Para algo que mexe com a imaginação das pessoas ao redor do planeta e é de domínio público - ou seja, é de graça - a mitologia grega sempre foi pouco explorada no mundo dos games. Alguns jogos encontraram sucesso ao longo dos anos, como "Altered Beast", "Kid Icarus" e "Rygar", mas foi preciso o blockbuster da Sony, "God of War", para movimentar as produtoras na criação de algo mais imponente e sóbrio. Algo que pudesse alcançar um público mais amplo, interessado em viver as emoções dos mitos, mesmo sem ter muita intimidade com os controles.
A Codemasters aproveitou a idéia e investiu em "Rise of the Argonauts", uma aventura que faz uma verdadeira salada de referências e várias concessões para apresentar a jornada do rei Jasão e seus Argonautas em busca do velo de ouro. A mecânica tenta incorporar um sistema de combate em tempo real, como em um jogo de ação em terceira pessoa, com vários toques de RPG - como árvores de diálogos e algo parecido com pontos de experiência - sem se aprofundar em nenhum aspecto de maneira realmente empolgante.
Da ação ao RPGO início de "Rise of the Argonauts" nos leva a acreditar que se trata de uma cópia cara de pau de "God of War". Você começa controlando Jasão depois que sua noiva sobre um atentado e parte para a briga, desferindo golpes brutais contra os assassinos. São golpes simples e combos de apenas dois ou três ataques, com espadas, maças e lanças, que despedaçam e esmagam os inimigos sem a menor piedade, mas sem o clima imponente do clássico da Sony ou seu dinamismo.
Depois de algum tempo, quando o protagonista pára para respirar e trocar idéias com seu amigo Hércules para desenvolver o enredo, temos uma idéia melhor de como funciona o resto do jogo. Aparecem então árvores de diálogo como em "Mass Effect", que exploram o relacionamento entre os personagens e podem garantir (ou não), em alguns casos, facilidades para o avanço na história. Infelizmente as opções são bem mais simples do que no jogo da Bioware, portanto boa parte das conversas está lá apenas para construir o enredo e sua população, o que não é necessariamente ruim, só comum demais.
Para tornar o avanço menos doloroso, Jasão pode evoluir ao preencher uma série de requisitos que lembram as Conquistas do Xbox 360 - como matar um determinado número de inimigos. Ao completar tal lista, é possível oferecer a um deus específico e trocar por alguma habilidade especial, que pode aumentar seu poder de ataque ou sua barra de energia, por exemplo.
Jasão conta ainda com a ajuda de figuras notáveis como Hércules, Aquiles e Atalanta no campo de batalha - ainda que não seja possível dar-lhes ordens - e é indicado também buscar upgrades para armaduras e armas. Na prática, no entanto, são medidas que parecem perfumaria, uma vez que você nunca realmente sente o benefício delas. Não há uma sensação de poder ampliado, porque os mesmos golpes de sempre continuam sendo os mais eficazes. Só o caos na tela se torna maior, com mais inimigos voando pelos ares - o que infelizmente acaba afetando a taxa de quadros de animação negativamente.
Mitologia recriadaApesar da queda ocasional de quadros, em geral, os gráficos de "Rise of the Argonauts" são bem interessantes, principalmente o design dos personagens. Jasão e seus Argonautas são incrivelmente detalhados, com muitos equipamentos, acessórios, hematomas e veias pulando, e outros cuidados também foram tomados em sua movimentação - o herói, por exemplo, move sua cabeça para acompanhar a trajetória dos inimigos quando está correndo. Os cenários também são bastante variados, com belos detalhes, ainda que sofram com algumas texturas que custam a aparecem de vez em quando.
O áudio já se mostra bem menos inspirado. Dependente de muitas horas de diálogo, o jogo infelizmente conta com um elenco de pouco carisma, que tem dificuldade em prender a atenção do jogador menos interessado mesmo nas cenas mais calorosas e contundentes da trama. Com isso boa parte do impacto se dilui, mesmo com o bom roteiro. A trilha segue o mesmo caminho, sem nenhum trecho de destaque, que apenas cumpre seu papel de pontuar a ação e o drama nos pontos devidos.
CONSIDERAÇÕES
"Rise of the Argonauts" faz uma grande mistura sobre o mito de Jasão e os Argonautas com o intuito de criar um RPG de ação simples e acessível. Pena que tal simplicidade tenha diluído a mecânica ao ponto de transformar o jogo em uma aventura de pancadaria de apenas dois ou três golpes, interrompida por muita falação. Ainda assim, o roteiro é interessante o suficiente para prender a atenção daqueles que curtem o tema.