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Bulletstorm

10/03/2011 17h01

Na década de 1990, os jogos de tiro em primeira pessoa eram mais exagerados do que os games atuais. Ao invés de buscar o realismo cinematográfico, era comum em jogos como "Unreal" "Quake" e "Doom", o uso de armas enormes, com tiros capazes de efeitos mirabolantes e uma trama simples, geralmente histórias de ficção científica, para justificar as partidas frenéticas.

O gênero mudou, alguns diriam. Mesmo os jogos de tiro futuristas, como "Halo", se preocupam em apresentar uma narrativa forte e personagens bem desenvolvidos, com quem o jogador vá se identificar. No lugar dos alienígenas e brutamontes, os melhores games de tiro optam por terroristas, vilões por excelência do século XXI. É o videogame se aproximando do cinema, e assim, amadurecendo como mídia.

Na contramão

Game traz batalhas cheias de destruição
Para quem compartilha essa visão madura sobre os jogos eletrônicos, "Bulletstorm" é um chute entre as pernas. O game da polonesa People Can Fly é um retorno ao básico do gênero e entrega o que realmente importa num videogame: diversão. Algumas horas de "Bulletstorm" faz com que o jogador repense seus conceitos e acredite que se ele achou que havia algo mais importante do que a diversão nos games, era por não estar jogando nada tão divertido antes.

O enredo é simples, cheio de furos e clichês: o jogador é Gray, um pirata espacial preso em um planeta distante, acompanhado por Ichi, um ciborgue que já foi seu amigo e Trishka, uma garota de pavio curto. O trio precisa escapar e para isso, tem que mandar bala em centenas de inimigos que querem impedi-los.

Armado com um chicote energético capaz de puxar inimigos, um chute poderoso e um pequeno, mas criativo, arsenal, Gray ganha pontos com as execuções - e quanto mais criativo o fim do oponente, mais pontos se somam. Chute o oponente em um abismo, incinere seu corpo, enrole uma corrente de explosivos em seu pescoço, atire em sua cabeça, ou faça as três coisas em sequência, e será premiado com placares melhores do que se apenas mirar e atirar na cabeça. O estilo faz toda a diferença em "Bulletstorm".

O arsenal de "Bulletstorm" inclui uma arma que dispara uma corrente com granadas, como uma boleadeira explosiva, um rifle de precisão que permite ao jogador controlar o movimento da bala, um lança-granadas que dispara bombas do tamanho de bolas de boliche e, em dado momento, até um dinossauro mecânico que dispara raios laser. Cada arma possui um tiro secundário com efeitos poderosos, como a pistola que incinera o inimigo com fogos de artifício, por exemplo.

"Bulletstorm" premia execuções criativas
O jogo é bem executado, como seria de esperar: A People Can Fly traz consigo a experiênca de "Painkiller" e sua parceira em "Bulletstorm" é a Epic Games, criadora do motor gráfico do jogo, a Unreal Engine. O próprio Cliff Bleszinski, criador de "Gears of War" esteve envolvido com "Bulletstorm". Daí, talvez, a semelhança física dos personagens de "Bulletstorm" e do próprio "Gears". Ainda assim, o game consegue criar uma identidade visual própria, com os cenários tropicais de Stygia, muito mais coloridos do que o tom cinza e marrom do carro-chefe da Epic Games.

Competindo por pontos

Uma influência clara de "Gears of War" está no modo multiplayer. O jogo não oferece partidas competitivas, ao menos não no modelo "um jogador contra outro", apenas um modo cooperativo para quatro pessoas, similar ao popular Horde, de "Gears of War 2": os jogadores encaram ondas de inimigos cada vez mais fortes, e competem pela maior pontuação, com "skill shots" exclusivos, que só podem ser realizados com a participação de dois ou mais jogadores.

Outra modalidade extra, que promete dar sobrevida ao jogo, é o modo Echoes: nele, o jogador atravessa as fases da campanha, porém sem o enredo. As fases são divididas em estágios menores e para avançar é preciso marcar uma quantidade determinada de pontos. O placar final é enviado para um ranking mundial.

O ponto fraco de "Bulletstorm" é sua história: assumidamente simples, a trama serve apenas de desculpa para o jogador avançar pelo mundo de Stygia e arrebentar os inimigos de todas as maneiras possíveis e imagináveis. Porém, durante a campanha, há várias cenas de corte que insistem em pausar a ação, diminuir a diversão do jogador e lembrá-lo de como o enredo do jogo é fraco. Também há pouca diversidade de inimigos, mas alguns possuem habilidades específicas, como se esquivar do chicote e dos chutes de Gray, exigindo do jogador novas táticas para enfrentá-los.

Nota: 8 (Ótimo)