadas em algumas horas por um grupo pequeno de jogadores - no máximo 5 - com recompensas melhores do que missões individuais. É uma forma de entreter quem não tem tempo para se dedicar a uma guilda e se alistar em instâncias para dezenas de jogadores - além de trazer aquele gostinho de RPG à moda antiga, em que você reúne um grupo de amigos para encarar uma boa aventura.

Por fim, o game recebeu o sistema de batalhas entre 'pets', os bichinhos de estimação colecionáveis de "World of Warcraft". As lutas são bem ao estilo Pokémon: você escolhe seu monstrinho, treina novos golpes e desafia outros jogadores para duelos. É simples e casual, mas é uma alternativa para as lutas entre jogadores e, principalmente, dá motivo para colecionar todas as mascotes do jogo.

Missões mais criativas

A Blizzard já acumula bastante experiência em projetar missões para "World of Warcraft" e "Mists of Pandaria" é beneficiado com isso. O game ainda tem várias buscas do tipo "mate 20 lobos", mas em nenhum outro MMO você terá tantos 'flashbacks' interativos, sessões de direção e usos divertidos de objetos em missões que, fora do contexto, seriam repetitivas e sem graça.

Desde situações engraçadas envolvendo dar uma lição em um monge orgulhoso de sua 'testa de aço' até bancar a babá de uma jovem Pandaren, há várias missões que abrirão um sorriso no rosto do jogador, com um roteiro bem escrito e genuinamente divertido. E graças ao ótimo trabalho de localização, esse senso de humor é preservado na versão brasileira, tanto nos textos quanto na dublagem caprichada.

Claro, nem todas as missões são 'engraçadinhas', há uma boa dose de drama no game - embora os Pandaren compliquem as coisas nesse quesito - e as dungeons e raides são tão desafiadoras quanto as de "Cataclysm".

O fato é que, engraçadas, dramáticas ou emocionantes, as aventuras de "Mists of Pandaria" conseguem envolver o jogador, levando você pela mão por horas e mais horas, como poucos outros games conseguem.

Pontos Negativos

Pandaren

Os pandaren fazem parte do universo de "Warcraft" há muito tempo - foram até cogitados como raça jogável em "Burning Crusade", a primeira expansão do jogo. Mas o fato é que esses personagens não funcionam muito bem na ambientação atual de "WoW". Não digo isso por serem 'fofos' ou engraçados. Afinal, o game da Blizzard já tem goblins malandros, trolls jamaicanos e outras maluquices.

O problema com os pandaren é que poucos personagens da raça são realmente interessantes e agregam algum valor ao jogo. O herói Chen Malte do Trovão e o grupo de estudantes que acompanham o jogador na Ilha Vagante estão entre eles. Mas, muitas vezes, os pandaren são apenas clichês de filmes de kung-fu com um visual peludo e fofinho.

Certamente são atraentes para jogadores mais novinhos, mas isso coloca para baixo o drama de alguns momentos, que podem ser vistos já na área inicial da raça - disponível para todos os jogadores de "WoW", mesmo quem não tem "Mists of Pandaria".

Por ser uma raça neutra, os pandaren podem escolher, ao final do estágio inicial, que facção seguir. Isso gera uma situação bizarra, pois, no instante em que você adota a Horda, não consegue mais falar com a Aliança - inclusive com os pandaren do outro lado, com quem você se comunicava normalmente segundos antes. Isso mantêm o equilibrio do jogo, mas não deixa de ser bizarro.

Jogabilidade arcaica

Com quase 7 anos de idade, "World of Warcraft" já não consegue esconder as rugas do envelhecimento. Pior ainda, a bela maquiagem de "Mists of Pandaria" ressalta a jogabilidade básica arcaica do MMO da Blizzard.

O sistema de combate automático, por exemplo, é funcional, mas em tempos de "Guild Wars 2" e "DC Universe Online", as lutas estáticas de "WoW" entregam a idade e deixam muito a desejar. Já as missões - com exceção de raides, instâncias e dos novos cenários - se tornaram mais individuais do que nunca. Um personagem de nível alto não precisa de um grupo para subir até o topo em "Mists of Pandaria" e, considerando que você está em um jogo online para milhares de pessoas ao mesmo tempo, isso parece ser algo errado.

E mesmo as missões de coleta/matança genéricas, típicas dos MMOs, incomodam em "Mists of Pandaria", já que o game oferece conteúdo melhor com frequência - a produtora poderia ter deixado de lado as buscas do tipo "colete 10 peles de urso" ou "mate 30 coelhos" e se dedicado apenas ao material inédito e divertido.

A Blizzard já mostrou ser capaz de reconstruir todo o mundo de "Warcraft" quando ele se tornou 'conhecido demais' pelos jogadores em "Cataclysm". Talvez seja hora de sentar e recriar seus sistemas mais básicos - ou quem sabe, produzir um jogo verdadeiramente novo.

Nota: 8 (Ótimo)