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Saiba por onde andam ciberatletas que fizeram sucesso no Brasil

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

22/04/2014 13h00

Alavancada por “League of Legends” e pelo Twitch.tv, o e-sport vive uma 2ª onda, permeada por torneios e ligas com premiações milionárias – inclusive no Brasil – e jovens “pro players” que acreditam na modalidade como uma perspectiva de carreira.

Porém, o e-sport tem suas origens na década passada, quando “Counter-Strike” era o principal astro de uma série de ligas profissionais, como a WCG (World Cyber Games), a CPL (Cyberathlete Professional League) e a ESWC (Electronic Sports World Cup) - destas, apenas a última sobreviveu. Na onda do shooter, houve espaço para outros jogos em tais competições, como “Guitar Hero”, “Warhammer” e “Need for Speed”.

Na época muitos brasileiros fizeram bonito mundo afora e experimentaram uma atmosfera de glamour, entrevistas à imprensa, premiações em dinheiro e viagens internacionais. UOL Jogos procurou alguns dos ciberatletas que protagonizaram essa fase do e-sport nacional para relembrar os bons tempos e saber o que estão fazendo da vida:

Bruno Fukuda Lima, “bit1”

Ex-integrante do MiBR, time de “Counter-Strike”
Limeira (SP), São Paulo, 23 anos, Manager do time de e-sport do KaBuM!
"Comecei a frequentar lan houses em 2001 e disputava campeonatos amadores de "Counter-Strike". Venci meu primeiro campeonato nacional dois anos depois, o que me deu o direito de disputar um torneio nos Estados Unidos. Já em 2007, assinei meu primeiro contrato com um time profissional, o Made In Brazil (MiBR).

Foram tantas viagens pelo mundo, vitórias e um aprendizado de vida muito grande, que nunca teria acontecido se não fosse pelo e-sport. A vinda do "League of Legends" ao Brasil teve um impacto muito grande e fez com que o mercado crescesse muito, não apenas em números de jogadores profissionais, mas também em patrocinadores, público etc.

Acredito que, com essa evolução, tudo está mais estável e, independente do jogo que estiver em alta, o cenário só tende a crescer cada vez mais. Encerrei minha carreira em fevereiro e hoje trabalho como manager do time de e-sport do KaBuM! Em conjunto com o departamento de marketing, crio projetos e gerencio times, que atuam em duas modalidades, "League of Legends" e "CrossFire", e em breve atuaremos em mais um jogo."

Gregório Marinheiro, “DeathGun”

Medalha de prata no WCG 2006 jogando "Warhammer 40,000: Winter Assault"
João Pessoa (PB), 30 anos, proprietário de um provedor de internet
"Competi por três anos, dos 25 aos 28 anos. Parei de jogar RTS porque estava com algum problema nos pulsos que me atrapalhava muito para jogar. Anos mais tarde descobri que era Síndrome do Túnel do Carpo.

Além disso, minha empresa tomava muito do meu tempo. Nunca foi meu plano parar de competir: não tentei voltar aos RTS com o lançamento do "StarCraft 2" por causa da STC e pelo fato de a cena competitiva brasileira estar em pleno declínio. Hoje jogo "Street Fighter", mas é difícil praticar online, ainda mais estando longe dos grandes centros no Brasil.

Tento ir a um ou dois torneios grandes no Brasil por ano, mais pra manter o contato com o pessoal do que pra ganhar qualquer coisa. As melhores lembranças que guardo são as vitórias e o reconhecimento da comunidade e do público. Acho que isso é o que todo competidor procura, a razão dele de ser."

Giovanni Magri, “Gear”

Medalha de ouro no WCG 2005 jogando "Need For Speed 2 Underground"
Guaxupé (MG), 23 anos, proprietário de uma oficina de informática e eletrônicos
Comecei no e-sport em 2005, disputando o World Cyber Games, e as melhores lembranças que guardo são as amizades feitas nessa época e que duram até hoje. Parei quatro anos depois, porque para mim era uma atividade secundária.

Tenho uma oficina de informática e desde a época quando eu jogava já trabalhava com isso, que é onde vejo meu futuro. Infelizmente, no Brasil temos que escolher o que é mais garantido financeiramente. Hoje que sou casado, tenho um filho e fica difícil me dedicar ao jogo de maneira profissional.

Acho que ainda falta apoio e alguns detalhes para o e-sport deslanchar no Brasil, mas atualmente já estamos alguns passos à frente para que a atividade se torne um dia algo realmente profissional e que possa trazer futuro para os ciberatletas.

Fabio Jardim, “caiomenudo13”

Medalha de ouro no WCG 2009 jogando “Guitar Hero”
São Paulo, 19 anos, trabalha na agência de turismo do pai e estuda desenvolvimento de games
"Comecei a jogar em 2008, quando participei do World Cyber Games. Parei quatro anos depois, quando os contratos com os patrocinadores expiraram e não foram renovados. Além disso, o próprio "Guitar Hero" parou de ser fabricado após o "Warriors Of Rock".

Migrar de jogo não era uma opção, já que "Rock Band" não possui o modo Versus. Até hoje sinto falta de jogar profissionalmente, das viagens, de dar entrevistas e das pessoas que conheci. Mas, principalmente, tenho saudades dos campeonatos: lembro que nas etapas brasileiras do WCG, no shopping Eldorado, centenas de pessoas se aglomeravam pra assistir as finais do "Guitar Hero", com o som extremamente alto.

Toda aquela gente junta para ver as disputas foi com certeza o que mais me marcou. Quando fui para a China as filas e multidões eram imensas para ver as partidas de "StarCraft" e os jogadores profissionais eram tratados como estrelas, dando autógrafos, tirando fotos com fãs etc. Acho que com "League of Legends" os profissionais brasileiros estão indo para o mesmo caminho.

Se continuar assim, o e-sport no Brasil vai crescer e durar muito. Hoje trabalho na agência de turismo do meu pai e estou fazendo um curso chamado Portal dos Games, na Melies. Pretendo seguir carreira de desenvolvedor de jogos de videogame."

Michelle Jang, “1004”

Ex-integrante da LadieS, time de “Counter-Strike”
Los Angeles (EUA), 34 anos, trabalha numa empresa de comércio exterior e com tradução
Quando abriu a Playnet no Bom Retiro [bairro da cidade de São Paulo], meu namorado e seus amigos eram viciados em "Counter-Strike" e "StarCraft". Um dia pedi para jogar também, ia aprendendo aos poucos, até que um dia estávamos jogando em um grupinho de amigos e percebi que eu matava muito e meus amigos ficavam pês da vida.

Assim começou meu vício com lan houses e "Counter-Strike", numa época que só homem jogava. Passei a completar os os times masculinos sempre que faltava alguém para os treinos e aprendi mais ainda com eles. Depois comecei a jogar no time feminino da Playnet, quando participei do primeiro torneio para mulheres, em 2001, quando fui votada pelas demais equipes como a revelação do ano.

Fui convidada para integrar as Ladies e éramos invencíveis: participamos duas vezes do ESWC, na França, e tínhamos patrocínio da AMD, Logitech, Red Bul etc. Participamos do programa da Ana Maria Braga e até do Fantástico, na Globo, mas este não foi pro ar. No auge, nos tratavam como celebridades, pediam autógrafo etc. Tive que me mudar para os EUA, pois minha família vivia em Los Angeles, mas se estivesse no Brasil ainda estaria envolvida com e-sport.

Alexandre Borba, “Gaules”

Ex-integrante do G3x, time de “Counter-Strike”
São Paulo, 30 anos, é um dos proprietários da agência X5, especializada em marketing de e-sport
Meu envolvimento com o e-sport começou em 1999, quando comecei a jogar e competir no "Counter-Strike". Desde lá sempre tentei me manter ligado a times e projetos da área.

A lembrança mais bacana era estar próximo aos amigos, competindo, viajando e realizando o sonho de muitas pessoas, que é fazer o que ama e receber pra isso. Sinto muita falta dessa época em que todos se conheciam pessoalmente, treinavam com o objetivo de ser campeões mundiais e ainda se divertiam muito.

Hoje, com a transmissão online ao vivo, muita coisa mudou: os jogadores e eventos se tornaram muito populares e acredito que dessa vez seja um caminho sem volta. Com isso é claro que as empresas que têm interesse nesse segmento também voltaram a investir em patrocínios e tudo parece estar bem encaminhado. O e-sport vai se aproximar muito do esporte convencional e quem fingir que isso não acontecerá vai ficar para trás.

Igor Campolina, "Hellghost";

Ex-jogador de "StarCraft"
Belo Horizonte (MG), 29 anos, sócio-diretor da agência SleepWalkers
Dediquei-me ao e-sport por cerca de oito anos, período do qual guardo ótimas lembranças, como as viagens e, claro, os bons amigos que fiz. Porém, o e-sport é algo que toma muito tempo, sendo impossível conciliar a carreira com um trabalho normal.

Tudo sempre dependeu e continua dependendo da iniciativa e investimento das empresas envolvidas: fabricantes de processadores, placas de vídeo, acessórios etc. E também de empresas para organizar eventos e potencializá-los junto à mídia, inclusive transmissões online e na TV.

É preciso potencializar os projetos para fomentar as empresas a investir. Me afastei do e-sport e hoje sou sócio-diretor da SleepWalkers, uma agência que trabalha com entretenimento, comunicação e cultura.