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Ninokuni: Another World

Akira Suzuki

Do UOL, em São Paulo

14/02/2013 13h54

"Ni no Kuni" é a combinação do que os RPGs japoneses (JRPG) já fizeram de melhor - ainda que mantenha também alguns clichês negativos. O jogo conquista pelo lindo visual e pela magistral trilha sonora, mas também entrega uma história envolvente e batalhas gratificantes - para quem tiver paciência de ver o game engrenar.

O game parece uma versão mais sofisticada de "Dragon Quest VIII" (que também foi feito pela Level-5) em muitos aspectos: tem visual de desenho animado, trilha sonora orquestrada e um mundo cheio de criaturas fofas e/ou bizarras (principalmente animais antropomórficos). Mas também incorpora elementos de "Tales of" e "Pokémon", devido ao componente de ação e o uso de criaturas nas batalhas.

"Ni no Kuni" tem qualidade de sobra para trazer novos fãs para o JRPG (e quem não gostou provavelmente não irá mais apreciar nenhum título do gênero). Agora, os admiradores vão se esbaldar nesse maravilhoso mundo de fantasia e os 'completistas' (aqueles que querem explorar 100% do jogo) têm conteúdo de sobra, com centenas de monstros para evoluir e missões para realizar.

Introdução

Como não ficar empolgado com um RPG japonês feito pela Level-5 em parceria com o estúdio Ghibli? A primeira é uma das melhores produtoras nipônicas para RPGs, tendo no portfólio títulos como "White Knight Chronicles" e "Rogue Galaxy". E a segunda é o lendário estúdio de animação de Hayao Miyazaki, que lançou ao mundo obras como "Meu Vizinho Totoro", "Cemitério dos Vagalumes" e "A Viagem de Chihiro" (Oscar de melhor animação de 2003).

O resultado é um dos melhores RPGs japoneses da geração, que demorou a chegar ao Ocidente. Mas a espera valeu a pena. "Ni no Kuni" teve uma localização muito bem feita, preservando o espírito do original. No melhor estilo dos desenhos da Ghibli, o game conta a história do garoto Oliver, que, depois de uma tragédia, descobre que está destinado a virar um mago e salvar o dia.

Pontos Positivos

Visual e trilha sonora

A primeira coisa que se percebe em "Ni no Kuni" é que ele é lindo. Não se trata, obviamente, de beleza fotorrealista, mas o quanto se parece com um desenho animado. As cenas em tempo real são tão bem-feitas que quase dispensam as animações feitas à mão pelo estúdio Ghibli, que pipocam em momentos importantes da história.

Tudo isso é acompanhado pela belíssima trilha sonora tocada pela Orquestra Filarmônica de Tóquio. Assim como "Dragon Quest", "Ni no Kuni" também conta com um compositor famoso no Japão: no caso, Joe Hisaishi, que musicou várias animações dos estúdios Ghibli, incluindo "A Viagem de Chihiro". Parece trilha de filme - tem evolução -, ao contrário de muitos games em que um mesmo tema, bem curto, é repetido ad infinitum.

Um mundo fantástico

"Ni no Kuni" faz referência a um mundo paralelo, em que cada habitante do 'mundo real' tem uma alma gêmea do 'lado de lá' ('ni no kuni', aliás, pode ser traduzido livremente como 'mundo dois'). É aqui que a imaginação de Akihiro Hino, presidente e principal designer da Level-5, encontrou a experiência do estúdio Ghibli, um especialista em mundos fantásticos.

O mundo de "Ni no Kuni" é habitado basicamente por humanos - mas também se encontra fadas e animais 'humanizados' (estes, aliás, rendem a maior parte das piadinhas e trocadilhos). Nesse jogo, as fadas são criaturas baixinhas e esquisitas, como Mr. Drippy, que tem um narigão e uma lamparina na ponta. Esse personagem de sotaque esquisito é o alívio cômico da trama e responde pelos momentos mais engraçados e inusitados do jogo.

O mapa-múndi pode não ser muito grande, mas tem tanto lugar para explorar que nem parece ter o tamanho que tem. Fora que os cenários são bem variados, como uma versão em miniatura da Terra, com florestas, desertos, montanhas, vulcões, geleiras e tudo mais.

Fácil de jogar

Não se trata de nível de dificuldade: no modo normal, inimigos mais difíceis e chefes podem oferecer bastante desafio. O negócio é que o game tenta eliminar as frustrações típicas de um RPG japonês. Sabe quando você fica perdido e não sabe mais o que fazer? Pois é, "Ni no Kuni" traz um sistema de ajuda que indica exatamente onde se deve ir. Felizmente, para quem quer resolver tudo por conta própria, é possível desligar esse recurso.

Além disso, praticamente todas as missões paralelas ficam marcadas no mapa (e, ao adquirir mais magias, até baús secretos podem ser revelados). As 'side quests' costumam ser fáceis e rápidas, o que dá a sensação de estar evoluindo continuamente, mas também existem missões que demandam mais esforço (e que também dão melhores recompensas). Claro, nem tudo é dado de mão beijada: tem muita coisa que só é descoberto explorando o mundo com afinco.

Os inimigos aparecem no mapa, o que ajuda a evitar batalhas desnecessárias (embora alguns monstros sejam tão rápidos que não dá para desvencilhar). Existe uma troca de tela nos combates, mas a transição é bem rápida. Outra coisa a destacar é o Wizard's Companion, um extenso livro que você pode consultar dentro do game e traz basicamente tudo que se precisa saber em "Ni no Kuni", como mapas, armas e receitas de alquimia.

Sistema engenhoso de batalha

Os combates são basicamente por turnos, mas também incorporam elementos de ação, que permite mover os personagens livremente. Lembra bastante a mecânica de games como "Final Fantasy XII" e da série "Tales". Também incorpora elementos similares a "Pokémon", em que monstros lutam no lugar dos 'donos' (mas em "Ni no Kuni", os humanos também entram na briga e possuem habilidades únicas).

Com um sistema de signos e elementos, cada monstro tem um grupo de 'predadores' naturais e 'presas'. Embora a força bruta consiga passar por cima das triangulações de forças, saber usar essas relações torna os combates muito mais eficientes, principalmente aqueles contra chefes. Enfim, é um sistema que depende bem menos de 'level grinding' (treinos para aumento de nível) que os outros RPGs, embora isso seja necessário para evoluir novas espécies de monstros.

Pontos Negativos

Inteligência artificial truncada

O sistema de batalha é engenhoso, mas como o jogador controla apenas um dos componentes do grupo, o apoio dos demais nem sempre acontece de forma eficiente. A impressão é de que as ações são inadequadas ou fora de 'timing' - como uma magia de suporte que é aplicada quando a luta já está para acabar (e os pontos de magia são bem escassos nesse jogo).

Mas talvez o maior problema seja quando o seu personagem vai atacar (nessas horas, a ação se torna automática até o fim do 'turno'). Ele nem sempre faz isso na hora; às vezes ele toma distância ou fica simplesmente parado, dando um tempo até desferir golpes. E também não entende que precisa desviar dos outros personagens para poder atacar seu alvo. Nessas horas, você é obrigado a cancelar a ação, se reposicionar para depois continuar o ataque. É algo que não acontece sempre, mas tem potencial para estragar uma batalha.

História que demora a engrenar

"Ni no Kuni" é o tipo de jogo que tem uma premissa bem clichê - o garoto destinado a salvar o mundo -, mas com uma jornada criativa. O início é até movimentado, mas, passada essa parte, o game fica bem devagar. Os arqui-inimigos se revelam pouco a pouco e mesmo depois de mais de dez horas de aventura novas funções ainda estão sendo liberadas. A sensação é que as coisas chegam tarde demais, como os comandos de ataque e defesa em grupo, que seriam de grande ajuda em confrontos anteriores.

Nota: 8 (Ótimo)