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The Order: 1886

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

19/02/2015 11h01

Com "The Order: 1886" a produtora Ready at Dawn realizou um belo trabalho e ergueu as fundações para uma nova franquia original nos consoles PlayStation. Para quem veio direto do PSP para o PS4, o mérito do estúdio é inegável, mas o mesmo pode ser dito dos problemas do game.

Não é fácil recomendar "The Order" para qualquer jogador: é uma experiência bonita e intensa, livre dos 'bugs' que assolam os grandes lançamentos e com uma boa história, mas é um game curto e que não tem nada a oferecer após o final da aventura, nenhum motivo para trazer o jogador de volta. "The Order" deixa um gosto de "quero mais" no jogador e isso é bom. Mas é uma sensação que chega cedo demais e não há nada que você possa fazer quanto a isso. Falta conteúdo extra, falta 'replay'.

Em uma época em que jogos são tanto produtos quanto serviços, "The Order" tenta convencer sendo apenas um game e isso, talvez, não seja mais o bastante.

Introdução

Exclusivo para PlayStation 4, "The Order: 1886" é um jogo de ação e tiro ambientado em uma versão alternativa da Inglaterra Vitoriana. O jogo narra as aventuras de uma ordem de cavaleiros que descende da lendária Távola Redonda e do próprio Rei Arthur em uma luta contra os inimigos do Império Britânico e criaturas das trevas.

O game oferece uma experiência intensa combinando narrativa pesada com sequências de ação furtiva, bons tiroteios e combates violentos. Você controla o cavaleiro Galahad e usa um arsenal que vai de espingardas e pistolas até armas mais exóticas, desenvolvidas pelo inventor Nikola Tesla e que deixariam o escritor Júlio Verne com inveja - o destaque é um rifle que enche o ar de combustível para em seguida incendiar os alvos.

Com cenas em computação gráfica indistinguíveis das sequências interativas e partes jogáveis, "The Order" é um ótimo exemplo do poderio gráfico do PS4. A aventura é totalmente guiada pelo enredo e se você não tiver problemas com o inglês, vai preferir jogar no idioma original: a dublagem brasileira cumpre seu papel, mas o sotaque britânico dos personagens se perde na tradução.

Pontos Positivos

Gráficos incríveis

"The Order: 1886" é o jogo mais bonito já feito para o PlayStation 4. Esse elogio certamente será válido para cada grande produção exclusiva do console daqui para a frente, mas isso não o torna menos verdadeiro: a Londres da era Vitoriana é um espetáculo de se ver, seja admirando a paisagem pela bancada do casarão de Galahad ou fuçando pelos telhados e túneis da cidade. O mesmo pode ser dito dos cenários internos e dos belos efeitos de luz, fumaça e fogo.

Olhando de perto, "The Order" é tão bonito quanto em suas paisagens. A Ready at Dawn caprichou muito nos detalhes de Galahad e dos outros personagens, desde os anéis da cota de malha até o tecido das roupas, o rádio sobre o ombro do cavaleiro, as expressões faciais... o game enche os olhos e mostra o poderio gráfico do novo console.

"The Order" é daqueles jogos que você vai querer ter por perto para mostrar para os amigos do que o novo videogame é capaz.
 

Ambientação original

Um dos pontos altos de "The Order" é a ambientação, que foge dos já manjados cenários pós-apocalípticos cheios de zumbis, invasões alienígenas ou guerras no Oriente Médio que costumam servir de palco para grandes shooters. O jogo se passa em uma versão 'steampunk' de Londres durante a era Vitoriana e nele, você controla Grayson, um dos cavaleiros da sociedade inglesa conhecida como "A Ordem", um grupo que descende da lendária Távola Redonda. Seus integrantes são guerreiros que adotam os nomes dos cavaleiros do Rei Arthur (Grayson é Sir Galahad, seu melhor amigo é Percival e há também mulheres, como Lady Ygraine, que não deve nada aos companheiros bigodudos).

A Ordem luta contra rebeldes que atacam Londres e ao longo da aventura, Galahad vai lidar com monstros licantropos, investigar as ruas sombrias de Whitechapel (bairro pobre que ficou famoso pelos ataques do assassino Jack, o Estripador) e questionar sua lealdade à Ordem e ao governo britânico em cenas de filme interativo muito bem feitas.

A ambientação é rica e cheia de detalhes que podem ser descobertos em fotos, páginas de jornal e arquivos de áudio espalhados pelas fases de "The Order". O enredo deixa várias pontas soltas para a inevitável continuação, sugerindo não só o desenrolar da história de "1886", mas um mundo maior para ser descoberto.

Sistema de combate

"The Order: 1886" pode ser dividido entre cenas cinematográficas, sequências de narrativa interativa (onde você aperta os botões indicados para prosseguir a história) e sequências de exploração, furtividade e combate. Os trechos de exploração são curtos e desprovidos de interesse e as fases furtivas dão uma bem vinda variedade ao jogo, ainda que não sejam super desafiadoras (mas rendem algumas das mortes mais violentas do jogo). Os trechos de combate aberto, esses sim, são os melhores momentos do game.

O sistema de combate de "The Order" não esconde a influência de jogos como "Gears of War" e "Uncharted", utilizando mecânicas de cobertura (você cola num 'murinho' e dispara contra os inimigos ao redor), arenas semicirculares que exigem atenção para ambos os lados e premiam o jogador por permanecer em movimento, além de permitir abordagens variadas, dependendo das armas equipadas e do estilo do jogador: ficar atrás do muro atirando em quem colocar a cabeça para fora da cobertura é divertido para alguns, outros vão preferir saltar pela cerca e detonar o adversário com socos e golpes de faca.

Algumas fases garantem mais variedade, como no salão do dirigível em que Galahad precisa primeiro identificar os rebeldes disfarçados entre os guardas, eliminá-los antes que assassinem um figurão e só então partir para o confronto direto. Em quase todas as cenas de ação, "The Order" mostra um design de fases bem pensado e que rende batalhas empolgantes - pena que não sejam tantas.

Pontos Negativos

Trama demora para engatar

Por ser o primeiro jogo de uma nova franquia, é natural que "The Order" tenha um começo lento. O jogo se esforça para capturar o interesse do jogador no primeiro capítulo, que nada mais é que uma longa sequência de cenas interativas, mas depois disso, a história demora para decolar.

O jogo leva um bom tempo apresentando os cavaleiros da Ordem, a situação atual do grupo e os problemas que enfrentam em Londres, a questão dos rebeldes e outros detalhes. Isso consome quase um terço da trama e nesse período, as missões não são muito desafiadoras - um trecho nos túneis é particularmente tedioso.

Demora para o jogo ganhar ritmo e a história ficar realmente interessante. E quando isso acontece, "The Order" parte rápido em direção a um clímax violento e envolvente, que vai deixar você querendo mais.

Curto e sem extras

A grande polêmica de "The Order" está na duração do game. Para esta análise, levei cerca de 8 horas para chegar ao fim do jogo, contando todas as batalhas que repeti por deixar Galahad morrer aqui e ali. Há quem termine o jogo em menos ou mais tempo, mas dificilmente você vai levar mais de 10h para fechar o game.

A curta duração de "The Order" não seria tão ruim se o game tivesse algo mais para oferecer ao jogador. Mas sem um modo multiplayer competitivo, sem suporte para partidas cooperativas ou sequer trajes e personagens extras para desbloquear, sobram poucos motivos para jogar o game novamente.

Um jogador entusiasta vai voltar para encontrar todos os colecionáveis, desbloquear os troféus até conquistar a almejada platina (não é tão difícil e você pode selecionar os capítulos que vai visitar diretamente do menu principal). Depois disso, o jogo vai voltar rapidinho para a estante, de onde poderá sair para exibir os gráficos de ponta para algum amigo curioso.

Nota: 7 (Bom)