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Nintendo fora do Brasil não muda vidas dos fãs, que já eram negligenciados

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

14/01/2015 18h18

A saída da Nintendo do mercado brasileiro não deve criar ainda mais inconveniências para um público cativo, que já vinha sendo negligenciado pela empresa em meio a atrasos e produtos que simplesmente não davam as caras por aqui.

Mesmo enquanto a Gaming do Brasil representava oficialmente a empresa no Brasil, fãs locais já precisavam recorrer a meios 'alternativos' para obter vários produtos Nintendo.

Em um primeiro momento, a notícia ruim muda pouco a vida dessas pessoas, mas também torna ainda mais distante uma possível solução para os problemas que já as afligem.

Vendas como sempre

O discurso dos lojistas da Santa Ifigênia - um dos principais centros comerciais de eletrônicos de São Paulo - é uníssono: para eles, nada muda com a saída da Nintendo do mercado nacional.

Em uma loja que exibia cópias americanas de títulos de Wii U e 3DS recém-lançados como "Super Smash Bros. for Wii U" e "Pokémon Alpha Sapphire", um vendedor que não quis se identificar explicou: "Os jogos que importamos por conta própria costumavam chegar antes dos que a Nintendo trazia".

Os preços são os mesmos. Assim como os games lançados pela Gaming ao longo de 2014, os que podem ser encontrados em lojas como as do centro de São Paulo saem na faixa de R$ 150 a 180.

O mesmo vale para consoles. O Wii U, por exemplo, pode ser achado com facilidade por algo em torno de R$ 1.400.

UOL Jogos procurou lojistas oficiais, mas nenhum sentiu-se à vontade para falar sobre o assunto. Sob anonimato, o proprietário de uma grande revenda que costumava comercializar jogos da empresa disparou: "Como podem culpar o Governo? Não mudou nenhum imposto recentemente, e a situação da indústria é a mesma para Sony e Microsoft".

"Para os lojistas, as condições de compra sempre foram arbitrárias e as margens mínimas. O que muda agora? Vai ter o produto só no mercado informal, mas no fundo já era assim".

  • Até hoje o Wii U brasileiro não tem acesso à loja digital eShop

O fator digital

Mais de um ano após o lançamento do Wii U no Brasil, o aparelho ainda não tem uma loja digital para usuários do país.

No 3DS, que tem tal loja, certas regulamentações estipuladas por bancos em 2013 ainda impedem o uso de cartões de crédito brasileiros (nacionais ou internacionais) para a compra de downloads de games. Vale notar: Sony e Microsoft adaptaram as lojas de suas respectivas plataformas para se adequar às regras em menos de um mês.

Para quem compra jogos digitais no Brasil, também, nada muda. Usuários costumam utilizar contas canadenses em seus sistemas, pois o eShop daquele país permite o uso de cartões internacionais brasileiros, tanto no Wii U como no 3DS.

  • A Nintendo acaba de anunciar novos amiibos... Que talvez nunca cheguem ao Brasil

A questão amiibo

Se consoles e jogos continuarão aparecendo nas lojas mesmo com a saída da Nintendo, o mesmo não pode ser dito sobre os amiibos.

Lançados pela primeira vez no fim do ano passado, os amiibos são pequenos bonecos de personagens Nintendo que servem como coletáveis e também interagem com jogos de Wii U e 3DS através da tecnologia NFC. Lá fora, eles são vendidos por US$ 13 cada - mas não estão disponíveis por aqui.

Nas mesmas lojas da Santa Ifigênia que vendem outros produtos Nintendo, ninguém fala de amiibo. Um vendedor admite que provavelmente não os venderá porque "importar brinquedos é mais difícil". Ele sugere uma outra loja próxima, que dá a mesma desculpa e, por sua vez, aponta um outro estabelecimento.

Após andar por várias galerias e lojinhas e não achar nenhum sinal dos bonecos, fica a impressão de que fãs brasileiros precisarão recorrer a lojas de importação para obter suas próprias miniaturas. E o preço atrapalha: comprando da Amazon americana, uma miniatura sai por mais de R$ 100 quando consideramos os tributos.

  • Última participação da Nintendo em um Brasil Game Show foi em 2012

Abandono

Apesar de sempre dizer que "o mercado brasileiro é muito importante", a Nintendo vem há anos dando sinais de que se distanciava do país.

Após ter apresentado o Wii U durante o Brasil Game Show 2012, a empresa não marcou presença nas últimas duas edições da feira, alegando que suas transmissões Nintendo Direct servem como maneira de informar os fãs brasileiros sobre novos lançamentos - apesar de os vídeos não terem versão em português do Brasil.

Em 2013, o presidente da divisão americana da Nintendo, Reggie Fils-Aime, afirmou que o Wii U e o 3DS não eram produzidos no Brasil porque o país não tem a capacidade de fazê-lo.

Pouco antes da E3 2014 a Nintendo chegou a mencionar a ideia de lançar plataformas especificamente voltadas para mercados emergentes como o brasileiro. Em entrevista recente, porém, a empresa negou ter novas informações a respeito da possibilidade.

Logo após a Nintendo anunciar o término da parceria com a Gaming do Brasil, culpando altos impostos, fãs bombardearam a página da empresa no Facebook com a hashtag #NintendoComeToBrazil. Uma presença direta da Big N no país talvez seja mesmo a maneira mais eficaz trabalhar o mercado, mas por enquanto não passa de um sonho.