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Para tentar aparecer em games, Curitiba desenvolve réplica 3D da cidade

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

27/08/2014 12h55

Mais conhecida como "capital ecológica" ou pelo eficiente sistema de transporte, Curitiba, capital do Paraná, agora quer ser reconhecida como "cidade nerd". E um dos projetos para atrair a atenção do público tecnologicamente antenado é levar a cidade para dentro dos games.

O projeto "Cidade Virtual" da Secretaria de Tecnologia e Informação de Curitiba faz parte do plano diretor da cidade e envolve mapear a capital paranaense em um banco de dados digital, que poderá ser utilizado por qualquer produtor de jogos, desde pequenos estúdios independentes até grandes desenvolvedoras.

As primeiras maquetes eletrônicas de edificações já estarão disponíveis até o final deste ano.

"Começaremos no segundo semestre de 2015 a modelagem 3D da cidade e a cada nova etapa, disponibilizaremos para o público os resultados. Toda a cidade, acreditamos, estará disponível já no primeiro semestre de 2016", disse o diretor de planejamento e políticas da Secretaria, José Maria Pugas Filho, em entrevista ao UOL Jogos.

  • Rafael Forte/Divulgação

    "Quero ver uma recriação fidedigna da cidade, que passe a imagem correta para o mundo, independente do jogo em que for utilizada", diz José Pugas.

Mas o que a capital do Paraná ganha com isso? Segundo Pugas, a intenção vai além de divulgar melhor a imagem da cidade em produtos culturais, mas também incentivar a cultura de jogos, reter os talentos formados em Curitiba (duas das principais faculdades de games do Brasil estão lá) e atrair os estúdios para a cidade.

"A modelagem 3D de Curitiba, feita em parceria com desenvolvedoras de games e faculdades locais, será posteriormente liberada como um banco de dados gratuito", explicou o diretor. "Com isso, os estúdios poderão utilizar a cidade como cenário em jogos".

"O maior atrativo para os desenvolvedores é diminuir o custo de produção", diz Pugas. "Jogos como 'GTA V' e 'Skyrim' custam milhões e parte desse custo está no mapeamento e construção do cenário". A informação vem de relatórias da ESA (Entertainment Software Association) e dados divulgados pelas produtoras.

Retenção de talentos

Ao incentivar a imagem de Curitiba como uma cidade 'gamer friendly' (amigável para os games), a Secretaria espera reter parte dos profissionais formados nos cursos de design de jogos da PUC-PR e do Positivo, entre outros cursos de jogos.

"Hoje, boa parte dos profissionais que se formam aqui vão para São Paulo ou para os EUA".

O mapeamento 3D de Curitiba para uso em jogos envolve uma colaboração com as universidades PUC e Positivo, além de produtores de games curitibanos. A Secretaria de Informação e Tecnologia da cidade também afirma que a Microsoft está envolvida no projeto.

A comunidade de desenvolvedores em Curitiba é composta de produtores independentes. Não é a toa que a capital do Paraná sedia a maior Global Game Jam do Brasil, com 414 participantes na edição mais recente. "Para dialogar com todos, estamos juntos com a IGDA (International Game Developers Association), que mantém um capítulo bem ativo em Curitiba, e as universidades PUC e Positivo".

"Contamos também com a Microsoft para acelerar nosso APL (Arranjo Produtivo Local) de jogos, que está sendo elaborado junto a entidades como FIEP, Prefeitura e SEBRAE, além das próprias universidades. Nesta APL queremos não somente beneficiar os jogos eletrônicos, mas também os card games e jogos de tabuleiro", explica Pugas. 

Retrato fiel, mas com liberdade criativa

Em 2012, São Paulo foi cenário para o violento "Max Payne 3", uma grande produção da Rockstar Games (a mesma de "GTA").

  • Divulgação

    São Paulo foi cenário para a violenta trama policial de "Max Payne 3", da Rockstar Games

Mesmo tomando várias licenças poéticas com relação a capital paulistana, quem conhece a cidade rapidamente vê marcos como o estádio do Morumbi, casas noturnas e bairros da periferia como palco para os violentos tiroteios e a trama brutal do jogo.

E se Curitiba for retratada assim em um jogo? "O cenário não é o responsável pela violência", diz Pugas. "Nova York é cenário de filmes românticos, suspenses e violentos. Não somos nós que definimos o que criativo faz com o cenário. Da mesma forma, quem define o sucesso da obra é o público".

Para o diretor, a representação da cidade depende muito da imagem que é transmitida para o mundo. "Se essa é a imagem de São Paulo fora do Brasil, esse é o tipo de jogo que é criado".

"Quero ver uma recriação fidedigna da cidade, que passe a imagem correta para o mundo, independente do jogo em que for utilizada", diz Pugas.

A utilização da maquete 3D da cidade em jogos segue a Política de Dados Abertos do Município, no qual todos os usos dos dados estão sob responsabilidade do desenvolvedor. "Não cabe a nós criarmos regras de uso de dados que, em essência, já são públicos. Seria uma barreira ao livre empreendedorismo do qual as novas economias dependem".