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05/06/2008 - 20h02

Especial "Ninja Gaiden": os anos 80 e a "ninjamania"

OTÁVIO MOULIN
Colaboração para o UOL
A figura do ninja, o guerreiro que se utiliza das sombras e de métodos criativos para realizar ataques fulminantes, existe no Japão há centenas de anos, e integra a história e folclore do país. Mesmo por lá, no entanto, sua presença demorou a ser explorada na cultura pop no pós-2ª Guerra, ao contrário, por exemplo, do samurai, que chegou a fazer sucesso rapidamente já na década de 50, em especial pelos trabalhos do diretor Akira Kurosawa e do ator Toshiro Mifune.

Enquanto filmes como "Os 7 Samurais" e "Yojimbo" chegaram a ganhar popularidade ao redor do mundo, os filmes de ninja só criaram algum tipo de sensação na década de 60, mas limitada ao mercado japonês. Provavelmente o primeiro contato do grande público ocidental com estes guerreiros das sombras foi na ocasião em que Sean Connery, ou melhor, James Bond topou com alguns deles em sua viagem ao país do sol nascente em "Com 007 Só se Vive Duas Vezes", de 1967. Ou talvez alguns anos mais tarde, em 1975, quando eles se tornaram grandes vilões do filme "Elite de Assassinos", do celebrado diretor Sam Peckinpah. Ou ainda quando figuraram alguns filmes de artes marciais importados de Hong Kong, durante a febre do kung fu acarretada pela morte de Bruce Lee.

De qualquer maneira, o ninja, até o final dos anos 70 nada mais era, salvo por alguns poucos produtos feitos no Japão, que um inimigo exótico com aparições esporádicas em determinados veículos.

INFLUÊNCIAS
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Graças à "ninjamania", as violentas "Tartarugas Ninja"...
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... viraram um produto infantil de grande apelo e sucesso, enquanto...
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... a febre inspirou até mesmo uma canção do rapper Vanilla Ice.
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A situação só mudou na virada da década, com um empurrãozinho do governo Reagan. Naquela época, com a Guerra Fria, a administração dos EUA criou uma arriscada estratégia econômica que diminuiu os impostos, pôs a inflação em baixa e aumentou as importações, criando uma verdadeira explosão de consumo no país. Naquele momento havia demanda para tudo, o que explica, por exemplo, restringindo ao universo pop, a hoje lendária marca das 33 milhões de cópias vendidas do álbum "Thriller", de Michael Jackson, em 1984. E para cada grande produto, havia sempre outros similares na cola, de qualidade variável, que iniciavam uma série de "booms", ou "manias", como foram chamadas no Brasil, que obviamente sentia os reflexos do mercado norte-americano.

O embrião da "ninjamania" surgiu em 1980. Primeiro com o lançamento de "Octagon - Escola de Assasssinos", um filme menor estrelado por um Chuck Norris infiltrado em um campo de treinamento de ninjas. Depois, e de maneira mais contundente, quando o hoje famoso romancista de ficção e espionagem Eric Van Lustbader publicou o livro "Ninja", que se tornou um best-seller tanto nos EUA quanto no exterior. Isto chamou a atenção dos produtores Richard Zanuck e David Brown, que tinham no currículo nada menos do que o filme "Tubarão", que definiu o termo "blockbuster".

Assim, como qualquer outro alto conceito na época, outros aventureiros surgiram para explorar um possível filão e, sabendo o interesse de Zanuck e Brown no tema, os produtores israelenses Menahem Golan e Yoram Globus correram e foram mais rápidos. Os dois, donos do Cannon Group - que logo faria muito sucesso bancando filmes estrelados por Charles Bronson, Jean-Claude Van Damme e pelo próprio Norris - compraram um roteiro escrito por Mike Stone, um campeão de karatê com aspirações a se tornar astro de cinema e que acabou se tornando dublê.

Depois de vários problemas nas filmagens, o filme da Cannon batizado como "Enter the Ninja" chegou aos cinemas norte-americanos, em outubro de 1981. Seu ator principal, o italiano Franco Nero, famoso pela série de faroestes "Django", foi ali o primeiro grande protagonista ninja do ocidente. Curiosamente, no Brasil a fita recebeu o título de "Ninja - Programado para Matar" - batizada desta forma graças ao outra mania, no caso a "rambomania", criada pelo filme de Sylvester Stallone, uma vez que o filme idealizado por Stone demorou alguns anos até ser lançado oficialmente por aqui. Já a adaptação do romance de Lustbader acabou ficando na geladeira.

Embora "Ninja - Programado para Matar" não tenha sido exatamente um sucesso de bilheteria, a Golan e Globus tinham a onda do consumismo a seu favor e o advento de um novo bem de consumo: o videocassete. Havia grande demanda por filmes disponíveis no formato e os grandes estúdios não eram ágeis o suficiente para abastecer as lojas e locadoras. Pequenas como a Cannon, que faziam filmes baratos e ligeiros, conseguiram um bom lucro preenchendo estas lacunas, também no exterior, e logo duas pseudo-seqüências surgiram, "A Vingança do Ninja" e "Ninja III - A Dominação", além da série "Guerreiro Americano". Os chineses, que amargavam o fim da era do Kung-Fu, também correram atrás e começaram a fazer filmes de ninja aos montes, o que inundou o mercado com filmes do estilo, a maioria de qualidade bastante questionável.

Com tanta exposição de uma figura tão misteriosa, o impacto foi sentido por todos os segmentos da economia. Logo academias que ofereciam treinamento ninja começaram a pipocar pelos cantos, assim como produtos que faziam referência a estes guerreiros, a mais reconhecida talvez sendo a linha de motos esportivas da Kawasaki iniciada em 1984. Ninjas exerciam um fascínio tão grande que conseguiram até mesmo transformar "As Tartarugas Ninja", antes um obscuro e violento quadrinho em preto e branco, em uma grande franquia de desenhos animados e produtos relacionados para crianças.
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