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Centros multimídia, videogames ganham diferentes usos nas mãos de famílias

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

19/02/2014 12h36

Foi-se o tempo em que videogames eram vistos como meros brinquedos, relegados ao quarto das crianças ou deixados para escanteio na sala. Hoje, completamente multimídia e habilitados a fazer de maneiras simples coisas que só computadores faziam, eles são os verdadeiros astros da sala de estar.

Mais que satisfazer os assíduos jogadores das antigas, hoje os consoles também prestam seus serviços àqueles que gostam de ver filmes em DVD ou Blu-ray; aos que fazem streaming de vídeo por Netflix ou serviços parecidos; a quem curte navegar pela internet na TV; e a vários outros públicos. Esse fenômeno nasceu da mesma mentalidade convergente que criou os smartphones e tablets - dispositivos capazes de tudo.

E assim, aparelhos como o PlayStation 3 ou o Wii garantiram posto de destaque, sempre conectados à "TV grande", por vezes sendo mais usado até mesmo que o decodificador de TV a cabo.

  • Reinaldo Canato/UOL

    Apesar de ter crescido cercado por games, Paulo hoje usa seu PlayStation 3 para rodar filmes e ver séries, e só vez ou outra joga algo. "Quando comprei o console, joguei muito 'Battlefield 3' e 'Red Dead Redemption'. Mas dei uma parada e continuei usando o videogame mais para ver os Blu-rays que tenho e acessar o Netflix. Isso mudou um pouco quando comprei 'GTA V', mas depois a rotina normal voltou", explica.

O jornalista Paulo Gadioli (23) é um bom exemplo de como a percepção dos videogames mudou ao longo dos últimos anos. 'Gamer' desde a infância, ele acabou perdendo o hábito de jogar diariamente - mas mesmo assim não abre mão de seu PlayStation 3, que virou o aparelho ideal para rodar seus filmes favoritos.

"Virou uma tradição me reunir com meus amigos para jogar títulos esportivos como 'FIFA' ou 'NHL'. Mas, fora isso, ele serve muito mais para filmes", revela. "Uso ele nesse sentido muito por conta da praticidade. Meu Mac não tem uma saída HDMI para conectar na TV, e o adaptador é caro - isso sem falar que costumo deixar ele parado no escritório."

"Meu primeiro videogame foi o PlayStation, que ganhei quando morava na Alemanha. Depois, no Brasil, tive PlayStation 2, GameCube e Xbox 360", lembra Paulo. Esse histórico, aliado ao caráter multimídia do console, o fez optar por um PlayStation 3 na hora de comprar um tocador de Blu-rays: "Ao invés de comprar um player dedicado, resolvi pegar um PS3, que obviamente tem a vantagem de rodar o jogo ocasional".

  • Reinaldo Canato/UOL

    A estudante Ana Paula, à esquerda, convenceu os pais a comprarem uma TV grande para a sala justamente para ter algo para exibir as imagens de seus consoles HD. Desde então, ela e a irmã Camila, assim como o Paulo, acabam usando o videogame mais por causa de suas funções alternativas, do que por jogos.

No apartamento das gêmeas Ana Paula e Camila Lopes (21), o videogame só foi para a sala de estar depois que conquistou seu formato atual. "Quando tinha um Nintendo 64, ele ficava no quarto dos meus pais. Já na época do PlayStation 2 e do GameCube, eles ficavam no escritório", explica Ana.

Para jogar, a estudante de arquitetura costuma preferir portáteis. "A minha rotina com games é assim: fico alguns meses sem jogar, e de repente surge a vontade de experimentar um ou outro título. E depois o ciclo começa de novo", diz. "Mas eu gosto do meu 3DS porque consigo levá-lo comigo no dia-a-dia junto dos seus joguinhos".

Enquanto isso, o PlayStation 3 e o Xbox 360 ficam em seus postos na sala, prontos para entreter na eventualidade de uma visita. "É normal usarmos o Netflix na sala ao menos uma vez por semana. No PlayStation 3, o sistema é bem mais rápido do que o aplicativo de streaming que temos na TV, por exemplo", revela Ana.

Capacitados por estarem constantemente conectados à internet, os consoles servem até para amantes dos filmes e seriados que não os têm em mídia física. Por aplicativos como Crunchyroll ou Netflix, bastante utilizado pela própria Ana, é possível escolher a programação de uma noite em casa livremente com poucos toques nos botões.

  • Rodrigo Capote/UOL

    Sob supervisão da mãe Ana Luiza, as garotas Clara e Bruna brincam com os videogames do pai. Jogos que utilizam câmeras e controles simples por movimento, como "Playroom" e "Just Dance", além da programação infantil do Netflix, são os favoritos das meninas.

Paulo e Ana são exemplos de pessoas que cresceram em um tempo em que videogames eram bem mais limitados. Antigamente, muitos dos aparelhos sequer ligavam se não tivessem um cartucho conectado. Já hoje, suas definições os aproximam de computadores. E a nova geração, inserida em um mundo em que esse é o novo padrão, rapidamente habitua-se a usar os aparelhos das mais diversas formas.

Bruna (3) e Clara (1), filhas de Breno e Ana Luiza Masi, já aproveitam os videogames. O Netflix, com sua programação infantil, é sucesso entre as garotas - e o aplicativo é sempre aberto em um dos videogames. "A Clara ainda está na fase de assistir 'Galinha Pintadinha'. Já a Bruna é apaixonada por 'Doutora Brinquedos' e pela 'Dora'", afirma a mãe, Ana Luiza.

Em termos de jogos, "Playroom" prende a atenção das crianças. Através do uso de uma câmera, ele transforma a sala de estar em um palco para minigames. "No PlayStation 4, elas adoram jogar o 'Playroom'. E a mais velha já gosta de dar comandos de voz para o Xbox One pelo Kinect", explica Breno, que têm os hardwares mais modernos em seu apartamento. Estes mostram-se acessíveis até para os mais jovens - afinal, um aparelho que quer governar a sala de estar deve entreter todos os públicos.

Dançando seguindo as rotinas de "Just Dance" e assistindo aos seus desenhos favoritos, Bruna não estranha nem um pouco usar o videogame para mais do que jogos. Afinal, essa já era a realidade dos consoles no momento em que ela nasceu.