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Fliperama que também era console, Neo Geo faz 20 anos

"The King of Fighters "94" inagurou um dos maiores sucessos da SNK -
"The King of Fighters '94" inagurou um dos maiores sucessos da SNK

<b>AKIRA SUZUKI<br> Colaboração para o UOL</b

29/04/2010 18h30

É difícil imaginar isso nos dias de hoje, mas os fliperamas já foram a vanguarda dos games. Nos idos da década de 80, a tecnologia que cercava os chamados arcades era muito superior a dos videogames domésticos, e o sonho de todo gamer era ter aquela experiência no conforto do lar.

O PC Engine, da NEC, e o Mega Drive, da Sega, bem que tentaram, mas ainda havia um abismo entre as plataformas "profissionais" e domésticas. As placas de fliperama são produtos caros, e em 1990, a SNK, uma produtora de Osaka, teve a ideia de produzir um sistema de arcade de baixo custo, com jogos gravados em cartuchos (o título típico da época integrava na mesma placa o hardware e o software).

Esse sistema foi chamado de Neo-Geo, e fez sucesso entre casas de fliperamas menores, já que o uso de cartuchos permitia ter uma variedade de games sem precisar instalar mais máquinas. E o melhor: com preços muito mais em conta.

Além do MVS (Multi Video System), destinado para o uso comercial, também foi lançado o Neo-Geo AES (Advanced Entertainment System), para ser jogado em casa. Mas devido a seu alto preço para o usuário comum, no começo, as máquinas eram apenas alugadas ou vendidas por correspondência (o videogame em si custava 59.780 ienes, enquanto um Mega Drive saía por 21 mil ienes).

Não existe registro de quando o Neo-Geo foi disponibilizado pela primeira vez, mas os games de estreia da plataforma saíram em 26 de abril de 1990: "NAM-1975", "Mah-Jong Kyôretsuden", "Baseball Stars Professional" e "Magician Lord". Em 1º de julho de 1991, o Neo-Geo AES passou a ser vendido nas lojas, mas seu alto preço não permitiu ser um sucesso.

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O Neo-Geo foi ao mesmo tempo uma plataforma de fliperama e de console doméstico


O gigante da SNK

O console impunha respeito, tanto pelo tamanho quanto pela qualidade dos jogos, que eram rigorosamente idênticos ao fliperama, por usar a mesma tecnologia. O Neo-Geo compara-se ao Xbox em dimensões, embora seja mais fino (tem cerca da metade da espessura) e seu cartucho tinha o tamanho de um livro de 300 páginas. O joystick também era grande, com configuração similar ao dos fliperamas. Os dados eram gravados num cartão de memória; o Neo-Geo foi um dos primeiros a usar esse sistema.

Embora os processadores do Neo-Geo sejam similares aos do Mega Drive, o console da SNK tirava qualidade de seu sofisticado chip gráfico e da grande quantidade de memória disponível nos cartuchos. Sendo um sistema também para fliperamas, lugar onde o Neo-Geo fez mais sucesso, os primeiros games da plataforma era de ação e tiro, além de títulos de esporte (o console teve vários games de futebol).

Mas o que mudou definitivamente o direcionamento de seus games - e fez da SNK uma produtora de enorme sucesso - foi a onda dos jogos de luta que tomou forma com o seminal "Street Fighter II". Em 25 de novembro de 1991, a SNK lançou seu primeiro game do gênero, "Fatal Fury", que traz a mesma fórmula do jogo famoso da Capcom - assim como a maioria dos games de luta -, mas acrescenta um sistema de dois planos de movimento.

Rei das lutas

OS MODELOS DO NEO-GEO
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Neo-Geo (1990):
O Neo-Geo "caseiro" tinha a mesma tecnologia da versão para fliperama, para reproduzir a mesma experiência. Tudo era grande: console, cartucho e joystick. E o preço também
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Neo-Geo CD (1994)
Foi uma tentativa de tornar o videogame mais econômico, com uma mídia mais barata. O problema é que o leitor era de velocidade simples, e a enorme quantidade de dados fazia com que o carregamento de dados fosse demorado
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Neo-Geo CDZ (1996)
É a versão do Neo-Geo CD com maior memória, resultando em "loadings" mais curtos. Foi lançado apenas no Japão
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Neo-Geo Pocket (1998)
A SNK tentou competir no ramo de portáteis com o Neo-Geo Pocket, mas não teve sucesso
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Neo-Geo Pocket Color (1999):
O portátil Neo-Geo Pocket recebeu uma versão com tela colorida um ano depois
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Hyper Neo-Geo (1998):
Essa placa de fliperama nasceu para dar mais qualidade aos gráficos em 2D do Neo-Geo, mas acabou sendo usada para fazer games em 3D, sem muito páreo para as plataformas de arcade da Namco e Sega
Foi um começo tímido, e demorou quase um ano para a SNK lançar outro game de luta, "Art of Fighting", que impressionava pelos personagens enormes e o efeito de zoom (um pouco antes, a ADK tinha lançado "World Heroes"). Esse também foi o primeiro game da linha "100 Mega Shock", ou seja, com 100 megabits de dados (para efeito de comparação, "Sonic 2", um dos maiores sucessos para Mega Drive, tinha 8 megabits). Depois vieram "Fatal Fury 2", "Samurai Shodown", "Fatal Fury Special" e "Art of Fighting 2", além de mais dois "World Heroes" pela ADK.

O ano de 1994 foi marcado pela série de maior prestígio da SNK, "The King of Fighters '94", que tinha como novidades um sistema de trio de personagens e um elenco vindo de vários jogos da SNK - e não apenas de seus jogos de luta, casos de "Ikari Warriors", de onde saíram Ralf e Clark, e "Psycho Soldier", estrelado por Athena Asamiya. Claro, "King of Fighters" também gerou seus próprios ídolos: a rivalidade de Kyô Kusanagi e Iori Yagami continua até pelo menos "The King of Fighters XIII", previsto para este ano (mas esse não é para Neo-Geo, obviamente).

Para se ter ideia de quanto os jogos de luta foram predominantes no Neo-Geo, dos 150 games lançados, 50 podem ser considerados do gênero, ou seja, a cada três games para o console, um era de combate mano-a-mano. A SNK se deu bem enquanto a moda esteva em alta, e foi um rival à altura da Capcom, mas, na metade final da década de 90, o gênero foi marcado pela lenta decadência, e na mesma direção seguia a fabricante do Neo-Geo.

Fim de uma era

O Neo-Geo também enfrentava uma mudança de paradigma no que se referia a gráficos. Com a entrada no mercado de videogames como o PSOne, Saturn e Nintendo 64, os games passaram a exibir cenários em 3D, tecnologia que o videogame da SNK não dispunha.

Ainda que tivesse lançado sucessos como "Metal Slug" e as várias iterações de "The King of Fighters", a situação financeira da SNK ficava cada vez mais difícil, e piorou com aventuras desastradas, como o Neo-Geo CD, que é mais conhecido pelos seus extensos "loadings", o portátil Neo-Geo Pocket (e depois o Color) e a placa Hyper Neo Geo 64, com gráficos 3D.

A história da SNK acaba em 2001, mas logo renasce como Playmore (atual SNK Playmore), e dá continuidade aos projetos do Neo-Geo. Oficialmente, o último jogo da plataforma é "Samurai Shodown V Special", de julho de 2004, mas um grupo alemão independente chamado NG:DEV.TEAM produziu o game de tiro espacial "Last Hope" em meados de 2006. Atualmente, o mesmo grupo trabalha em "Fast Striker", previso para sair em 2010.

A assistência técnica ao Neo-Geo foi encerrada em 2007, mas, neste ano, por conta das comemorações de 20 anos do console, o serviço foi reaberto, sabe lá até quando. Quanto à SNK Playmore, a empresa continua na luta: atualmente, trabalha em "The King of Fighters XIII", previsto para sair inicialmente apenas para fliperamas (que não é o Neo-Geo, mas a Taito Type X2).

CURIOSIDADES SOBRE A MÁQUINA DA SNK
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Logotipo oficial da linha Neo-Geo
O Neo-Geo foi lançado nos Estados Unidos pelo preço inicial de US$ 649
Os games para Neo-Geo custavam pelo menos US$ 200
O Neo-Geo tem os mesmos CPUs do Mega Drive, mas chips gráficos e sonoros muito mais poderosos
Embora o tamanho máximo suportado fosse de 330 megabits, games mais recentes superavam essa marca. "The King of Fighters 2003" tem 716 megabits