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Feito em Teresina, jogo levará batalhas entre cangaceiros e volantes ao PC

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

24/01/2014 08h00

Em 2011, Erick Passos voltou dos EUA, onde foi cursar Doutorado em Computação no MIT (Massachusetts Institute of Technology), com uma ideia na cabeça: fundar, com alguns amigos, um estúdio de produção de jogos. Em plena Teresina, no Piauí, nasceu a Sertão Games, que pelo nome já mostrava no que levaria a sério a ideia de criar jogos com uma identidade brasileira.

Três anos depois, cerca de 25 pessoas estão envolvidas na produção do mais ambicioso projeto da produtora, o "Cangaço", um híbrido de estratégia e RPG que retrata os conflitos entre os cangaceiros e os temidos volantes. Atualmente em fase de testes, o jogo será lançado no 1º semestre em versões para PC e Mac - além da plataforma Linux.

Embora a ideia de usar a temática do cangaço soe simpática, o mercado conta uma historia diferente: fracassos de outrora como "Erinia" e "Capoeira Legends", o primeiro baseados no folclore, deixaram a impressão de que utilizar a cultura brasileira não conta muito na hora do vamos ver. Erick discorda: "Por mais que exista uma resistência a jogos nacionais no mercado, acreditamos que isso se dá mais pela baixa qualidade das produções do que pela temática em si".

A Sertão Games sabe que escolheu o caminho mais difícil, mas confia no potencial de “Cangaço”, que vai ter três campanhas single-player, modo multiplayer, arte 3D com texturas pintadas à mão e, claro, trilha sonora típica. Com uma produção tão elaborada, “Cangaço” não será um jogo “freemium”, mas ainda não tem preço definido: “Será um valor adequado e bem dimensionado para o mercado”, conta. Quem comprar terá acesso gratuito a eventuais conteúdos adicionais lançados pela empresa.

De Teresina à Portland

A maior parte da equipe de produção está concentrada em Teresina, onde a criação de jogos ainda engatinha, sem muito histórico. Não que falte mão-de-obra: “Existem ótimos desenvolvedores e artistas [na cidade], que precisavam apenas de um empurrão”, diz Erick. O executivo conta ainda que o surgimento da Sertão serviu de estímulo para o mercado local, que hoje já conta outros projetos e cursos na área de games. O clima é tão bom que, em 2015, a cidade será sede do SBGames, simpósio destinado a produtores e pesquisadores de jogos no Brasil.

Existem ótimos desenvolvedores e artistas [em Teresina], que precisavam apenas de um empurrão

Erick Passos / Sertão Games

Mesmo assim parte da equipe se espalha por outros locais, como Rio de Janeiro, Petrópolis e Portland (EUA). “Apesar de termos o núcleo principal do desenvolvimento em Teresina, buscamos o apoio de alguns profissionais em determinadas áreas para completar as competências necessárias para um projeto desse tamanho”, explica. Dentre os “forasteiros” estão dubladores e um consultor especializado em cangaço.

Para viabilizar tamanha estrutura, que não é nada modesta para os padrões nacionais, a Sertão Games possui um sócio investidor e, além disso, conseguiu apoio via financiamento de Sebrae e Finep, como um projeto do PAPPE (Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas). “Esse financiamento garante a produção completa, lançamento e pós-lançamento do jogo”.

Trocando em miúdos, “Cangaço” custou R$ 200 mil, cifra capaz de garantir a produção do jogo e uma parte em investimento de marketing. O retorno financeiro provavelmente não virá só do mercado local: “É possível o jogo gerar bons resultados apenas no Brasil, mas naturalmente vamos buscar o mercado externo também, até porque é uma das nossas maiores missões: exportar um produto com base na nossa referência cultural”.

DESENVOLVEDORES COMENTAM A CRIAÇÃO DE "CANGAÇO"

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Claro que a Sertão Games espera que “Cangaço” seja bem-sucedido e ande com as próprias pernas, viabilizando a continuidade da franquia após o lançamento. Dentre os planos estão um jogo de cartas, uma versão de colecionador, uma nova campanha para download, camisetas, bonés, bonecos etc.

“Cangaço” será vendido por download em sites como Nuuvem e GoG. Além disso, a Sertão vai tentar emplacar o jogo no Steam, através do Greenlight, mas apenas quando a versão internacional estiver finalizada.

Há estudos sobre levar o jogo aos tablets, mas o modelo de negócios dominante na plataforma, o famoso “free-to-play”, não se encaixa na proposta de “Cangaço”. Seria preciso uma adaptação: “Caso a opção se mostre interessante e possamos explorar um modelo de negócio dentro do que planejamos”.

POR QUE JOGAR "CANGAÇO"?

Erick Passos, da Sertão Games, destaca os principais diferenciais do game:
1. A mecânica de controle do bando exige micro gerenciamento permanente: "Por mais que tenhamos usado uma interface de controle similar a outros jogos do gênero, o 'Cangaço' possui um ritmo único, que tem se destacado nos testes de gameplay";
2. O jogador controla um grupo de três personagens: "Você precisa evoluir e gerenciar/balancear os equipamentos de cada personagem para conseguir superar as batalhas";
3. Elementos de RPG em "doses homeopáticas": "O 'leveling' e aprendizado de habilidades se apresentam como algo complementar à estratégia para chegar até o final das campanhas";
4. Três campanhas independentes: "As campanhas Cangaceiro, Volante e Cangaceira são jogadas de forma independente e, inclusive, em paralelo, mas possuem um entrelaçamento que faz o jogador relacionar os eventos entre as diferentes histórias";
5. Trilha sonora e arte visual: "As músicas são legais até mesmo para simplesmente escutá-las, enquanto a arte conta com texturas pintadas à mão com lápis de cor”.

O pessoal da Sertão Games, que produziu"Cangaço"