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Dragon's Crown

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

19/08/2013 18h25

A combinação de RPG e pancadaria de "Dragon's Crown" é um exemplo do trabalho quase artesanal da produtora Vanillaware, verdadeira especialista no gênero, responsável por jóias como "Odin Sphere" (PS2), "Muramasa" (Wii, PS Vita) e "GrimGrimmoire" (PS2), para citar só alguns.

O jogo apresenta um visual caprichado, daqueles que nos fazem questionar a proximidade da "próxima geração" de consoles, e mecânicas viciantes, que tornam o ciclo de cumprir missões, coletar tesouros e aprimorar seus personagens em uma atividade prazerosa e nada entediante. Melhor ainda, é uma experiência que se encaixa como uma luva no PS Vita - mas que pode ser aproveitada também no PlayStation 3.

Introdução

"Dragon's Crown" é um RPG bem ao estilo de "Diablo", porém com uma importante diferença: todo o deslocamento, pancadaria e ação acontece em um plano 2D - como em um 'beat'n up' das antigas, como "Streets of Rage" ou, para ficarmos no tema medieval fantástico, "Dungeons & Dragons: Chronicles of Mystara". De fato, o game da Vanillaware se passaria facilmente por uma das pérolas da Capcom em meados dos anos 1990, mas muito mais bonito.

Publicado pela Atlus, "Dragon's Crown" coloca os jogadores no controle de um grupo de aventureiros que precisam salvar um reino medieval de um perigoso dragão. Para isso, é preciso revirar masmorras, labirintos e cavernas, encarar vários monstros e evoluir seus heróis, em um longo ciclo de matar monstros, evoluir personagem, melhorar equipamento e matar de novo. O jogo permite multiplayer local e online, mas você também pode jogar sozinho, com companheiros controlados pela máquina.

Pontos Positivos

Pancadaria e RPG na dose certa

"Dragon's Crown" acerta com perfeição na combinação de RPG e pancadaria. Você escolhe entre seis 'classes': amazona, elfa, anão, guerreiro, mago e feiticeira, cada um com suas particularidades. O ideal é formar um grupo com personagens diferentes, seja jogando com amigos ou com personagens controlados pela máquina - ao jogar com um guerreiro ou com a amazona, você vai querer a ajuda de um mago ou da elfa para usar poderes e flechas para lidar com oponentes distantes, por exemplo.

Cada personagem possui seus combos e movimentos especiais, que são aprimorados ao custo de pontos de habilidade. Você pode escolher os novos poderes em dois batalhos: um deles é específico para a classe selecionada, o outro tem perícias e vantagens comuns à todos, como 'mais pontos de vida' ou 'maior chance de encontrar tesouros melhores'.

O ciclo de jogo envolve aceitar missões, desbravar masmorras, enfrentar monstros, encontrar portas secretas, coletar tesouros e encarar chefões, voltar para a cidade e receber mais recompensas, identificar itens mágicos, ressucitar personagens... lembra muito a mecânica de "Diablo" ou outros jogos do gênero. E funciona perfeitamente com a pancadaria generalizada vista na tela.

Por falar nisso, ambas as versões possuem os mesmos controles, exceto pelo cursor presente no PS3, substituido pelo intuitivo toque do jogador na telinha do PS Vita. No portátil, os comandos que envolvem toque tornam a experiência mais fluída do que no console. O minigame de cozinha no acampamento, por exemplo, é uma atividade muito mais divertida no portátil do que em seu irmão mais velho.

Companheiros eletrônicos

Você pode jogar "Dragon's Crown" com mais três amigos ou mesmo com desconhecidos. Tanto no PS Vita quanto no PlayStation 3, o jogo suporta multiplayer local ou online. Porém, se você estiver jogando sozinho - digamos, em uma viagem de ônibus ou coisa do tipo - você terá uma experiência similar ao das partidas multijogador, através do sistema de companheiros.

Durante suas andanças no jogo, você encontrará pilhas de ossos. São aventureiros que tombaram em combate. Ao reviver esses heróis na igreja da cidade, eles aparecem na taverna. Você pode selecionar até 3 deles para acompanhar seu personagem em uma aventura ou pode simplesmente deixar as vagas abertas para que eles apareçam enquanto você explora as masmorras - exatamente como em uma partida multiplayer.

Visual incrível

Como é de se esperar da Vanillaware, a direção de arte em "Dragon's Crown" é primorosa. Os cenários são belíssimos, com efeitos de deslocamento e iluminação fantásticos. Entre uma batalha e outra, cada estágio do jogo é cheio de detalhes e animações minuciosas que valem parar para apreciar.

Toda a experiência da Vanillaware no gênero é exibida em "Dragon's Crown" e em mais de um momento você vai se pegar imaginando que "é assim que um jogo 2D deve parecer em um console da próxima geração", até se lembrar que está jogando no PlayStation 3 ou no PS Vita, ambas plataformas atuais.
 

Pontos Negativos

Pode ficar repetitivo

Lá pela metade da aventura, você vai entrar em um ciclo de repetição em "Dragon's Crown". Com a desculpa de encontrar gemas mágicas para enfrentar o chefão final, será preciso visitar novamente todas as masmorras do jogo. Mesmo com um segundo caminho aberto para o jogador - com salas, armadilhas e inimigos diferentes, além de novos chefes monstruosos, você se verá repetindo essas dungeons diversas vezes, para acumular experiência e armas melhores, até porque esses chefões são bem mais fortes do que os primeiros.

O jogo incentiva o processo de repetição: você acumula bônus maiores ao ir se aventurando de uma masmorra para outra, sem voltar para a cidade. Inclusive, o portal mágico que leva para os diferentes estágios "entra em pane" e torna essas jornadas aleatórias. Se quer escolher seu destino, é preciso desenbolsar ouro nos estábulos.

Para alguns, isso não é problema: o 'grinding' é um elemento comum aos jogos do gênero. Para outros, pode se tornar repetitivo. Ao menos os estágios não são tão longos e várias missões secundárias só podem ser cumpridas ao retornar várias vezes aos calabouços já desbravados.

Gosto duvidoso

Uma crítica precisa ser feita ao design de personagens de "Dragon's Crown": em todo o game, as mulheres são retratadas de forma sensual e exagerada. Seios desproporcionais, pernas abertas de uma ponta à outra da tela do PS Vita, poses vulgares. Garotas que gemem e estremecem com o toque do jogador na tela do portátil. Seios que balançam ao golpear uma camponesa inofensiva - e cuja única reação é essa, ficar lá, balançando.

Não são detalhes pequenos, mas situações constantes ao longo do game. A arte exagerada dos personagens é até compreensível: "Dragon's Crown" tem o apelo adolescente que você encontraria, duas décadas atrás, nas páginas de revistas de fantasia como a saudosa Heavy Metal, mas aposta pesado em uma apelação sensual incòmoda e desnecessária diante da qualidade e da diversão oferecida pelo jogo.

Integração limitada

Disponível para PS3 e PlayStation Vita, "Dragon's Crown" se limita a permitir que você compartilhe os 'saves' do jogo entre as duas versões. Não há suporte para multiplayer entre console e portátil e ambos os títulos são vendidos separadamente - diferente de outros jogos lançados para as duas plataformas, como "Hotline Miami" ou "Retro City Rampage", você não pode 'comprar um e levar dois'.

Nota: 8 (Ótimo)