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Caçadores de troféus: conheça brasileiros fanáticos por "platinar" jogos

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

09/05/2014 12h26

As conquistas (ou “achievements”), introduzidas pelo Xbox 360 em 2005, figuram entre as principais inovações da chamada 7ª geração de videogames, formada pelo console da Microsoft, pelo PlayStation 3 e pelo Wii. As conquistas deram tão certo que logo a concorrente Sony lançou um sistema similar, com troféus, no PS3.

Conquistas mais difíceis

Ígara Ferreira
67 platinas
Wanted
"Joguei o modo história nove vezes, porque simplesmente não encontrava o último coletável".

Recordes e rankings sempre fizeram parte dos videogames, mas as Conquistas e Troféus, com a ajuda das redes online Xbox Live e PlayStation Network, transformaram os atos de perícia, que normalmente consomem horas e horas de jogatina extra, em algo social, para exibir a amigos e desconhecidos. “Antigamente você conseguia mostrar seus feitos apenas a amigos próximos, sem saber se o que tinha conseguido era relevante ou expressivo”, conta Roland Buchhaas Junior.

Roland, engenheiro eletricista de 40 anos, é um “caçador de troféus”. Dono de um PS3 desde 2008, ele se dedica a “platinar” os jogos, ou seja, conseguir o tão cobiçado troféu de platina, dado apenas quando o jogador consegue todos os demais - no Xbox 360, o equivalente é a gíria “milar”, que seria conseguir os mil pontos de Gamerscore que cada jogo oferece.

Com a bagatela de 247 platinas, Roland está entre os cinco melhores colocados no MyPST, site brasileiro que mantém rankings atualizados com os maiores caçadores de troféus do país. Ao todo, o MyPST agrega troféus de 62 mil proprietários de consoles da Sony – ou seja, PS4 e PS Vita também entram na jogada.

Conquistas mais difíceis

André Luiz Apolinário
281 jogos 'milados', GamerScore de 302.408 pontos

Deathsmiles
"Você tem que completar o jogo no nível de dificuldade mais difícil, jogando todas as fases e sem usar nenhum Continue".
Roland Buchhaas Junior
247 platinas

Wipeout HD
"No troféu 'Beat Zico' você precisa bater o tempo de um dos desenvolvedores do jogo numa corrida sob certas condições. Basicamente, é fazer uma volta perfeita... é doentio".

Democrático, o MyPST possui um ranking exclusivo para mulheres. Pois é, engana-se quem pensa que elas não são competitivas: “Da primeira vez que percebi um troféu aparecendo na tela, fui ver o que era. No minuto seguinte estava tentando conquistar todos os troféus do jogo e não parei mais”, lembra Vanessa Seif, 22, que estuda Administração de Empresas e possui no currículo 68 troféus de platina.

Para chegar aos 67 troféus de platina, Ígara Ferreira, 22, estudante de fotografia, fez sua dose de sacrifícios, como encarar – nas palavras dela – o “chato” modo Rumo ao Estrelato, de “Pro Evolution Soccer” e driblar o enjoo que sente ao jogar shooters em 1ª pessoa. O fato de ser mulher rende certa fama nas redes sociais: “Você meio que se torna um ícone, várias pessoas querem te adicionar, alguns até fazem grandes discursos sobre a admiração que sentem por eu ser uma mulher”.

“Milando” no Xisboca

No Xbox 360 não há troféus, mas há as tão populares conquistas, que funcionam um pouco diferente: cada uma delas rende um certo número de pontos para o Gamerscore e, em geral, os jogos possuem 1.000 pontos ao todo. Logo, a gíria “milar” é utilizada ao conseguir tal feito.

Conquistas mais difíceis

Vanessa Seif
68 platinas
Just Dance 3
"Dois troféus foram difíceis de conseguir: ganhar 5 estrelas em todas as músicas e fazer 100% de movimentos 'Perfect' e 'Good' em uma música".

Max Clayton S. França, 38, que trabalha em uma necrópole vertical e possui um Gamerscore de 294.600 pontos, é um especialista na arte de milar. Basta dizer que, desde 2006, ele já completou 350 games, trajetória que fez vítima sete (!!!) consoles Xbox 360, culpa das famigeradas Três Luzes Vermelhas.

Estudioso dos achievements, Clayton separa-os em dois grupos: “Há aqueles que demandam tempo, como jogos como foco no multiplayer em que é preciso dias ou meses de dedicação; e há os que dependem de habilidade, seja pelo nível de dificuldade ou por eventuais problemas técnicos do jogo”.

Houve tempos, bem antes das Conquistas e troféus, que o barato era “zerar” os jogos e manter um registro – normalmente, anotavam-se os nomes dos games no caderninho. André Luis Apolinário, 30, instrutor de autoescola, era um dos garotos que, na época do Master System, fazia isso. No PS2, ele chegava a gravar fitas de VHS com “gameplays”.

“Com o Xbox360 consegui unir o útil ao agradável: fazia tudo no jogo e ganhava as conquistas. Comprei uma placa de captura e passei a subir os vídeos de ‘gameplay’ no Youtube”, conta Apolinário, que ostenta um Gamerscore de 302.408 pontos e 281 jogos devidamente milados.

“Pode jogo ruim ou fácil, Arnaldo?”

Lançado em 2009, "Terminator Salvation" foi fracasso de crítica e vendas. Mesmo assim, fez sucesso entre os caçadores de troféus: com apenas quatro tipos de inimigos, bastava terminar os nove capítulos do jogo para completá-lo.

Conquistas mais difíceis

Max Clayton S. França
350 jogos ‘milados’ e Gamerscore de 294.600 pontos

Devil May Cry 4
"No modo 'Blood Palace', venci 101 ondas de inimigos com uma única barra de energia, sem usar itens, com dificuldade crescente e um chefe do jogo a cada 20 níveis".

Ígara é uma das caçadoras que possui a platina de "Terminator Salvation", mas jura que gostou do game: "Muita gente detesta esse jogo, é um jogo pobre, mas eu gostei. É uma questão de opinião". Ela não vê problema nenhum em completar títulos fáceis, mas evita os games ruins: "Para mim existe uma linha entre jogar por diversão e conquistar troféus".

Já Vanessa topa qualquer parada, sejam jogos fáceis ou ruins: "Tenho vários jogos que não teria comprado se não fosse pelos troféus". Tudo para se manter bem nos rankings: "Como é preciso ter muitos jogos, não dá pra selecionar somente os legais se você realmente estiver interessado nos troféus e nos pontos."

Para Roland, é preciso ser muito bom para chegar ao topo do ranking sem completar jogos fáceis: "Enquanto um jogo fácil pode ser platinado em uma hora, um difícil pode levar semanas ou meses, e ambos vão dar uma única platina cada", resume.


"Sou o maior Gamerscore do Brasil justamente por não completar os jogos. Tenho alguns amigos que só jogam para conquistar os 1.000 pontos. Acho legal, faz parte da diversão de cada um, mas isso pode prejudicar, pois de certa forma o gamer se torna 'escravo': deixa jogos de lado por causa do fator 'completar', fora que toma muito tempo".

"Não tenho a menor paciência de procurar colecionáveis escondidos e coisas do tipo: prefiro terminar o game e passar para outro. Jogar games ruins e fáceis é 70% do caminho para ter uma pontuação alta. Manter a 1ª posição, que ocupo há quatro anos, é uma meta, mas quero ir mais longe e chegar ao top 10 mundial, com 700 mil pontos".


- Arnaldo Montagnoli, o "ArnaldoDK", 1º colocado no ranking do MyGamerScore