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Ridge Racer 7

24/11/2006 20h05

Pode não parecer, mas "Ridge Racer" já tem 13 anos de vida. Nascido nos fliperamas virou uma figurinha carimbada no lançamento de cada videogame, principalmente os da Sony. Foi assim com o PSOne, PlayStation 2 e PSP. No ano passado repetiu a dose com o Xbox 360 e, agora, faz o mesmo com o PlayStation 3.

Mas "Ridge Racer 7" não parece exatamente um jogo novo. Muito de seu conteúdo - assim como as sensações ao jogar - vem do antecessor direto, lançado para o console de nova geração da Microsoft. Mas pequenas mudanças deixaram o game mais equilibrado. Um deles é a possibilidade de modificar os carros, que, se não é nenhuma novidade entre os títulos de corrida, é um passo até ousado dentro do conservadorismo da série "Ridge Racer".

Os incríveis deslizes a 200 km/h

"Ridge Racer 7" é um game de corrida do tipo arcade, ou seja, privilegiando o controle à fidelidade às leis físicas, como fazem simuladores como "Gran Turismo". A série possui muitos seguidores fiéis, mas quem a vê pela primeira vez, fica espantado com sua peculiaridade: as derrapagens surreais.

As corridas de "Ridge Racer" passam por essas derrapagens-monstro, seja por ser a maneira mais rápida de fazer as curvas, principalmente as mais fechadas, ou pelo fato de o movimento acumular a barra de nitro, que, quando cheia, permite uma maior aceleração do veículo. Esse deslize, ou "drift", já era uma característica do original de 13 anos atrás, mas ficou cada vez mais acentuado nas últimas edições. Trata-se de um fenômeno japonês, onde muitos rachas acontecem em pistas de encostas de montanhas, de grande sinuosidade, e o único jeito de vencê-las é fazendo cavalos-de-pau.

Para fazer os "drifts", basta soltar o botão de acelerador, girar o volante, e acelerar novamente. Assim, de lado, o veículo desliza em alta velocidade pela pista, como se estivesse num rinque de patinação. O direcionamento é quase automático, necessitando de apenas pequenos ajustes durante o processo. O momento mais delicado é a saída da curva, que exige um tempo certo para voltar dirigir o carro "normalmente".

Assim como no antecessor direto, os carros são divididos em três tipos distintos. O "Mild" é o que tem a melhor estabilidade - ou seja, é preciso virar mais o volante para que derrape - e a que mais se aproxima do controle de um carro de um game de corrida "normal". Já o "Dynamic" é exatamente o contrário: é muito fácil derrapar com esse tipo de carro e o controle durante o "drift" é mais complicando - exige uma reparação constante da direção, pois não há estabilidade -, mas tem a maior velocidade entre os veículos de sua categoria e é a opção que os experts mais podem tirar proveito. E o "Standard", como o nome já diz, é um meio termo entre os dois tipos.

Velozes e furiosos

Mais do que superar as curvas, as derrapagens estão intrinsecamente ligadas ao sistema de nitro. Quem já viu um gamer experimentado jogar, poderá notar que ele derrapa até quando aparentemente não é necessário. Ledo engano. É que os "drifts" fazem encher a barra de óxido nitroso, que, quando cheia, permitem uma aceleração maior que a normal. A barra tem três níveis, e o impulso fica tanto melhor quanto mais segmentos estiverem preenchidos.

Mas essa velocidade extra tem mais utilidade do que se supõe de imediato. Utilizando a característica da qual a barra aumenta conforme a velocidade em que o "drift" é executado, os mais experientes usam a rapidez residual do nitro para uma derrapagem ultraveloz, preenchendo a barra de forma muito mais eficiente. Não à toa, o game chama isso de "ultimate charge".

Com isso, a utilização da aceleração extra ganha um componente estratégico e é preciso usá-la muito bem se quiser superar o computador em estágios mais avençados ou oponentes humanos com alguma cancha de "Ridge Racer". O game não tem quase nada de real, mas é inegável que seu conjunto de regras permite ótimas disputas. Vence quem melhor compreendê-las e colocar em prática a estratégia.

Aliás, "Ridge Racer 7" ganha mais um elemento que torna as disputas mais equilibradas: é a mecânica de vácuo, uma novidade na série. Agora, os carros produzem uma espécie de túnel de baixa pressão, onde a resistência do ar é menor e, consequentemente, a velocidade é maior. Assim, quem está atrás ganha vantagem. Assim, as corridas ficam imprevisíveis até receber a bandeira quadriculada. Ou algo que o valha.

Correndo pelo mundo sozinho...

As opções de modalidade não são muitas, mas cobrem a necessidade da maioria dos jogadores. Quem quiser uma partida descompromissada pode pular direto para o Arcade, seja sozinho ou com um amigo, com tela dividida. Esta última modalidade, porém, deixa um pouco a desejar, pois se perde em desempenho e a qualidade do visual também cai, com texturas pouco definidas. É verdade que se trata de um jogo de estréia e as produtoras ainda estão buscando maneiras e usar melhor o videogame, mas não deixa de ser uma surpresa desagradável ver que o PlayStation 3, alardeado como uma supermáquina, demonstre sinais de limitação.

No entanto, um dos principais modos de jogo é o "Ridge State Grand Prix", que, simplificando, é a velha modalidade de carreira. Aqui, um vídeo introduz como um piloto de nível internacional. Depois de escolher uma montadora, o roteiro para o estrelato inclui participar de campeonatos e corridas promovidas pela marca, ganhando tanto dinheiro como prestígio ("fame points", na linguagem do game).

Com o tempo, você também poderá se relacionar com outras fábricas, e ter à disposição peças e produtos das mesmas. Assim, você poderá ter sempre o carro mais competitivo. Além das corridas tradicionais, ainda há eventos isolados patrocinadas pela organização UFRA, que incluem competições de "time trials", ou seja, para bater o recorde de uma pista, ou outras condições limitantes.

O tuning é uma novidade no mundo de "Ridge Racer". Agora, o jogador pode modificar os carros, incluindo o motor, nitro, pneus, suspensão e plug-ins. O ajuste dos dois primeiros itens reflete na velocidade final e na potência da aceleração extra, no entanto, o pneu e a suspensão não parecem influenciar dramaticamente no desempenho do carro. Segundo a companhia, há 7.150 combinações de peças. Existem também modificações cosméticas, com 375 mil variações, sem incluir pintura e adesivo para os carros.

...ou acompanhado

"Ridge Racer 7" também tem boa gama de modos online, que aumentam drasticamente a vida útil do game. Para começar, há um ranking global de recordes de tempo, dinheiro, fama e pontos obtidos por competições online. O multiplayer aceita até 14 jogadores e funciona bem, sem muitos problemas de atrasos na comunicação. Mas uma das modalidades mais divertidas é a competição em duplas, em que a cooperação é a chave para o sucesso.

Nesse modo diversas estratégias podem ser aplicadas, como bloquear o oponente, alternar-se no uso do vácuo e a hora de usar o nitro. A comunicação é feita por textos pré-fabricados, que são automaticamente traduzidos para a língua configurada no sistema do console. O ideal seria uma comunicação por voz, mas o sistema de texto, dentro de suas limitações, funciona bem.

O game dá mostras de como funcionará o sistema online do console, pelo menos num primeiro momento. Cada jogador cria um perfil dentro do game, que guarda informações como a posição no ranking, distância percorrida, dinheiro, pontos e prêmios por conquistas, que são concedidos ao atingir determinados objetivos, como ganhar certa quantidade de dinheiro ou de vitórias consecutivas, tal e qual como nos games para Xbox 360. Só não é unificado no sistema do console, mas administrado apenas dentro do jogo. Em tempo: uma vantagem é que o multiplayer online é gratuito.

O online também é usado para acrescentar funcionalidades ao game, como eventos especiais UFRA, que a produtora Namco promete incluir de tempos em tempos. Também haverá novos decalques para carros. Tudo gratuito, segundo a companhia. As músicas extras, porém, prometem ser cobradas. O game vem com 40 trilhas sonoras.

Visual e som artificiais

Embora ofereça 22 pistas, 15 vem de "Ridge Racer 6", para Xbox 360. Outra é a clássica Seaside Route 765, presente desde o primeiro jogo. Os circuitos originais para o PlayStation 3 são dedicadas às paisagens asiáticas, como uma que tem prédios modernos e casas antigas, permeadas com ideogramas chineses, ou ruínas numa densa floresta, um cenário típico do Camboja. Ainda há outra pista com montanhas rochosas com estátuas de Buda esculpidas.

Em geral, os ambientes são bem detalhados, mas limpos - até demais - que deixa tudo mais frio. Isso é uma característica da série, e não foi desta vez que mudou. Comparando com os gráficos do Xbox 360, parecem um pouco mais definidos no PlayStation 3, mas é o mínimo que se espera já que saiu um ano depois. O game suporta uma resolução maior também, de 1080 linhas sem entrelaçamento (1080p), mas não chega a ser muito diferente da alta resolução padrão (720p).

O destaque do visual fica para os veículos. Não que o brilho da lataria seja algo muito realista, mas a modelagem é ousada. Como não são carros reais, a Namco "viajou" em alguns modelos, lembrando aqueles carros conceituais de salões do automóvel. No total são 40 modelos.

O desempenho é excepcional, pelo menos quando não se divide a tela: tudo roda na máxima suavidade, com 60 quadros por segundo. A sensação de velocidade é ótima, ainda mais ajudada por um efeito de borrão de movimentos. Mas, há alguns contratempos também. Não espere nada de realismo na simulação de física: não há programação de danos nem capotagens espetaculares. Embora a colisão possa ser a mais de 200 km/h, a impressão é que a batida foi a 20 km/h.

O som também segue a tradição. Em geral, são músicas eletrônicas com alguma energia, mas provavelmente ninguém vai ficar notando. A sonoplastia também é mediana, sem nada a destacar no barulho dos motores, batidas e derrapagens. Há também uma irritante narradora, que insiste em falar obviedades toda vez que acontece uma ultrapassagem ou quando se usa o nitro.

Correndo em pista própria

"Ridge Racer 7" é, para o bem e para o mal, um legítimo sucessor da franquia. Apesar de trazer novidades bem-vindas como a "carona" no vácuo e modificações nos veículos, ainda é um game voltado basicamente para os fãs da série. É capaz de um usuário novo amar as derrapagens exageradas do game, mas as chances são de apenas estranhar esse jogo que se tornou apenas excêntrico ao longo dos anos. Quem conseguir entrar em sintonia do game, encontrará diversão, seja sozinho ou pela internet.

Nota: 6 (Razoável)