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Enemy Front

Victor Ferreira

do Gamehall

12/08/2014 17h58

“Enemy Front” é uma relíquia de outra era: O shooter genérico de Segunda Guerra Mundial. Onipresentes no final da década de 1990 e nos anos 2000, o gênero perdeu força nos últimos tempos, tendo até rendido games diferentes, como o recente “Wolfenstein: The New Order”.

Infelizmente, este não é o caso de “Enemy Front”, que parece vir diretamente de 2004 em termos de jogabilidade, tom e ambientação. Mais do que isso, o game não acrescenta ou desenvolve nada do que foi apresentado nos anos após o declínio de popularidade do gênero. Se lançado há 10 anos atrás, ainda seria considerado mediano em comparação a títulos como “Battlefield: 1942” e o primeiro “Call of Duty”.

A jogabilidade acaba compondo a história da campanha, que tenta apelar pelo sentimento de perda e sacrifício dos revolucionários em países ocupados pelo exército nazista, de maneira pouco efetiva.

Embora não seja uma experiência terrível - pelo menos, não em sua maior parte -, “Enemy Front” acaba perdendo em comparações com lançamentos recentes e melhores no que quer apresentar.

Varsóvia chamando

“Enemy Front” é protagonizado pelo repórter americano Robert Hawkins, que cobre as forças de resistência em diversos países tomados pelo exército alemão. O game é dividido em duas partes: O “presente”, em que Hawkins está envolvido com a Resistência Polonesa durante a Revolta de Varsóvia; e alguns “flashbacks” que indicam como o jornalista chegou ao confronto, passando pela França, Noruega e a própria Alemanha.

A ideia de trazer a perspectiva de um jornalista para o campo de guerra tem um potencial interessante. Hawkins, porém, tem menos aptidão ao seu suposto trabalho do que Frank West - que ao menos tirava uma ou outra foto relevante enquanto despedaçava zumbis com um cortador de grama.

A única indicação de seu trabalho durante o jogo são algumas transmissões feitas por rádio e uma ou outra foto tirada ao final de uma missão. De resto, Hawkins é uma máquina de matar nazistas tanto quanto B. J. Blazkowicz, não apenas cobrindo as ações dos guerrilheiros quanto tomando parte ativa nelas - algo um tanto mal-visto na comunidade jornalística.

A ideia é de que Hawkins vai de uma pessoa oportunista a alguém que acredita no valor das revoluções, mas o jogo não faz um bom trabalho de mostrar esta mudança de comportamento, já que ele não mostra nenhum medo em partir direto para a ação logo no primeiro flashback.

A narrativa também procura explorar o sacrifício e o horror que ocorreram nestes anos difíceis para a população da Europa, mas o game é repleto de personagens caricatos, que em sua maioria acabam desaparecendo da história poucos momentos de serem introduzidos. O diálogo também acaba sendo clichê e forçado, e as atuações dos dubladores não ajudam.

Completado por cortes abruptos nas cutscenes - incluindo o final do jogo -, tudo reforça a sensação de que a história de “Enemy Front” é um bom conceito mal executado, que não utiliza a mídia ou o gênero shooter para passar sua mensagem efetivamente.

Mandando bala

A narrativa fraca poderia até ser compensada por uma jogabilidade engajante, o que não é o caso de “Enemy Front”. As mecânicas de tiro não são ruins, mas também não são muito diferentes do que já visto em dezenas de outros jogos.

O game procura utilizar da mesma filosofia de jogos como “Deus Ex” e “Dishonored”, com a chance de chegar ao seu objetivo furtivamente. Diferente destes games, porém, não há opções de caminhos alternativos, e como a inteligência artificial dos inimigos não é particularmente sofisticada, é muito mais rápido, simples e tranquilo ir pra cima de qualquer chucrute que ouse passar por perto de Robert Hawkins, Correspondente de Guerra Mais Sanguinário do Mundo.

A furtividade também é extremamente debilitada pela dificuldade em ver os inimigos, que muitas vezes ficam “camuflados” mesmo a uma distância curta. É possível marcar os soldados por um binóculo, mas isso requer tempo e paciência para encontrar todos os inimigos.

Mais frustrante do que tudo, porém, é a distribuição pobre de checkpoints e impossibilidade de criar quick saves, o que pode levar o jogador a perder mais de 10 ou 15 minutos de jogo após uma morte.

No fim, embora a ação e os controles fossem perfeitamente aceitáveis, a repetitividade e a duração mais longa do que necessária da campanha, estas frustrações começaram a diminuir ainda mais meu interesse pelo game.

Por um dia melhor

Embora não tivesse muita expectativa por “Enemy Front”, é bem claro que o game seja um ótimo conceito que não atingiu seu potencial. Não é um jogo péssimo, de qualquer forma: Os gráficos são bem feitos, embora não particularmente impressionantes e os controles (no PC, ao menos) são simples e intuitivos.

O problema é que nada realmente chama a atenção, seja positiva ou mesmo negativamente. Mais do que isso, outros jogos com temáticas similiares lançados neste ano o superam facilmente em quesitos técnicos, narrativos e emocionais.

Portanto, caso queira experienciar como o horror da guerra afeta o cidadão comum, jogue “Valiant Hearts: The Great War”; caso queira atirar na cara de nazistas, a melhor pedida é “Wolfenstein: The New Order”, que também explora os problemas das pessoas envolvidas em um conflito armado efetivamente.

Quanto a “Enemy Front”? Recomendo apenas se estiver com um grande desconto no Steam ou em outra plataforma digital.
 

Nota: 4 (Medíocre)