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Mercado em ascensão: conheça brasileiros que criam jogos para mobile

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

10/12/2013 17h02

"O Brasil vem mostrando que não tem só jogadores, mas também grandes desenvolvedores", diz Breno Pinheiro, co-fundador da Fan Studios, produtora independente de games mobile sediada na cidade de Fortaleza.

Ao lado de seis outros funcionários do estúdio, Breno é uma das caras da cena brasileira de desenvolvimento de jogos para celulares e tablets, que "está crescendo" - nas palavras de praticamente qualquer um do ramo que for questionado.

"É um mercado em ascensão, mas que ainda engatinha", explica. "As pessoas estão começando a notar o potencial desse mercado e se voltar para ele, e assim mais oportunidades surgirão".

  • O estúdio de Breno Pinheiro é mais conhecido por "iHitch", lançado em 2012

O MAIOR SUCESSO

  • Breno Pinheiro revela que o maior sucesso da Fan Studios foi "iHitch", declaração de amor em formato de game que o próprio tinha criado para tentar reconquistar a namorada. "Foi o jogo que nos deu a maior parte da visibilidade que temos hoje, e um que teve impacto pessoal na vida de vários", diz.

Dificuldades

Parte de um estúdio relativamente pequeno, Breno Pinheiro atualmente coordena projetos encomendados por marcas como RiHappy e PBKids, mas também tem tempo para uma produção mais autoral. Mas mesmo com seu otimismo, ele ainda cita algumas dificuldades que, em sua opinião, permeiam a indústria.

"Hoje um dos grandes obstáculos é a quantidade limitada de recursos. Não temos tempo para errar nem testar. Precisamos ser breves", desabafa. "E outra dificuldade é a falta de mão-de-obra qualificada - algo que a maioria dos estúdios brasileiros acabam precisando enfrentar".

Alexandre Souza, co-fundador da Doubleleft, ecoa os sentimentos de Breno mesmo fazendo parte de uma equipe bem maior; o estúdio emprega 50 pessoas, divididos entre sedes em São Paulo e Porto Alegre. "Acredito que a maior dificuldade na produção de jogos no Brasil é conseguir um orçamento e montar um time com experiência e habilidade compatível com a competição internacional", afirma.

  • O inglês é a língua primária no material promocional de "Armies & Ants"

Mudanças

Ao conversar com desenvolvedores que estão no mercado, a impressão é a de que eles compartilham de um otimismo cauteloso, mas têm consciência de que algumas coisas precisam mudar para que a cena avance. "O Brasil hoje já está comprando ideias de jogos educativos. Já acordamos para isso. Mas no segmento mais voltado ao entretenimento, infelizmente, ainda não somos um país capaz de manter um projeto 'vivo'", opina Breno.

'ADVERGAMES'

  • "Na Doubleleft, estamos muito mais próximos do mercado de jogos publicitários do que da produção de jogos independentes", explica Alexandre Souza. O maior projeto atual do estúdio, que está previsto para janeiro de 2014, será um 'advergame' (uma mistura das palavras 'advertising', ou publicidade, e 'game') de uma marca de alimentos.

O co-fundador da Oktagon Games, Ronaldo Cruz, que emprega 20 pessoas e lançou recentemente "Armies & Ants" pela AppStore, também acredita no desenvolvimento do mercado local, mas é obrigado a recorrer ao resto do mundo para manter-se. "Eu vejo cada vez mais empresas criando jogos de qualidade", explica. "Estamos há 10 anos na indústria, e se compararmos o que alguns estúdios estão fazendo hoje com o que era feito lá atrás, a reação positiva dos jogadores é nítida".

Além de um aumento na qualidade das produções, Ronaldo também enxerga um crescimento do público: "O consumo de games no Brasil também se desenvolve, mas por questão de sobrevivência temos que buscar o público internacional para ter uma chance maior de retorno. É muito arriscado focar apenas no Brasil".

ASSISTA AO TRAILER DE "ARMIES & ANTS", PARA iOS

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Um modelo próprio

Lá fora, "Armies & Ants" está servindo como exemplo de game brasileiro de sucesso. Antes mesmo de sua estreia global, o jogo - que segue um modelo 'freemium', ou seja, grátis mas com pagamentos adicionais opcionais - já tinha alcançado a marca de 130 mil downloads. "Estamos vendo no jogo uma boa reação de usuários pagantes [no exterior] que nunca tínhamos visto antes", revela Ronaldo.

OUTROS TÍTULOS

  • A Oktagon Games tem um bom histórico de sucessos, como demonstra Ronaldo Cruz: "Tivemos dois jogos com boa performance nos EUA, lançados em conjunto com a Playphone. Após isso lançamos o"Viral Collapse"com a DeNA, no ano passado, tivemos boa recepção crítica e mais de 200 mil downloads".

"Mas é claro que não podemos deixar de atender o mercado interno nem de entender os jogadores daqui", explica. "Temos ainda a expectativa de achar um modelo de negócio que funcione bem particularmente para o Brasil, pois sabemos que ele é um grande mercado e tem atraído a atenção de muitos desenvolvedores de fora".

Por ora, "em crescimento" é praticamente o estado oficial do mercado de desenvolvimento de jogos mobile brasileiro, conforme estipulado por seus próprios representantes. Casos como o da Behold Studios, empresa brasileira que obteve sucesso internacional com "Knights of Pen & Paper", são citados como exemplos positivos, mas ainda não passam de exceções. Ao menos o otimismo de que isso mudará existe.