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Brasileiro Guilherme 'rdein' Martins ganha fama indie com série "Momodora"

Victor Ferreira

do Gamehall

20/06/2014 10h30

A indústria de games brasileira não é exatamente o maior pólo em crescimento no mundo. Seja por falta de estrutura ou incentivo, é difícil ganhar a vida apenas como desenvolvedor de jogos no país. Ainda assim, isto não impede que muitos entusiastas procurem fazer seus próprios projetos, na medida do possível.

É o caso do estudante de 22 anos Guilherme Martins, mais conhecido por sua alcunha digital, rdein, e responsável pela série freeware “Momodora”, que já figurou em sites internacionais como Gamasutra como destaque na cena indie e terá seu terceiro jogo lançado pela plataforma digital Steam ainda neste ano.

A ideia de criar jogos surgiu cedo, por volta dos 10 ou 12 anos. “Creio que o interesse surgiu do meu apego aos videogames, sempre foi algo que eu gostei muito”, diz. “Fui aprendendo à medida que fui adquirindo mais experiência, aprendendo melhor como funcionam certas coisas, etc.”

Se estes projetos iniciais estão disponíveis em algum lugar, porém, não são por intenção de seu criador. “Tirei tudo do ar pra não precisar passar vergonha”, comenta rindo. De acordo com ele, a mesma sensação se aplica mesmo ao primeiro “Momodora”, mesmo com a reação positiva de membros da mídia especializada.

ASSISTA AO TRAILER DE "MOMODORA III"

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Dois jogos, dois anos

A inspiração de “Momodora” surgiu com clássicos como a série “Metroid” e “Zelda”, além de games com estética retrô, como “Cave Story” - cujas semelhanças com o jogo do brasileiro foram alvo de alguns críticos.

Lançado em 2010, o primeiro “Momodora” tem como protagonista a jovem Isadora, que desbrava uma região proibida em busca de algo que ressuscite sua mãe. A sequência, disponibilizada no ano seguinte, trazia uma nova protagonista, a sacerdotisa Momo, que deve derrotar as forças que assolam as vilas de sua região.

Embora os jogos tenham sido lançados em rápida sucessão, e há uma grande semelhança em sua estética, o foco da jogabilidade é bem diferente em cada um, com o primeiro dando foco à dificuldade e o segundo à exploração.

“A mudança principal é que o primeiro Momodora tinha um ‘feel’ mais arcade e tal. No segundo eu tentei deixar o jogo mais aberto, ao estilo do que chamam de Metroidvania”, diz rdein, que critica o próprio desempenho: “Não deu muito certo, eu acho, porque não tem um mapa gigantel”.

Mesmo assim, o jogo acabou chamando a atenção da mídia especializada, que elogiou o desafio, design de níveis e ambientes secretos, com diferentes objetos e armas a se adquirir, além de música e arte.

Parte do relativo sucesso, segundo o desenvolvedor, é o apelo nostálgico que atingiu a parcela do público, “No caso, essa galera que adora jogar um jogo retrô”.

Novos planos

“Momodora III”, que trará de volta a protagonista Momo, marca uma série de mudanças adotadas por rdein, que quer criar uma experiência com os pontos fortes de seus predecessores. “A influência principal agora é em level design interessante, com um sistema de itens e luta que complementam os combates.”

Além disso, ao contrário de seus antecessores, o jogo não será freeware, após ser votado pelo público como projeto digno de ser vendido na plataforma digital Steam, pelo programa Greenlight.

“O Greenlight foi uma ideia que veio do nada”, diz rdein. “A gente acabou testando e deu certo”. O sistema tem sofrido críticas nos últimos meses por criar um excesso de jogos em seu catálogo, mas o brasileiro se mostra feliz com o serviço. “Acho que a ideia é boa, mas talvez a Valve consiga ainda dar uma melhorada”.

“Momodora III” também é o primeiro projeto do coletivo conhecido como Bombservice, que começou como um canal de IRC entre rdein e alguns amigos. “Acabei envolvendo eles mais no processo de desenvolvimento do ‘Momodora III’, porque precisava de ajuda pra criar um jogo de qualidade mais alta”, diz o brasileiro. “Isso ajudou muito, e com certeza reduziu a carga de trabalho para mim”.

Planos no futuro

Se a ideia de utilizar um programa como o Greenlight surgiu “do nada”, rdein e seus amigos não tem planos de utilizar sistemas de crowdfunding como o Kickstarter para novos games, por ter receios quanto ao próprio desempenho.

“Minha opinião é que talvez um projeto impressione na aparência e induza você a pensar que um dia será terminado. É um risco que você paga. Mas terminar um jogo não é algo fácil, especialmente pra um time inexperiente”. rdein cita como exemplo o veterano estúdio Double Fine, que sofreu com atrasos e falta de orçamento após receber milhões para o projeto “Broken Age”.

rdein também não chegou a considerar outras formas de financiamento público, como doações por PayPal ou o site Patreon. Por enquanto, os jogos não renderam um reconhecimento do brasileiro na indústria além de alguns “e-mails suspeitos”, e quando perguntado se sua experiência pode render algum emprego no futuro, responde de forma bem-humorada: “Só se quem for me contratar necessitar de serviço de design/arte” declara, rindo.

Agora, o foco é terminar o novo jogo. Depois? “Dormir”.

“Mentira, ‘Momodora 4’”.

Para conhecer mais sobre os jogos de rdein e o Bombservice, é só acessar o site aqui.