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Jogamos: com dificuldade elevada, "Alien: Isolation" bota medo no jogador

Victor Ferreira

do Gamehall

22/08/2014 17h44

O alarme de quarentena dispara. Parte do teto desaba. Uma leve cortina de fumaça cobre momentaneamente a área antes da figura negra surgir, deslizando para o chão antes de se desenrolar lentamente, até sua imponente figura ficar completamente visível.

Esta é a primeira visão da criatura de "Alien: Isolation" durante o demo testado por UOL Jogos. É certamente uma entrada memorável, podendo ser apreciada apenas pelo cantos ou por baixo de uma das camas largadas pela área, por não se querer chamar a atenção da fera.

Infelizmente,depois da terceira (ou décima) vez após ser brutalmente assassinado pelo Alien, a mesma visão perdeu parte do impacto. "Alien: Isolation", pelo que foi visto até agora, promete ser um jogo brutalmente difícil, e não fossem as dicas e ajuda do diretor criativo Alistair Hope, é possível que eu não tivesse chegado ao final do demo.

Esta dificuldade preocupa um pouco, pois o que começa como terror pode facilmente tornar-se frustração e raiva. Mas, quando acerta no ponto, o novo jogo da Creative Assembly é uma experiência tensa e horripilante, em que a frieza e decisões rápidas podem significar a diferença entre a vida e a morte.

  • 15 anos depois de "Alien", Amanda Ripley quer saber o que aconteceu com a mãe

À procura de Ripley

O demo de "Isolation" começa em algum momento da primeira metade do jogo, quando a protagonista Amanda Ripley, filha da icônica heroína interpretada por Sigourney Weaver no cinema, começa uma procura por medicamentos na estação espacial Sevastopol, para ajudar uma colega ferida.

A ideia de trazer a filha de Ripley, assim como boa parte da idealização de um game inspirado no primeiro "Alien" surgiu do próprio Hope. "É basicamente culpa minha", brinca. O jogo se passa entre os eventos dos dois primeiros filmes, com Amanda à procura do que realmente aconteceu com sua mãe e o resto da tripulação da espaçonave Nostromo.

Inicialmente, Hope temia a reação da 20th Century Fox, que poderia facilmente negar o uso da personagem para "Isolation". De acordo com o diretor, porém, tanto a produtora quanto a publisher Sega foram bem receptivos à ideia.

Junto de sua equipe, Hope, um grande fã do original de Ridley Scott, procurou recriar a estética "anos 70" vista em "Alien: O Oitavo Passageiro" nos mínimos detalhes, e julgando pela seção de testes a Creative Assembly completou o objetivo com louvores. Toda a ambientação - desde salas passando por computadores com monitores CRT até o vestuário dos personagens - remete ao estilo do primeiro filme, e a versão testada no PS4 mostra estes aspectos em detalhes.

A tecnologia utilizada por Amanda também segue esta visão, sendo completamente analógica - tendo de puxar várias alavancas e apertar diversos grandes botões. O sensor de movimento, que faz parte de uma das cenas mais tensas do original, segue o mesmo exemplo: Tanto a criatura quanto os humanos são representados por pontos ao se movimentar. Infelizmente, o sensor não indica em qual nível está o indivíduo, e deixa de marcar a posição no momento em que ele parar. Ainda assim, ele será sua maior arma para sua sobrevivência, ajudando a (mais ou menos) indicar quando ou não seguir em frente.

Infelizmente, se decidir seguir em frente no momento errado, você já morreu.

  • Quer sobreviver? Conheça seu novo melhor amigo, o sensor de movimento

Não vou mentir sobre suas chances…

Vamos tirar isso do caminho: Se o Alien ver Amanda, o jogo acabou. Ele é mais rápido e ágil que a personagem, e é capaz de matá-la em um golpe. O bicho também é completamente imprevisível, movimentando-se em padrão aleatório: Às vezes, por exemplo, ele ronda as salas à procura de sua vítima, enquanto outras prefere ficar de tocaia em um vão no teto.

Isto já se tornou óbvio no primeiro encontro do demo: Boa parte do tempo, fiquei parado e em posição de agachamento com o sensor de movimento na tela a todo o momento, rezando para que o monstro não viesse em minha direção. Ficar parado por muito tempo só acaba tornando Amanda uma presa mais fácil, e as primeiras vezes em que tentei passar pelo primeiro encontro terminou em fracasso.

Hope ofereceu ajuda, e ao tomar o controle foi bem mais assertivo em seus movimentos. Sempre que o Alien saia do campo de visão do sensor de movimento, o diretor fazia com que Amanda andasse - nunca corresse - em direção ao objetivo. A pouca iluminação e os ambientes um tanto similares ajudam com a sensação de desorientação, então é necessário tentar encontrar os mapas da estação o mais rápido possível.

O ALIEN E OS GAMES

  • Reprodução

    Não é de hoje que o Alien aparece nos games. A criatura já estrelou jogos em quase todas as plataformas. Na foto, "Aliens 2" (MSX), da Square.

O diretor também mostrou talvez o aspecto mais importante de como jogar "Isolation" com mais (relativa) tranquilidade: Salve quando puder, assim que puder.

O jogo não possui um sistema de 'auto-save' ou 'quicksaves', e seu progresso só é guardado ao acessar um dos telefones de emergência que ficam nas paredes da estação. É preciso manter os olhos atentos para estes (literais) salva vidas, ou o jogador poderá perder bastante progresso.

O próprio processo de salvar é aterrorizante. Por causa da tecnologia analógica, os computadores e aparelhos demoram a pegar no tranco, e do momento em que Amanda insere o keycard no telefone até o momento em que a tela de salvamento aparece, passam-se cinco segundos tensos. É possível que a criatura ataque logo após o save mas, em sua benevolência, a Creative Assembly alterna sua posição na nova vida.

"O desafio é tentar manter a calma", disse Hope. "Algo que nem mesmo eu consigo fazer".

VEJA TRAILER DE "ALIEN: ISOLATION" DA GAMESCOM

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No fim, o próprio diretor do jogo não conseguiu escapar das garras (e rabo) do Alien, mas me deu noção o suficiente do que fazer para seguir em frente. Mais tarde, foi a vez de ver como os outros inimigos - humanos e androides - reagem ao ver a jovem Ripley. Como com o monstro, a melhor forma de lidar com eles é evitá-los, mas ser visto por um deles não é a sentença de morte do primeiro caso.

Humanos, por exemplo, podem simplesmente pedir para que Amanda se afaste, e o encontro pode terminar sem derramamento de sangue. Já androides podem ignorar a presença da protagonista. Ainda assim, caso tornem-se hostis, Amanda tem ao menos alguma chance de revidar, seja com seu revólver - embora a chance de achar balas na estação seja pequena - ou por uma série de apetrechos adquiridos ou fabricados pela heroína, que também podem ser usados para distrair o Alien.

Ou… É possível tentar utilizar o próprio Alien para fazer o seu trabalho sujo. "Tentar" sendo a palavra-chave. Ao jogar um aparelho que faz barulho perto de outro inimigo, a criatura pode ir atrás dele… Ou não. O jogador também deve ser extremamente cuidadoso ao mirar o acessório, do contrário são boas as chances de ele ricochetear de volta para você. Atirar com sua pistola já é um risco considerável, já que o som pode atrair o bicho na sua direção.

E este, talvez, seja a força do jogo: É impossível prever as ações do Alien, o que pode ajudar ou prejudicar seu progresso no game. Nas últimas duas salas, a criatura preferiu se manter nos dutos. Sua presença ainda era sentida pelo sensor de movimentos - o que sempre deve deixar qualquer um ligado - mas nunca decidiu mostrar as caras. Hope se mostrou surpreso “Em geral as pessoas tem encontros bem tensos com o Alien por aí”.

Quanto disso é um bug e quanto é a inteligência artificial do monstro ainda há de ser visto, mas é ao menos preferível a sequências pré-programadas (o que, para ser justo, também acontecem em “Isolation”, mas em uma quantidade significativamente menor).

Ninguém vai ouvir você gritar

Ao fim de minha sessão com "Alien: Isolation", não pude deixar de ficar animado com o jogo, que consegue capturar perfeitamente o ambiente e a atmosfera do filme original, assim como o terror de ser perseguido por uma criatura implacável.

Hope diz estar ansioso para ver as reações de jogadores em sites de streaming como o Twitch, e até ele mesmo, que idealizou o jogo, continua sendo afetado: Durante uma sessão em que estava em controle de Amanda fugindo do Alien, outra pessoa na sala mexeu sua cadeira um pouco alto demais, fazendo Hope praticamente saltar de sua cadeira com o susto.

O problema da frustração com o desafio, porém, ainda é notável: Consegui terminar o demo em cerca de três horas, mas apenas após baixar a dificuldade para médio e com dicas e ajuda de um dos criadores do game, este último um luxo para poucos. Será que continuaria agachado e andando lentamente como nas primeiras tentativar de evadir o Alien? Teria tentado utilizar os telefones para salvar o jogo durante os encontros? Ou notado que, quando a criatura está de tocaia em um dos vãos do teto, uma gosma indica sua presença?

A esperança é de que a equipe da Creative Assembly consiga balancear o desafio com o horror na versão final do jogo, pois em seus pontos altos, "Alien: Isolation" consegue ser um dos games mais tensos e aterrorizantes já criados.

Sai em outubro

Mas só saberemos em 7 de outubro, quando "Alien: Isolation" chegará ao PC, PS3, PS4, Xbox 360 e Xbox One. O jogo será totalmente traduzido em português (Infelizmente não posso dar minhas impressões sobre a qualidade da tradução, já que o build trazido pelo estúdio estava em inglês).