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The Crew

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

29/12/2014 15h39

"The Crew" é uma boa ideia mal executada.

A recriação de todo o mapa dos EUA que o game apresenta como cenário impressiona com sua atenção aos detalhes, e a variedade de estilos de carros também satisfaz.

Mas erros de programação, uma inteligência artificial trapaceira e vários outros problemas em elementos básicos do jogo fazem com que ele seja uma oferta para poucos. Interface lenta, obrigatoriedade de conexão online, presença de microtransações... A lista de pontos negativos é bem longa.

O diverso mundo aberto pode agradar aos fãs mais dedicados que conseguirem encontrar amigos para montar uma 'crew', mas todos os outros provavelmente se divertirão mais com outros jogos de corrida recentes como "Forza Horizon 2" e "DriveClub".

Introdução

Alex Taylor não apenas presencia o assassinato de seu irmão, como também é condenado pelo crime. O protagonista recebe uma chance de vingança pelas mãos da própria força policial que o prendeu, e deve cumprir seus objetivos fazendo o que ele faz de melhor: dirigir em alta velocidade.

A trama de vingança clichê dá o tom de "The Crew", jogo de corrida em mundo aberto da Ubisoft que tem um foco em interações online.

O game tem como cenário uma versão miniaturizada do mapa dos EUA, e permite que jogadores participem de eventos de curta e longa duração. Em alguns deles, dá até para correr de Nova York até Los Angeles de uma vez só.

Pontos Positivos

Enorme mundo aberto

O maior trunfo de "The Crew" é seu palco: uma recriação temática dos EUA, que não segue a escala real mas é grande o suficiente para impressionar.

Nem todas as regiões do país foram programadas com a mesma atenção aos detalhes, mas sempre é possível notar elementos que denunciam as inspirações de cada uma delas. Enquanto cidades como Los Angeles e Miami são inconfundíveis, os cenários da Dakota do Norte não são tão bem representados. Mas as vastas planícies que cobrem o estado estão lá.

Cada região dos EUA favorece um tipo distinto de corridas - um toque bem engenhoso que motiva os fãs a explorarem o país inteiro. As retas das longas estradas da Costa Oeste, por exemplo, são perfeitas para veículos que se encaixem no rótulo 'Circuit'. Já veículos off-road são melhores aproveitados nas áreas rurais do outro lado do mapa.

Os EUA foram colocados no game justamente por terem paisagens extremamente diversas, e o resultado final justifica a escolha.

Pontos Negativos

IA trapaceira

O pior erro que um jogo de corrida pode cometer é ter uma inteligência artificial trapaceira, e "The Crew" é culpado disso em um nível absurdo.

Os carros controlados pelo computador são sempre capazes de fazer curvas impossíveis. Quando deixados para trás, eles "misteriosamente" recuperam todo o tempo perdido em questão de segundos. Se capotam, muitas vezes eles retornam para a pista à frente do ponto de seu acidente. Em algumas ocasiões eles reaparecem imediatamente na trajetória do jogador, causando acidentes totalmente inevitáveis.

Mesmo com carros no nível máximo, com vários upgrades, jogadores ainda sofrem com esse problema. O jogo precisa trapacear para criar desafios.

O resultado? Ultrapassagens não dão satisfação porque há grande chance delas serem revertidas injustamente. Não é uma experiência divertida.

Física defeituosa

O sistema de manuseio dos diferentes estilos de carros presente em "The Crew" até que funciona bem, apesar de não ser daqueles que faz sentido logo no primeiro contato. Mas a física do game tem uma série de defeitos bem bizarros.

Às vezes colisões frontais a mais de 100 quilômetros por hora fazem com que seu carro apenas gire levemente para o lado. Em outras ocasiões, um breve contato com uma cerca pode causar capotamentos incríveis.

Missões de perseguição

É difícil resistir à vontade de desligar o videogame quando chega a hora de participar de missões de 'Getaway' ou 'Takedown'.

No primeiro estilo de empreitada, o objetivo é escapar dos radares de policiais ou de oponentes da gangue. Não importa se seu carro é o mais veloz que o sistema permite: os controlados pelo computador serão melhores em todos os sentidos. Eles conseguem se manter imediatamente atrás de você mesmo após as manobras mais espetaculares da sua vida, e são capazes de brecar de 100 a 0 quase imediatamente para interromper seu movimento quando estão na sua frente.

Com os papéis invertidos nas missões de 'Takedown', a história é exatamente a mesma. O carro que deve ser derrubado segue sempre a mesma trajetória impecável, e tudo o que você pode fazer é acompanhá-lo e esperar pelos momentos exatos em que o jogo propositalmente lhe dá a chance de atingi-lo.

São verdadeiras sessões de tortura nas quais "The Crew" deixa bem claro que odeia seus fãs. São missões mal pensadas e mal programadas que deveriam ter sido completamente cortadas do jogo final, mas que ao invés disso estão por todos os lados.

Clichês de vingança

Povoada por todos os maiores clichês das tramas de vingança e intriga policial, a história de "The Crew" não seria um incômodo tão grande se o jogo não tivesse tanto orgulho dela. Missões e diálogos fazem questão de lembrar os fãs de suas motivações a todo momento.

É a velha história do ex-corredor ilegal que na verdade é bonzinho. Dividido entre suas origens e um grupo de policiais com ideias terríveis, o protagonista Alex Taylor precisa infiltrar-se em uma gangue automotiva para desmontá-la.

A proposta até faz algum sentido, até o jogador perceber que a gangue não precisa de nenhuma ajuda externa para ruir. Todos os seus membros parecem se odiar, e eles estão sempre brigando entre si.

O roteiro de "The Crew" tem todos os ingredientes perfeitos para ganhar uma adaptação em filme lançado direto para DVD.

Online obrigatório

"The Crew" se apresenta como uma espécie de 'MMO de corrida', no qual jogadores podem interagir a todo momento enquanto exploram o mundo aberto ou cumprem missões. Teoricamente.

Na prática, é estranhamente difícil encontrar partidas online para os modos competitivos, e muitas vezes atravessei múltiplos estrados sem encontrar nenhum outro jogador, apesar de estar conectado - já que o acesso à rede é obrigatório.

Um problema de conexão qualquer pode fazer com que o jogador seja lançado de volta para a tela de título sem qualquer meio de recuperar seu progresso recente em corridas 'offline'.

A aparente falta de jogadores ainda obriga iniciantes a enfrentarem veteranos com super carros mais vezes do que seria considerado aceitável.

Quando funciona, porém, o modo online é divertido. A integração de uma 'crew' - um grupo de amigos que pode cumprir missões juntos - requer uma boa dose de dedicação por parte de todos os envolvidos, mas vale o esforço. Principalmente porque as recompensas em pontos para objetivos cooperativos são bem maiores, e evitam que os jogadores sejam forçados a gastar dinheiro de verdade para ter alguma flexibilidade na compra dos veículos mais caros.

Nota: 5 (Medíocre)