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Possibilidade de PlayStation 4 e Xbox 720 bloquearem jogos usados divide indústria

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

10/05/2012 13h25

Para quem joga videogame emprestar jogos dos (e aos) amigos, ou então fazer algum rolo com games de segunda mão, é algo tão natural quanto necessário – o bolso agradece. O problema é que tais práticas podem estar com os dias contados: se os rumores que circulam pela internet há algum tempo se confirmarem, os sucessores do PlayStation 3 e Xbox 360 trarão mecanismos para bloquear games usados.

Tanto Sony quanto Microsoft estariam preparando uma tecnologia para atrelar o disco à conta do jogador na PlayStation Network e na Xbox Live, respectivamente. Com isso, passaria a ser impossível o jogo rodar em outra máquina, a não ser mediante o eventual pagamento de uma taxa. Você tem o “FIFA” e combinou de ir jogar na casa de um amigo? Então seria preciso levar o seu videogame também.

A ideia, de forma geral, está sendo vista com bons olhos por desenvolvedores e publishers. Na verdade, parece ser uma questão de sobrevivência, já que de acordo com alguns deles o comércio de jogos usados pode arruinar a indústria. "Em geral as pessoas não entendem o quanto custa criar essas experiências épicas que colocamos nas prateleiras por apenas US$ 60”, disse Jameson Durall, game designer da Volition através do blog AltDevBlog.

A questão é que, para desenvolvedores e publishers cada venda de jogo usado é uma venda perdida. Há até quem culpe o comércio e o escambo de segunda mão pela crescente diminuição de títulos exclusivamente single-player: “Conheço publishers que interromperam a produção de jogos porque sabem que a maioria das lojas não vai repor estoque após o lançamento inicial, já que confiam na venda dos usados", garantiu David Braben, fundador da Frontier Developments, ao Gamasutra.

Alguma coisa já está sendo feita: quem nunca se deparou com um código para acessar o multiplayer ou algum conteúdo exclusivo? Vide os casos de “FIFA 12” e de “Mortal Kombat”, só para mencionar dois.

Outro efeito colateral dos usados foi forçar a publishers a apostarem todas as suas fichas em vender os jogos logo no lançamento, já que três meses depois as cópias novas encalham ou somem das prateleiras. "Se os jogos usados continuarem nessa rota, vão canibalizar a indústria de games", adverte Denis Dyack, líder da Silicon Knights.

A Gamestop e os usados

A Gamestop, maior rede de lojas de jogos dos Estados Unidos, encontrou um nicho e tanto nos usados, que hoje representam 42% dos lucros da empresa. Tamanho poder de barganha permitiu a Paul Raines, CEO da Gamestop, vir a público e cravar que não acredita num eventual bloqueio de jogos usados por parte de Sony e Microsoft: “É improvável que aconteça, pois este modelo ainda não tem eficácia comprovada”, disse ao SlashGear.

Em suma, a base de 42% dos negócios da Gamestop está focada na prática de comprar o game do jogador e vendê-lo a outro por pelo menos o dobro do valor. E de novo, e outra vez. Tal cultura está de tal forma introjetada na rotina dos jogadores norte-americanos que bloquear o acesso aos usados seria como acrescentar US$ 20 ao preço de um game novo, já que o consumidor adquire um título no lançamento já pensando vendê-lo dali alguns meses (semanas?) para abater o preço da próxima aquisição.

  • Reprodução

    O negócio de jogos usados representa 42% dos lucros da Gamestop, maior varejo de jogos do mundo

Para Michael Pachter, analista do Wedbush Securities, se Sony e Microsoft insistirem na ideia do bloqueio de forma unilateral, a Gamestop poderia se recusar a colocar o PS4 e o Xbox 720 em suas prateleiras, o que seria fatal para as vendas dos consoles. “Se alguém fizer isso e outros não, este que o fez verá uma perda de fatia de mercado”, disse o analista ao GamesIndustry.

E não é apenas Pachter que não acredita na adoção de uma medida tão extrema por parte das empresas: para David Cole, gerente de pesquisa do DFC Intelligence, Sony ou Microsoft não seriam “tolas” o suficiente para bloquear jogos usados, pois isso desagradaria os “jogadores hardcore”. “Os consumidores se rebelariam”, acredita.

E a solução?

A distribuição digital, que certamente terá presença muito mais forte na próxima geração de videogames, por natureza já inibe a troca ou empréstimo de jogos, pela ausência da mídia física. Some-se a isso a ideia de que os consoles, especula-se poderão exigir conexão permanente à internet e fica latente que, de fato, a discussão em torno dos jogos usados ainda vai render pano pra manga.

Qualquer medida extrema, além de gerar rejeição por parte dos jogadores, certamente vai enfrentar o (contra-)ataque de crackers, que se esforçarão para derrubar o bloqueio. O caminho parece apontar para um debate saudável entre indústria (desenvolvedores, varejo, publishers) e jogadores, talvez em torno de um mercado planejado de escambo e venda de usados.

Até lá, muito do assunto vai ficar focado em opiniões extremas, como a de Chris Avellone, chefe criativo da Obsidian Entertainment, dita ao Industry Gamers: "Espero que a distribuição digital dê uma facada no coração do mercado de games usados".

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