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Rage

PABLO RAPHAEL

da Redação

19/10/2011 08h00

A id Software demorou 5 anos para desenvolver "Rage" mas entregou um jogo de tiro caprichado, que experimenta combinar elementos de RPG e corrida em um tiroteio tradicional, coisa que o estúdio sabe fazer muito bem.
 

Mesmo com a ambientação superficial, que mostra muito e explica quase nada, "Rage" convence e deixa aquela sensação de "quero mais" após o término da aventura. É um game que ajuda a definir o futuro do gênero, que pode e precisa ir além das guerras modernas e campos de batalha tão comuns hoje em dia.

Introdução

"Rage" é a produção mais recente da id Software, estúdio que criou os jogos de tiro com "Catacomb", "Wolfenstein", "Doom" e "Quake". O jogo é uma aventura pós-apocalíptica que combina intensos combates em primeira pessoa com elementos de RPG e divertidas corridas a bordo de veículos no melhor estilo "Mad Max".

Pontos Positivos

Gráficos impressionantes

"Rage" está entre os jogos mais bonitos já feitos. É fácil parar e apreciar a paisagem pós-apocalíptica, com seus rochedos, cânions, efeitos de iluminação e água impressionantes.

A beleza não está apenas na imensidão da paisagem, mas também nos personagens, detalhados e com expressões faciais convincentes, que se movem, rolam no chão, se penduram em canos e atacam violentamente, em constantes 60 quadros por segundo.

Outros detalhes bacanas incluem os drones de combate, os bumerangues que se quebram após ricochetear nas paredes ou se enfiam na testa dos inimigos e os veículos que perdem peças nas batidas e no calor do combate.

Graficamente, "Rage" é um jogo lindo, que eleva as paisagens apocalípticas, muito em voga nessa geração, para um novo patamar.

Diversidade de situações

"Rage" se passa na Terra do futuro, onde a civilização foi destruida após o impacto de um asteróide. Você é um sobrevivente do passado, dotado de implantes cibernéticos, que emerge de um abrigo e rapidamente se envolve na luta dos habitantes locais contra mutantes, bandidos e os agentes da Autorithy, o que sobrou do governo dos Estados Unidos.

O jogo é estruturado em uma série de missões que passam a sensação de um mundo aberto, substituindo fases fechadas por buscas em cavernas, esgotos e áreas que servem de esconderijo para os vilões.

As missões são bem variadas e incluem perseguições e corridas em veículos off-road devidamente equipados com metralhadoras, lança-mísseis e outras armas, busca de itens e até uma gincana na televisão, onde é preciso acabar com mutantes em arenas cheias de armadilhas.

Os chefões ocasionais ajudam a dar variedade para os tiroteios e vão desde bandidos equipados com armaduras pesadas até monstros com tentáculos e um gigante que arremessa pedaços dos prédios contra você. As batalhas contra os chefes são bem integradas ao resto da partida e não comprometem a mecânica de jogo, aproveitando o cenário bem planejado para garantir desafio e entretenimento na medida certa.

Arsenal variado

Você começa o jogo com uma pistola, mas rapidamente adquire novas armas, como um rifle de assalto, uma escopeta, um rifle de precisão, um lança-foguetes e até uma besta.

Essas armas podem ser melhoradas com peças específicas e também contam com munições variadas, que causam mais estrago ou efeitos específicos, como flechas eletrificadas, por exemplo.

Mas as armas secundárias sãs as que mais divertem em "Rage": torres de metralhadoras, drones de combate - pequenas aranhas mecânicas que atiram e atacam os inimigos por você - e carrinhos de controle remoto explosivos, assim como os bumerangues, capazes de decepar a cabeça dos inimigos, dão ao jogo uma identidade própria em meio a tantos outros jogos de tiro.

Corridas

As corridas são parte integrante da campanha de "Rage" e garantem certificados que você pode trocar por peças, armas e novos veículos.

As provas envolvem desde tomadas de tempo até disputas com jipes equipados com lança-foguetes, onde vale tudo para chegar em primeiro. Nas pistas há itens especiais, como recargas para as armas e tanques de energia para aumentar o "turbo" do carro.

Não é preciso correr em todas as provas e se você não gostar, pode ignorar todas as disputas não obrigatórias, mas fica a dica: além de render muita diversão, a vida nas estradas de "Rage" é mais fácil quando você tem um bom carro equipado com o melhor armamento possível - coisa que você só consegue vencendo nas pistas.

Missões secundárias

Além da campanha principal, "Rage" tem muita coisa para fazer: missões secundárias podem ser adquiridas em um mural na cidade e envolvem desde buscas nas bases inimigas até a proteção de civis - atirando com um rifle sniper nos mutantes que tentam impedir seu trabalho.

Há também missões de correio, em que você faz entregas correndo contra o tempo e detonando inimigos nas estradas e vários mini-games, como um jogo de dados holográfico e um jogo de cartas colecionáveis, chamado "Rage Frenzy", surpreendentemente complexo.

Sobre colecionáveis, o jogo inclui uma série de 18 saltos em que é preciso "atropelar" câmeras da Autorithy que monitoram as estradas e também os cards do "Rage Frenzy", que estão espalhados pelo mundo do jogo e podem ajudar a formar um deck vencedor.

Outros itens dignos de nota e que vão tomar um bom tempo dos jogadores mais obstinados são os bonecos de personagens de "Fallout 3", "Doom" e outros jogos, alguns deles escondidos em áreas secretas do game, que homenageiam os jogos anteriores da id Software.

Modo cooperativo

Além da campanha para um jogador, "Rage" oferece uma série de missões cooperativas, na modalidade "Legends of Wasteland", onde você e mais um amigo - jogando online ou em tela dividida - revivem aventuras dos personagens do jogo e episódios "clássicos" do programa Bash TV.

São missões relativamente curtas, mas há uma boa quantidade delas, liberadas conforme o progresso no jogo - seja no modo solo ou no próprio multiplayer - e planejadas para explorar bastante o trabalho em equipe.

Pontos Negativos

Curta duração

Pode não ser um problema para muitos, mas quem esperou 5 anos para jogar "Rage", vai se decepcionar com a curta duração do jogo. Fazendo apenas as missões principais na dificuldade "Normal", você deve levar cerca de 10 horas para chegar ao fim da aventura.

Esse tempo de jogo é ampliado ao explorar todas as missões secundárias, procurar itens colecionáveis e claro, brincar nos modos multiplayer, mas ainda assim é pouco e o universo do jogo - pouco explicado na aventura - deixa um gosto de "quero mais" quando a história chega ao fim.

Herói silencioso

Um dos pontos fracos de "Rage" é seu herói sem voz nem personalidade definida. Você não decide por conta própria se vai se unir a um grupo ou outro e apenas cumpre as missões conforme elas aparecem, sem nenhuma motivação ou dúvida aparente, algo estranho para quem passou um século confinado num abrigo embaixo da terra.

Faltou profundidade

O mundo de "Rage" é vasto e cheio de detalhes que compõem sua mitologia e ambientação. Cada gangue e cidadezinha possui sua própria cultura, com monumentos, pinturas e estética próprias.

Tudo isso é mostrado durante o jogo, conforme você caminha e explora o cenário, mas nada é explicado. O que é a água marinha gigante com tentáculos de polvo pintada na rocha? Como surgiu a Bash TV? E os gigantes de Dead City?

"Rage" não explica nada disso, apenas coloca você contra seus inimigos e deixa que tire suas próprias conclusões, preenchendo as lacunas com a imaginação. O jogo evoca um futuro apocalíptico fantástico, mas não deixa que você descubra como ele se formou.

Não tem multiplayer "tradicional"

O multiplayer competitivo de "Rage" se limita a combates sobre rodas, com algumas variações, que também servem para liberar novas armas, como morteiros, para os veículos.

É estranho que uma produtora especializada em jogos de tiro, que tem "Quake" em seu currículo, não inclua uma modalidade mata-mata tradicional, a pé e em uma das tantas fases bem elaboradas do game.

Efeito "pop up" nas texturas

Os belos gráficos de "Rage" sofrem com um mal constante: as texturas do jogo demoram para se formar, ganhando qualidade aos poucos, mesmo depois da pesada instalação do jogo. É uma demora de poucos segundos, mas como é constante, se torna um incômodo.

De forma geral, o problema se agrava quando você não faz aquilo que o game espera, virando para trás quando devia olhar para frente ou fuçando um canto que não é onde a ação está acontecendo.

Esse "pop up" não estraga a experiência, mas não deixa de ser uma falha, ainda mais em um game que tem nos gráficos um de seus pontos mais fortes.

Nota: 8 (Ótimo)