Xenosaga Episode I

da Redação

Um dos mais tradicionais gêneros de jogos de videogame são os RPGs. Apesar de uma visível evolução durante os últimos 20 anos, muito pouco mudou em sua fórmula e estrutura básica. Entre as pessoas que mais lutam para oferecer novas idéias está a equipe de Tetsuya Takahashi, responsável pelo clássico "Chrono Trigger". Depois de abandonar a Square ao completar "Chrono Cross", eles fundaram a Monolith Software e embarcaram na primeira parte da saga de seis episódios em que "Xenogears" é o quinto capítulo.

Ópera Sideral

A vontade de fazer uma saga espacial nos moldes de "Star Wars" está mais clara agora do que no jogo para PSOne, e as ligações com o antigo game da Square são terrivelmente óbvias - puristas que temiam um afastamento da mitologia original não precisam se preocupar. Mas apesar da continuidade da trama ser preservada (lembre-se: estamos falando de eventos ocorridos mais de 10.000 anos antes!), a mecânica do game é totalmente diferente. A impressão que "Xenosaga" deixa é difícil de explicar - parece que alguém descreveu um RPG para seus produtores, que então recriaram a fórmula de cabeça, sem nunca ter jogado um.

Essa engenharia reversa resulta em uma experiência bastante diferente. O jogo não tem um mapa mundi - a história acontece quase que inteiramente no Espaço, adicionando cada novo "calabouço" de maneira linear na trama (você pode revisitar uma versão virtual dos ambientes anteriores). Batalhas rendem nada menos que quatro tipos de experiência diferente, e o personagem só evolui uma vez que você investe esses pontos gastando algum tempo no menu. O game não conta apenas com mini-games, mas com toda uma rede de opções, inclusive uma conta de e-mail da protagonista, que deve ser respondida e arquivos anexos transferidos para o computador pessoal dela. Finalmente, o jogo conta o enredo através de cenas tridimensionais não-interativas dubladas - muitas e longas. Enquanto a maioria dos RPGs conta com, digamos, 30% de cenas sem participação do jogador, "Xenosaga" é obviamente predominantemente um desenho animado.

Ah, isso explica o título alemão...

Quem curte um bom RPG japonês já deve estar acostumado com grandes interlúdios filosóficos (você sabe, aquelas durante batalhas de vida ou morte que podem decidir o futuro da Humanidade) - mas "Xenosaga" leva isso para patamares sem precedentes. Além de repetidamente inventar tecnologias apenas para uma breve menção durante um único momento no jogo inteiro (elas trazem uma explicação detalhada na enciclopédia online do game), a trama é grande demais para o seu próprio bem. Assim como em "Xenogears", elementos são mencionados sem explicação nenhuma em determinado momento, para serem retomados sem aviso prévio dezenas de horas depois. Camadas sobre camadas de simbologias, referências filosóficas e religiosas se empilham com aparente descuido.

Não se engane: a história de "Xenosaga" certamente é temperada com muitos detalhes interessantes e idéias provocantes. O problema é que o ato de contá-la é enrolado: o ritmo do produto final é lento demais para um videogame e interrompido demais para um anime. Isso não vai impedir os fãs de aproveitar cada segundo das 40 horas de jogo - mas certamente vai afastar quem não estiver pulando sobre o game esfomeado da continuação do clássico de 1998. Como jogo, ele tem muito pouco a oferecer - mas como parte de um épico, ele é um prato cheio.