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Jogador já economizou R$ 5.000; saiba como compartilhar jogos digitais

Luiz Hygino

do Gamehall

21/01/2015 13h59

Joãozinho é fã de videogames, assim como Carlinhos, Juquinha e Anchovinhas, seus melhores amigos. Cada um deles ganhou um cartucho diferente no Natal, o que para os quatro é motivo de comemoração. Fazendo uma espécie de rodízio, os jogos serão emprestados entre todos, que viverão felizes para sempre. Provavelmente. Ou não.

A situação, comum entre gamers mais velhos - ou nem tão velhos assim - foi se tornando cada vez mais rara nos tempos atuais, especialmente porque a tradicional mídia física vai se tornando mais rara em consoles e computadores.

Mas compartilhar é preciso, e hoje, donos de consoles e computadores já conseguem dividir seus jogos com amigos, familiares ou desconhecidos também fãs do compartilhamento, que não abrem mão da chance de poupar uma boa grana na hora de comprar jogos.

Ilegal, imoral ou engorda?

Ao mesmo tempo que os jogos digitais vão ganhando importância no mundo, ganham importância, também, as lojas virtuais de games. A Sony, e sua rede PlayStation Network, têm a PS Store; a Xbox Live, rede da Microsoft, tem a Xbox Store; e no PC, quem reina praticamente absoluto é o Steam, serviço que mistura gerenciador de jogos e loja digital.

Em todos eles, o compartilhamento de jogos existe. Na teoria para que o próprio jogador possa acessar sua conta em outras máquinas, ou dividir jogos com familiares. Mas, na prática, as pequenas brechas nas regras de uso dos serviços garantem economia a centenas e centenas de jogadores.

Pensando no coletivo

Quando um usuário de Xbox One ou PS4 cria uma conta nas respectivas redes de cada console, ele precisa definir um aparelho principal para a conta. A decisão mais óbvia, nesse momento, seria escolher o aparelho do qual o usuário é dono e que está na casa dele, afinal de contas, esse é o console dele, certo?

Nem sempre.

O QUE É O USUÁRIO FANTASMA?

O famoso "Usuário Fantasma" é a primeira pessoa que faz o download de um jogo nos sistemas de compartilhamento, e em seguida é desvinculado da conta exclusiva do jogo pelos outros envolvidos no processo. Com o jogo instalado no HD do console, ele consegue acessá-lo usando qualquer outra conta, inclusive colecionando troféus e conquistas.

Ao definir um console como o videogame principal de uma conta, e consequentemente uma conta como a principal de um console, todos os jogos dessa determinada conta se tornam automaticamente disponíveis para qualquer outro usuário que acesse o videogame citado.

Assim nasce a mais comum técnica de compartilhamento de jogos. Um amigo A, dono de um console A, cria uma conta A numa das redes citadas acima, PSN ou Xbox Live. Um amigo B, dono de um console B, cria uma conta B.

O amigo A configura o console B como o videogame principal da conta A. O amigo B configura o console A como o aparelho principal da conta B. Apesar de nunca acessarem os consoles principais de suas contas, tanto o amigo A quanto o amigo B ganham livre acesso a todos os jogos comprados nos dois aparelhos.

Tempos de bonança

Houve uma época em que até cinco amigos conseguiam dividir jogos em suas contas no PS3 (graças à técnica do “Usuário Fantasma”), aumentando bastante a economia na compra de jogos. Foi justamente essa vantagem que atraiu Anderson Costa, empresário de 43 anos ao mundo do compartilhamento.

“Conheci o compartilhamento pela internet, através de amigos. Chegamos a ter grupos de compras. O que me incomodava era a necessidade de ‘fazer um gato’ para compartilhar. Mas quando conseguia dividir os R$ 150, R$ 200 em 5 amigos, valia a pena. Só pensava em jogar de tudo pagando até R$ 40 por jogo”, explicou Anderson.

Um dos problemas é que, com a diferença gritante de preço e a dificuldade em orquestrar a prática do compartilhamento, muitas pessoas passaram a vender códigos de jogos compartilhados pela internet, em sites como Mercado Livre e eBay, com preços muito superiores aos R$ 40 experimentados por amigos, como Anderson e sua turma. A prática existe até hoje, mas com divisões restritas a três usuários. O maior trabalho, no caso, é que para cada jogo comprado os usuários precisam criar uma conta exclusiva, e novamente usar a técnica do “Usuário Fantasma”.

"Hoje a compra acontece entre usuário A, usuário B e um fantasma. O usuário A cria a nova conta, exclusiva para o jogo e para o compartilhamento, e pode baixar o jogo quantas vezes quiser, além de conseguir jogar em sua conta principal e pegar troféus e conquistas. O usuário B pode baixar o jogo quantas vezes quiser, mas apenas nessa nova conta exclusiva, sem acesso a troféus. Já o usuário fantasma baixa o jogo uma vez, apenas, sem poder deletá-lo, mas também consegue acessá-lo de sua conta principal, com possibilidade de conquista de troféus", explicou Giuseppe Carrino, jogador de 32 anos, quase sempre o "Fantasma" dos grupos que participou.

"Num jogo que custa US$ 60, por exemplo, o usuário A paga US$ 30, o usuário B paga US$ 10 e o Fantasma paga US$ 20, de acordo com o que cada um pode fazer com o jogo", completou.

  • Sites de venda online estão recheados de ofertas de jogos compartilhados a preços baixos

A todo vapor

Nos computadores, o Steam permite o compartilhamento da biblioteca de jogos de contas. De acordo com a descrição oficial do serviço da Valve, o objetivo é favorecer parentes ou amigos próximos. Cada conta pode compartilhar sua biblioteca com outros cinco usuários, em até dez máquinas diferentes, contando os computadores usados pelo usuário original. O problema é que a biblioteca não funciona simultaneamente em máquinas diferentes. A cada vez que alguém acessa a biblioteca de uma pessoa que já está em jogo, o jogador é "derrubado".

"Hoje o Steam é a única plataforma onde compartilho jogos, com três amigos. Com um deles, inclusive, sempre me organizo para que apenas um dos dois compre esse ou aquele jogo, ao invés de apenas uma pessoa comprar todos os jogos", explicou Giuseppe Carrino, jogador que garante já ter economizado mais de US$ 500 em jogos. "A diferença é que no Steam você realmente precisa de pessoas de confiança, pois é preciso logar com usuário e senha para autorizar o compartilhamento em outras máquinas". Giuseppe e seus três amigos têm acesso a todas as bibliotecas do grupo.

"Tomara que Origin e outros serviços sigam o exemplo", torce Giuseppe.

  • Títulos curtos e single player, como "The Walking Dead", são os mais indicados para compartilhamento através do Steam, segundo os entrevistados por UOL Jogos

Tudo vale a pena?

"Nunca compartilhei os jogos com gosto. Sentia que era imoral. Acredito que é preciso gastar dinheiro com jogos. Existe todo um mercado que gira em torno disto, que precisa dos recursos. Os estúdios fazem grandes produções e isto tem um custo enorme. Se não há o retorno esperado, eles tendem a fechar", concluiu Anderson, que calcula já ter economizado mais de R$ 5 mil.

“Nunca tive receio ao fazer o compartilhamento, mas também não me sentia muito correto. É uma questão bastante pessoal, mas, do meu ponto de vista, é subverter uma condição que a empresa te proporciona para casos específicos. Mas com o preço dos jogos no Brasil, entendo o motivo das pessoas. Não condeno ninguém”, diz Jonas Fortes, publicitário de 36 anos, que depois de anos de compartilhamento, hoje não divide mais jogos com ninguém. “O compartilhamento requer um mínimo de dedicação, e eu não estava com tempo para isso”.

"Vale muito a pena. Diversão garantida por um preço que não pesa no bolso", garante Giuseppe.