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Brasileira cria jogo de realidade virtual que homenageia videogames antigos

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

24/10/2014 08h12

Você abriria mão de um belo negócio em ascensão para morar fora do Brasil e seguir o sonho de criar seus próprios jogos de videogame?

Esse foi o desafio que a maranhense Ana Ribeiro encarou ao fechar um próspero negócio de venda de empadas em São Luís, pedir demissão do emprego como servidora pública e embarcar para a Inglaterra para aprender a programar games.

Até agora, o resultado da empreitada é "Pixel Rift", um jogo sobre jogar videogame feito para o visor de realidade virtual Oculus Rift.

"Desde criança sempre joguei videogame, mas nunca tinha pensando em fazer jogos", explica Ana em entrevista ao UOL Jogos.

"A ideia veio mesmo quando estava fazendo um curso para saber como aprimorar o negócio de empadas e perguntaram o que gostaria de estar fazendo daqui 15 anos e eu percebi que não queria estar fazendo a mesma coisa. Quando parei pra pensar, percebi que eu queria tentar criar games e esse era o momento pra tentar isso".

Das empadas para o Oculus

Hoje Ana estuda na National Film and Television School, em Beaconsfield, na Inglaterra, onde está fazendo mestrado. "Pixel Rift" é justamente seu trabalho de conclusão de curso.

"Desde a primeira vez que testei o Oculus Rift eu queria fazer algum jogo de realidade virtual, mas nunca tinha oportunidade, os trabalhos do curso nunca permitiam", explica ela. "Como o trabalho de conclusão é livre, posso fazer o que quiser, decidi criar algo para o Oculus".

Mais do que simplesmente trabalhar com a nova tecnologia, Ana decidiu fazer algo que explorasse a imersão única que a realidade virtual oferece.

Assim, decidiu homenagear a paixão que tem por videogames desde criança, quando começou a jogar em um antigo Odyssey ao lado dos irmãos e primos mais velhos, e criou um jogo sobre jogar videogame.

  • Em alguns momentos de "Pixel Rift", os personagens do videogame invadem a 'vida real'

Criando um game sobre jogar videogame

Cada fase de "Pixel Rift" apresenta uma época e um videogame diferente, narrando o crescimento de uma menina desde criança até a fase adulta.

Nos níveis o objetivo é vencer a fase no videogame enquanto lida também com obstáculos na 'vida real'. A fase disponibilizada para teste mostra a protagonista em uma sala de aula com um portátil ao estilo Game Boy escondido debaixo da carteira.

O desafio é jogar no portátil quando a professora não estiver olhando para os alunos e esconder quando ela se vira, para não levar bronca, claro.

Toda a parte de programação é de responsabilidade de Ana, que está fazendo "Pixel Rift" no motor gráfico Unity. Um artista de outra universidade ajuda nos gráficos em 2D enquanto outros colegas ajudam no restante.

"Aqui há também cursos pra roteiristas, compositores musicais e mais e todo mundo se ajuda. Uma vez por mês, mais ou menos, eu me encontro com um roteirista que me ajuda com as histórias do 'Pixel Rift' e a música é também de um aluno daqui", conta Ana.

VEJA COMO FUNCIONA UMA FASE DO "PIXEL RIFT"

Quando sai? Posso jogar?

EXPERIMENTE O JOGO!

Divulgação
Ficou curioso? Dá para testar uma fase do "Pixel Rift" de graça, basta baixar a demonstração no site oficial do game. Caso você seja um feliz dono de um kit de desenvolvimento do Oculus Rift, dá para experimentar o game em sua plenitude, mas há também uma versão adaptada, que funciona com teclado, mouse e monitor convencionais.

CLIQUE AQUI PARA BAIXAR

"Pixel Rift" tem lançamento planejado para 2015.

"Minha ideia é lançar até o meio do ano que vem e talvez, depois, lançar novos episódios pra download, mostrando diferentes épocas e videogames", revela Ana.

O game está em desenvolvimento para Oculus Rift, mas o Project Morpheus, da Sony, não é carta fora do baralho.

Segundo Ana, alguns executivos da Sony já viram o game e o papo deve continuar no futuro para talvez lançar o game para os futuros óculos de realidade virtual do PS4.

Aliás, Ana também cogita lançar uma versão de "Pixel Rift" adaptada para funcionar sem qualquer óculos de realidade virtual - a exemplo da demonstração que ela já disponibilizou de graça para baixar.

"O jogo foi projetado para a realidade virtual e funciona muito melhor desse jeito, é assim que ele foi pensado. Mas entendo também que muita gente pode acabar ficando sem jogar pois deve demorar para o Oculus Rift e outros óculos ficarem populares", reflete a programadora.

POLIVALENTE

ReproduçãoAna é do tipo que encara qualquer trabalho. Formada em psicologia, trabalhou durante cerca de cinco anos como funcionária pública.

No mesmo escritório, começou a vender empadinhas que fazia em casa. O negócio cresceu e fez tanto sucesso que ela começou a ir fora do horário de expediente para vender os quitutes. Pouco depois criou a marca Kero Maiz e já estava vendendo empadas para lanchonetes de São Luís.

Quando decidiu se mudar para Inglaterra, Ana vendeu sorvetes, trabalhou em lojas de videogame (inclusive fazendo cosplay no lançamento de "Skyrim") e até dançou dança do ventre para juntar uma grana extra e bancar os estudos.

Ah, e durante a adolescência ela foi cyber-atleta: Ana fez parte do time Myth.Ladies, de "Counter-Strike".