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Asura's Wrath

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

20/03/2012 13h43

"Asura's Wrath" é um jogo incrivelmente ousado e divertido que vai pegar muita gente de surpresa: parece um "God of War" simplificado, mas está mais para um desenho animado interativo.

Metade da brincadeira é distribuir porradas em fases de ação e tiros em trechos que lembram games como "Star Fox" e "Panzer Dragoon", enquanto o outro pedaço se resume a ver animações (muito bacanas!) com elementos interativos, à la "Heavy Rain" e até o próprio "God of War".

Com isso em mente, "Asura's Wrath" acerta em cheio no gosto dos fãs de histórias de super-heróis, em especial desenhos animados japoneses, com personagens carismáticos, lutas exageradas, uma mistura muito louca de religião e ficção científica e situações tão absurdamente dramáticas que chegam a ser engraçadas.

Introdução

"Asura's Wrath" apareceu na Tokyo Game Show 2010 como uma das apostas da Capcom em novas franquias. Sob os cuidados do experiente estúdio CyberConnect2, aclamado pelos recentes jogos de luta do anime "Naruto", o game mostra uma história que mistura religiões orientais e ficção científica e um protagonista muito, mas muito bravo mesmo.

Asura é um semideus que luta ao lado de outras divindades para proteger o planeta Gaea de monstros chamados Gohma. Após ser traído e morto por colegas de batalha, Asura volta à vida após milhares de anos em busca de vingança em uma aventura cheia de pancadaria e trechos de tiroteio, como em jogos de nave, ao estilo "Star Fox".

Pontos Positivos

História empolgante

O roteiro de "Asura's Wrath" é cheio de clichês batidos dos mundos das HQs, mangás, filmes e animes. Tem o herói traído, o vilão afetado, o bandido que vira mocinho, o poder oculto ativado em momentos de extremo perigo e assim por diante.

Tudo isso foi de propósito, como revelou o produtor Hiroshi Matsuyama ao UOL Jogos durante a TGS 2011: "Nós crescemos com animes e mangás aqui no Japão, há dezenas de séries acontecendo ao mesmo tempo por semana, estamos rodeados por eles e crescemos com tudo isso. Então, na verdade, é difícil dizer o que não nos influenciou. Mas não há nenhuma série em particular que pegamos como base".

O mais importante é que funciona. Do caldeirão de mil influências surge uma história divertida, comovente e empolgante, estrelada por um herói que já tem espaço no panteão de figuras clássicas da Capcom - não estranhe se Asura for um dos guerreiros mais requisitados para um eventual "Marvel vs. Capcom 4".

Verdade seja dita, "Asura's Wrath" exige certa dose de boa vontade e predisposição: se guerreiros com poderes para explodir o planeta mil vezes com o dedo e melodrama em um mundo de fantasia não forem sua praia, dificilmente a trama vai emplacar.

Narrativa experimental

"Asura's Wrath" lembra outras apostas não muito antigas da Capcom por sua abordagem pouco convencional, como aconteceu com "Okami", "God Hand" e "Zack & Wiki", por exemplo.

Metade de "Asura" é, de fato, um game jogável: você luta contra monstros e guerreiros em cenas de ação e dispara rajadas de energia enquanto voa em outras fases. O outro lado da história é composto por animações de muitos minutos, com rasos elementos interativos. Mova as alavancas direcionais para o herói mexer os braços ou pernas, aperte o botão de ataque freneticamente para acumular energia e assim por diante.

Mas tem um detalhe: não faz diferença. Caso você durma no ponto prestando atenção na história ou no incrível visual e não aperte a tempo, a história continua - e você só perde alguns pontinhos no final da etapa.

Nesses momentos, "Asura's Wrath" abre mão do desafio e cria a ilusão do obstáculo. Tanto faz se você apertar o botão no momento exato do golpe na cena, ele vai acertar e ter o mesmo desdobramento caso você tivesse errado. Mesmo quando é necessário pressionar loucamente para acumular energia, é tudo ilusão, mera brincadeira: o ponteiro vai e vem para criar a sensação de disputa, mas é um movimento automático, programado.

No final, a ousada jogabilidade de "Asura's Wrath" é quase como ir a um casa assombrada em um parque de diversões: você sabe que é mentira, mas aceita o convite, embarca na brincadeira e se diverte.

Músicas e vozes excelentes

Ainda que seja uma nova empreitada, "Asura's Wrath" compartilha o primor técnico de seu primo mais velho, "Okami". Gráficos e sons brilham com personagens repletos de detalhes e ótimas animações, amparados por uma excelente dublagem e trilha variada e empolgante. Aliás, as músicas apresentam uma ampla variedade, indo de temas tranquilos que remetem a ritmos orientais até rocks tomados por guitarras vibrantes.

Pontos Negativos

Muito curto

Um fato curioso: "Asura's Wrath" se estrutura como um seriado de anime. São 19 episódios, cada um com 15 a 20 minutos de duração, resultando em mais ou menos 6 horas e meia de jogo. Para um desenho animado, transmitido semanalmente e com intervalos comerciais, pode parecer uma boa duração, mas para um jogo de videogame ficou muito curto.

Jogadores dedicados darão conta da aventura em um rápido final de semana, deixando pouco incentivo para jogar de novo a não ser conseguir notas melhores nos episódios ou encarar dificuldades mais castigantes.

Pouco jogo "para jogar"

Quem encarou "Asura's Wrath" como um "God of War" ou "Ninja Gaiden" da vida vai se decepcionar: das 6 horas e pouco de partida, só mesmo metade disso é de jogo pra valer, com inimigos para enfrentar e o perigo de Game Over. Vamos fatiar mais o bolo: toda essa parte jogável se divide entre pancadaria e trechos de tiro, estilo 'navinha', como "Star Fox". No final das contas, o pedaço de ação mesmo, luta e pancadaria - elemento que a Capcom mais destacou desde o anúncio de "Asura's Wrath" - é bem fininho e pouco satisfatório.

Queda de frames

Apesar do visual incrível, "Asura's Wrath" forçou demais a barra: os belos gráficos comprometem a qualidade da animação, ocasionando em quedas de frames e até cortes de quadros na tela.

Em algumas animações isso não incomoda tanto, mas o problema é quando isso acontece em cenas mais agitadas que ainda exigem que o jogador aperte algum botão na hora certa. Errar o tempo do golpe porque a taxa de quadros ficou lenta e bisonha não é legal.

Final em aberto

Não importa se você curtiu ou odiou toda a premissa experimental de "Asura's Wrath": o final verdadeiro do jogo é absolutamente frustrante. Depois de uma série de embates e situações memoráveis, a história revela sua maior reviravolta no último minuto para então... simplesmente acabar, deixando aberta a possibilidade (melhor dizendo, necessidade!) de uma continuação.

Será que vem como conteúdo extra pago para download? Será que vai ficar para um segundo jogo? E se o jogo não vender bem, será que ainda teremos chances de ver o verdadeiro final do game? De cara, nem o jogo e nem a Capcom se habilitam a responder estas dúvidas.

Nota: 7 (Bom)