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Direto da GDC: "Pitfall!" levou 1.000 horas de programação no Atari 2600

David Crane trabalha na indústria de games há anos e criou "Pitfall", icônico game do Atari 2600 -
David Crane trabalha na indústria de games há anos e criou "Pitfall", icônico game do Atari 2600

THÉO AZEVEDO<br>De San Francisco

05/03/2011 09h09

Em 1979, cansado de ver a Atari levar todo o crédito pelos games que publicava, o jovem programador David Crane deixou a empresa e, junto com alguns colegas, fundou a Activision. A ideia era replicar o modelo de venda de livros, em que o autor recebe merecido destaque. Dentro destes moldes inovadores nasceu "Pitfall!", em 1982, e Crane esteve na Game Developers Conference 2011 para relembrar o processo de criação de um dos títulos mais memoráveis do Atari 2600.

Para quem teve o privilégio de gastar horas e horas em "Pitfall!", o sentimento era de ter em mãos uma aventura completa, com direito a florestas, tesouros e ameaças como crocodilos, escorpiões e abismos que se abriam, de repente, no solo. Não por acaso, a inspiração direta para o game foi o filme "Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida", que estreara um ano antes do lançamento de "Pitfall!".

Entretanto, engana-se quem pensa que o jogo foi fruto de intensas horas de brainstorming: segundo Crane, apenas 10% do trabalho correspondeu ao processo criativo; os demais 90% - 1.000 horas de programação - foram gastos na tarefa de viabilizar "Pitfall!" tecnicamente: "Era preciso fazer o game caber em 4 Kbytes (4096 bytes) de memória", lembra Crane.

Mas há que se destacar aqui a ousadia de Crane, obcecado pela ideia de colocar um "homenzinho" animado correndo em plena floresta. "Até então, os jogos do Atari 2600 eram todos protagonizados por naves, tanques e tanques, que eram muito mais simples de animar e programar". Em suma, para desenvolver jogos naquela época era preciso, primeiro, "consultar" o hardware, para depois partir para a concepção em si.

Some-se a isso o fato de que Crane resolveu que o jogador teria apenas uma vida e 20 minutos por "sessão" de jogo. "Meus colegas de trabalho simplesmente odiaram a ideia". Mas, novamente, o programador estava certo: após o lançamento a Activision chegou a receber 14 mil cartas por semana, a maioria delas com mapas de "Pitfall!" desenhados pelos próprios jogadores. Havia 78 pessoas na empresa dedicadas apenas à tarefa de abrir e ler cada carta.
 

Relembre "Pitfall" e outros jogos inesquecíveis do Atari


Com 4 milhões de cópias vendidas, "Pitfall!" virou coqueluche, inspirando uma série de produtos como jogos de tabuleiro, livros de colorir e até um desenho animado. "Fomos acusados de querermos ser 'rockstars', por fazer questão de nossos nomes aparecerem nas caixas dos jogos. Mas, afinal, o que achavam que estávamos esperando: gostar de estarmos admirados por meninas de 12 anos? Era só uma questão de reconhecimento".

O trabalho de David Crane, atualmente funcionário da MTV Games, pode ser visto por aí até hoje: "Trabalhei em cada console diferente deste mercado, todos os dias, há 34 anos". Porém, ele sabe que será sempre lembrado é pelo jogo que, mais de 25 anos atrás, fez muito gente se sentir o próprio Indiana Jones.