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"World of Warcraft" é como um parque de diversões, diz compositor musical da série

CLAUDIO PRANDONI

Enviado especial ao Rio de Janeiro

10/10/2011 17h50

Ao longo dos últimos anos, a produtora Blizzard ficou conhecida por seu rigor técnico. Ciclos de desenvolvimento de novos games levam anos, dando à empresa a oportunidade de polir os mais diversos aspectos e colocando no mercado produtos de alta qualidade.

Um dos aspectos mais marcantes das séries "Diablo", "Warcraft" e "StarCraft" é a trilha sonora, aspecto encabeçado pelo compositor Russell Brower. Com trabalhos também na TV - onde, entre outras coisas, fez músicas para desenhos animados do Batman e até "Animaniacs" - Brower está de passagem pelo Brasil para apresentar suas composições no espetáculo Video Games Live.

Aproveitamos a oportunidade para bater um papo rápido com ele e o resultado você confere abaixo: 

UOL Jogos: Como você virou compositor de músicas para jogos?

Russell Brower: Para ser exato, eu comecei a fazer música por diversão. Procurei qualquer oportunidade possível para trabalhar com isso e minha primeira chance foi fazendo músicas para parques de diversão. Ironicamente, a primeira coisa que fiz foi uma atração interativa, então tive de fazer música que mudasse de acordo com as ações das pessoas.

E como isso estava em um parque de diversões, era uma instalação de tecnologia ponta, com um computador do tamanho de uma geladeira e som de qualidade incrível.

Então, sempre gosto de dizer que games na verdade foram algumas das primeiras coisas que fiz. Depois, tive uma passagem rápida pela televisão, fazendo trilhas para seriados, e aí voltei aos parques de diversão por alguns anos.

Em certo ponto percebi que precisava me reinventar e lembrei o quanto gostava de fazer músicas para jogos, mesclar arte e tecnologia, e games são o ápice desse casamento.

UOL: De que maneira você chegou à Blizzard?

Brower: É uma história do tipo 'estar no lugar certo na hora certa'. Eu estava trabalhando em jogos de guerra e coisas do tipo e eu achava que meus trabalhos anteriores sugeriam que meu gênero favorito fosse, na verdade, fantasia e ficção científica - e o catálogo da Blizzard é perfeito para isso!

Quando a oportunidade veio, agarrei com tudo. De fato, eu já tinha jogado alguns games da Blizzard, "Diablo 1" foi o primeiro da fila, lembro que a parte sonora me impressionou muito.

UOL: Como é o desafio de criar músicas para jogos abertos, como "World of Warcraft"?

Brower: Um ótimo exemplo disso é "World of Warcraft". Com meu histórico em parques de diversões, percebi que "WoW" tem uma dinâmica muito parecida: as pessoas exploram livremente o ambiente que criamos, escolher as quests que vão fazer, e aí, dependendo da situação, o que se ouve é diferente.

Então, os mesmos desafios, oportunidades e princípios de design que tenho em "World of Warcraft" já são meio familiares para mim. Acho muito empolgante ter uma nova área, por exemplo, do próximo patch que vamos lançar, e criar sua música. Tudo que aparece lá é inspirador.

UOL: E o que você planeja para futuro?

Brower: Eu amo minha casa na Blizzard. Há tantos projetos e eles são tão diferentes um do outro. Há coisas novas no horizonte, então é o tipo de situação em que acordo todo dia e acabo trabalhando com um gênero diferente: pode ser ficção científica em um dia, cavaleiros e dragões em outro. É um catálogo muito estimulante.

UOL: Há algum tempo você apresenta músicas da Blizzard em shows da orquestra Video Games Live. Como é ter esse contato direto com o público?

Brower: É um privilégio. Estou sempre lá no meu escritório na Blizzard, escrevendo o tipo de música que eu gostaria de ouvir, o que segue a filosofia da empresa, de fazer games que gostaríamos de jogar.

CAMPEÃO

Divulgação
Boa parte das músicas da Blizzard apresentam belas versões orquestradas, com diversos instrumentos.

Perguntamos a Brower, então, qual o seu preferido: "Há algo que gosto em todos os instrumentos, mas tenho um carinho especial por trompas. Nunca tenho menos do que seis em uma música!"

Mas de vez em quando é bom ter uma Blizzcon ou um Video Games Live e sair para conhecer os jogadores e ouvir suas opiniões. Às vezes é surpreendente o que eles gostam ou não curtem tanto. É emocionante ouvir ao vivo a opinião dos jogadores.

Uma de minhas histórias favoritas foi quando eu criei a música para a área de início dos Blood Elves, para a expansão "Burning Crusade". Aí um dia, após uma apresentação ao vivo dessa música, "Lament of the Highborne", em um show do Video Games Live, tivemos uma sessão de autógrafos. Então veio a mãe de uma menina e me disse que a filha tinha decidido aprender a tocar violoncelo por causa dessa música.

Foi aí que eu percebi que, para esta nova geração, os games são o mesmo que os filmes foram para a minha geração. Não há sensação melhor do que ouvir alguém falando que decidiu estudar música por causa de um trabalho seu.

UOL: Que filmes servem de inspiração para o seu trabalho?

Brower: Muitos dos grandes clássicos. Você pode ouvir homenagens a eles em vários momentos. Se jogar "Wrath of the Lich King", quando chegar na grande batalha final, vai perceber referências aos filmes de aventura da era Errol Flynn de Hollywood.

Claro, também adoramos os temas de filmes como "Guerra nas Estrelas" e buscamos muita inspiração na maneira como um tema pode ser agregado a um personagem ou situação.


UOL: Do que você mais se orgulha em sua carreira?

Brower: Há ocasiões recentemente em que vejo pessoas profundamente emocionadas pelo meu trabalho. Há uma música chamada "Invincible", que meio que fecha a história de Arthas [da série "Warcraft"] se tornando o Lich King e, eventualmente, sua derrota final.

É trágica e linda ao mesmo tempo. Nobre, porém triste. É emocionalmente complexa e adoro ver as pessoas se emocionando com ela.

Mas, no final das contas, o que mais me orgulho foi quando a Blizzard começou a fazer contribuições para instituições de caridade e aí percebi que somos muito mais do que apenas uma empresa de games, nós na verdade estamos deixando o mundo melhor do que quando o encontramos. Isso é muito legal de perceber.

VEJA O TRAILER DE "WOW: CATACLYSM" EM PORTUGUÊS

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