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The Cave

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

29/01/2013 08h01

A mais nova aventura de Ron Gilbert - a mente criativa por trás de "Maniac Mansion" e "Monkey Island" - "The Cave" é uma grata surpresa. Com um misto de puzzle e exploração, o adventure consegue entreter com facilidade. Seus personagens parecem estereótipos, mas todos apresentam uma característica quase subversiva, que os torna únicos e faz da busca por seus passados um motivo instigante para jogar. A aventura, porém, é curta: os puzzles não são complicados e a repetição dos elementos ao longo das 3 sessões necessárias para terminar o game por completo tiram um pouco do brilho da experiência.

Introdução

Em "The Cave" você controla um grupo inusitado de aventureiros na exploração de uma misteriosa caverna mágica. Cada um dos 7 personagens está em busca de seus sonhos mais secretos e para encontrá-los, você precisa guiar o grupo por uma jornada cheia de puzzles e exploração, passando por cenários inesperados, como um parque de diversões, uma pirâmide e um laboratório científico, entre outros. Tudo é pontuado pelo humor excêntrico da Double Fine.

O jogo não exige muita coordenação motora, mas sim o raciocínio não-linear na hora de buscar soluções para seus puzzles. Jogando sozinho, é preciso levar os personagens para lá e para cá, o que pode ser um pouco cansativo depois de algum tempo. O ideal é chamar um amigo ou dois - nada de multiplayer online - e dar boas risadas enquanto tentam chegar ao fundo da caverna.

Pontos Positivos

Personagens inusitados

Assim como em "Maniac Mansion", em "The Cave" você precisa escolher um grupo de 3 aventureiros entre os sete personagens disponíveis. Cada um deles possui uma habilidade única e garante a entrada do grupo em uma área específica da caverna. Todos os sete são divertidos e originais.

São eles: o cavaleiro medieval (que fica invencível por um curto período de tempo), a viajante do tempo (que pode se teleportar por curtas distâncias), a aventureira (que se pendura com um gancho), o caipira (capaz de prender a respiração e nadar mais longe), o monge (que 'conjura' objetos do cenário), a cientista (capaz de hackear computadores) e os gêmeos - crianças sinistras que contam como um personagem só e podem deixar clones executando tarefas.

Cada personagem tem sua própria história e motivações para explorar a caverna e parte da diversão aqui está em descobrir mais sobre o passado deles. Você faz isso encontrando pinturas escondidas nas paredes da caverna e cumprindo a missão de cada um deles.

Sem revelar mais, basta saber que todas as histórias subvertem os conceitos mais comuns desses personagens, o que deixa as coisas mais interessantes - ao menos durante a primeira partida com cada um dos aventureiros.

A caverna

O cenário de "The Cave" é, na prática, mais um personagem. Para começar, a caverna fala, fazendo às vezes de narrador de cada aventura. Além de dar o tom ao drama pessoal dos exploradores, a caverna faz comentários divertidos sobre a situação. Vale observar, a narração é em inglês e portanto, exige um conhecimento razoável do idioma para que você compreenda - e se divirta - com as piadas.

Visualmente, a caverna é muito bem feita. Os cenários específicos de cada personagem são cheios de detalhes, áreas escondidas e efeitos próprios - como a paisagem ao fundo da pirâmide ou o dragão que guarda o castelo. Há referências escondidas aos trabalhos pasados de Gilbert, como a bebida Grog, de "Monkey Island".

Na parte técnica, "The Cave" encanta com a ausência de 'loadings'. Uma vez apertado o Start, o jogo está todo lá, você escolhe seu grupo e parte rumo ao desconhecido, sem pausar entre uma área e outra. E é interessante notar que, embora as áreas neutras da caverna - que não são dedicadas à nenhum dos personagens em específico - são sempre as mesmas, a ordem em que elas aparecem muda conforme o grupo selecionado.

Bons puzzles

Os puzzles de "The Cave" não são extremamente complexos, mas apresentam uma boa variedade e, nos melhores casos, exigem do jogador a capacidade de raciocinar de forma não linear, associando elementos do cenário ou posicionando os personagens em pontos não tão óbvios à primeira vista, para desviar a atenção dos oponentes ou literalmente, enganá-los com um truque barato.

Claro, depois que você descobre como resolver cada puzzle, atravessar os estágios de "The Cave" uma segunda vez se torna uma tarefa fácil e bem rápida -  o que é um problema, pois repetir parte da jornada é algo exigido para quem quiser conhecer os segredos de todos os personagens.

Pontos Negativos

Pouco uso dos poderes especiais

Na maior parte do tempo, os puzzles de "The Cave" podem ser resolvidos com elementos do cenário. Apenas alguns quebra-cabeças de cada área exige o uso dos poderes especiais dos personagens, obviamente, daquele á quem o estágio pertence. Mesmo que a utilização do poder não seja óbvia, é uma pena que o game não permita mais de uma maneira de solucionar cada caso.

De certa forma, os poderes são garantias de que o grupo conseguirá entrar nos estágios: para chegar ao parque de diversões, é preciso mergulhar e nadar com o caipira para abrir caminho para os demais membros do grupo, mas uma vez lá dentro, qualquer um dos 3 pode resolver os divertidos puzzles das atrações.

Uma comparação comum antes de jogar "The Cave" é com o clássico "The Lost Vikings", mas na prática, o jogo da Double Fine sai perdendo: você não combina os poderes dos aventureiros, apenas utiliza cada um deles de maneira isolada e na prática, bem menos do que gostaria.

Repetição de estágios

Cada jornada pela caverna permite que o jogador leve 3 personagens consigo. Para fazer 100% do jogo, portanto, é preciso repetir o passeio 3 vezes, sendo que na última, você terá apenas um personagem 'novo' no grupo.

Ainda assim, terá que passar pelos estágios dos outros dois para chegar ao fundo da caverna. Pior ainda, terá que passar pelas mesmas três áreas 'genéricas' da caverna, resolvendo os mesmos puzzles seguidas vezes. Ainda que seja uma tarefa mais rápida, pois você já sabe a solução de cada tarefa, a sensação de repetição é inevitável.

Mesmo que a sequência de áreas mudem conforme o grupo, seria melhor se cada viagem pela caverna trouxesse áreas realmente novas, estimulando ainda mais a exploração.

Multiplayer simplificado

"The Cave" aceita até 3 jogadores simultâneos, em multiplayer local. É bem divertido explorar a caverna com amigos, cooperando para encontrar a solução de cada puzzle e dando boas risadas com as situações.

Porém, "The Cave" falha ao não oferecer opções como multiplayer online ou, pior ainda, pela falta de tela dividida. Assim, o grupo precisa avançar junto, indo e voltando pela caverna quando cada personagem poderia correr para um lado, buscando itens e ativando as geringonças exigidas pelos quebra-cabeças.

Nota: 7 (Bom)